O deputado federal e ex-Governador do Ceará Ciro Gomes propôs a busca de um novo conceito de felicidade na aula inaugural do programa de Pós-graduação em Informática, no início da tarde de segunda-feira (27/4), no auditório do Roxinho. Para ele, o conceito de que ela está contida no poder de consumir produtos e serviços desenfreadamente, como infundiram os neoliberais, deve acabar, assim como o modelo econômico, que ruiu com a crise internacional.
O caminho, de acordo com Ciro Gomes, passa por dois pontos: educação e consciência política. “A democracia não é um regime de concessão, mas de conquista”, disse ele, exortando as pessoas presentes a romper com o desinteresse e a falta de consciência na escolha dos representantes.
Ao abrir o evento, o deputado federal relembrou que as gerações passadas buscavam felicidade no ideal do amor romântico e na insurgência à autoridade, mas ele constatou que com o tempo o poder de consumo passou a ser o ideal de felicidade. Porém, como destacou, as condições para a conquista da felicidade não são globais, desmitificando o livre mercado, que para ele não passa de uma ideologia de quinta categoria vendida como ciência e que morreu.
Ciro também procurou mostrar a importância da globalização, vista de forma equivocada por parte das esquerdas, que a associam ao imperialismo praticado por algumas nações. Ele exemplificou com as conquistas e o acesso em laga escala da ciência e da informação ao redor do planeta.
— Tudo em nosso mundo sofre influência da relação internacional. A globalização é benéfica, é outra coisa diferente (do imperialismo). É consequência de um velho fenômeno — afirmou ele, referindo-se a um processo de evolução da humanidade, que vai desde as grandes navegações à integração dos povos pela comunicação instantânea.
Para Ciro Gomes, a padronização pelo modelo consumista, que se replicou pelo mundo de forma equivocada, inclusive no Brasil, arrisca a vida no planeta, provocando os efeitos do aquecimento global e da exaustão dos recursos naturais.
Assimetrias competitivas
O deputado federal destacou três diferenças entre o Brasil e os países desenvolvidos, sobretudo os EUA, que comprometem o desenvolvimento da economia nacional. Segundo ele, são diferentes as condições de financiamento, a evolução tecnológica e a capacidade de produção em larga escala desses países. Ele destacou a incoerência brasileira de se ganhar mais no mercado financeiro do que no setor produtivo, a defasagem tecnológica média de três gerações do país em relação a outros povos e a peculiaridade de ter pequenas e médias empresas sustentando nosso mercado de trabalho.
O Brasil está aumentando a produtividade substituindo gente por máquinas, segundo ele, o que acarreta jovens fora do mercado de trabalho, que geram perdas em escala. Ele relacionou as mudanças na pirâmide etária do país com a economia e afirmou: “Estamos crescendo devido a assimetrias competitivas, impostas a um país como o nosso.”
De acordo com Ciro Gomes, as economias asiáticas ultrapassaram o Brasil nos últimos 30 anos em vários aspectos, de exportações ao número de registro de novas patentes, devido ao investimento em educação, e somente mudanças que ocorrem por meio da política podem reverter o quadro. “Precisamos de uma economia política diferente”, disse o deputado, apontando a customização de produtos e serviços como uma outra saída.
Para concluir, Ciro Gomes afirmou que existe sim uma receita para o desenvolvimento de um país e que ela tem três ingredientes básicos: alto nível de poupança doméstica, coordenação estratégica entre um governo forte e a iniciativa privada, e investimento em capital humano. “Não prospera uma sociedade que não investe em gente. São três tarefas políticas. Temos todas as liberdades que a democracia permite. Então, vai dar certo”, encerrou em tom otimista.