A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), por intermédio do Grupo de Estudos dos Sistemas Educacionais (GESEd) da Faculdade de Educação (FE/UFRJ) e do Observatório da Laicidade do Estado (OLE), realizou na última quarta-feira, dia 15, o evento “Os militares e a educação brasileira”. Especialistas da área discutiram a relação dos militares com o sistema de ensino no país do século XIX até a ditadura militar (1964-1985).
O debate atraiu a atenção de estudantes e pesquisadores na Sala Anísio Teixeira, no campus da Praia Vermelha. O evento teve a parceria do Laboratório de Estudos sobre os Militares na Política (LEMP), do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS/ UFRJ), e do grupo Memória, História e Produção do Conhecimento em Educação (MEHPCE), da Universidade Federal Fluminense (UFF).
Coordenado pelo professor Luiz Antônio Cunha, da FE/UFRJ, o encontro teve como palestrantes Renato Lemos, professor do IFCS/UFRJ, Claudia Alves, professora da UFF, e José Antônio Sepúlveda, doutorando e pesquisador do OLE e GESEd/UFRJ. Cada participante apresentou pesquisas que retratam diferentes períodos históricos.
A professora Claudia Alves abordou as tentativas de autonomização do campo educacional ainda na primeira metade do século XIX pelos militares. Segundo ela, o Exército teve papel central como agente de escolarização neste período. Já o pesquisador José Antônio Sepúlveda apresentou alguns resultados preliminares da sua pesquisa de doutorado sobre a revista Defesa Nacional, editada por militares. Seu objetivo é compreender a leitura que o campo militar fazia da educação no Brasil.
Já o historiador e professor da UFRJ Renato Lemos apontou algumas possibilidades metodológicas para o estudo da temática militar na educação ou em qualquer outro campo de conhecimento. Sobre o movimento militar que derrubou o regime constitucional de João Goulart, em 1964, defendeu que a análise deve ser feita sempre na perspectiva da longa duração. Nesse sentido, para se compreender a ditadura é preciso resgatar outros momentos históricos emblemáticos, como as duas grandes guerras, o contexto da Guerra Fria e a inserção de novos grupos sociais pressionando o campo político em 1964.
A educação, concluiu Lemos, foi fundamental como um dos mecanismos de legitimação do regime. “Uma nova ordem não se estabelece apenas por coerção, mas se internaliza através de outros mecanismos”, afirmou o professor, acrescentando ter interesse especial, em suas pesquisas, nas continuidades de práticas adotadas no passado pelos militares no tempo presente.