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Poesia árabe em debate na Letras

“Dar visibilidade ao trabalho de docentes e alunos das disciplinas humanas e promover um diálogo com a cultura oriental são os objetivos centrais do encontro”. Foi dessa forma que a Cláudia Andréa Prata Ferreira, chefe do Departamento de Letras Orientais e Eslavas (DLOE) da UFRJ, iniciou, nesta quarta (29), a conferência “A arte do Zajal: trocando o sério pelo riso. Ou o contrário?”. O evento integra o III Encontro de Letras Orientais e Eslavas que acontece no auditório G-1 da Faculdade de Letras até o dia 30 de outubro.

João Batista Vargens, professor da UFRJ, fez algumas colocações antes da palestra principal ministrada por Michel Sleiman,  professor de língua árabe da Universidade de São Paulo (USP), presidente do Instituto de Cultura Árabe e editor da revista de poesia árabe Zunái. Batista destacou a comemoração dos quarenta anos do DLOE em 2008 e homenageou seu amigo pessoal e companheiro de profissão, professor Facó. Segundo ele, Facó não deixou uma vasta obra escrita porque dedicou-se intensamente à carreira de professor.”O professor, o pesquisador tem que ser curioso, tem que seguir um caminho sem destino”.

Sleiman falou do Zajal, isto é, da poesia árabe-andaluz. Para tanto, traçou a origem dela. A cultura árabe perpetuou-se na Península Ibérica, Portugal e Espanha, do século VIII ao XVIII e se mantém viva até hoje devido às migrações de árabes da África. E foi em Andaluz, região da Península, que surgiu o Zajal. Andaluz era um centro árabe no Ocidente fazendo frente a centros árabes Orientais, como Bagdá.Esse território tinha uma composição étnica, política e religiosa plural. Sendo a cultura judaica preponderante.

Entre o fim do século XIX e o início do século XX,  houve a descoberta de manuscritos antigos que permitiram aos pesquisadores o acesso ao Zajal. Segundo Sleiman, os  textos são tipicamente andaluzinos pois eles exigiram o emprego do dialeto local em sua confecção. O poema seria a fusão do sistema métrico árabe, isto é, das rimas e das estrofes com a cultura judaica através do uso de temas, como a posição da mulher na sociedade e Deus.Ele pode ser definido como ”o poema da corte escrito em árabe deturpado”. Isso porque apesar de tematizar a vida da corte, esses poemas eram escritos em linguagem popular. O uso da língua local garantia o riso dos leitores do Zajal. O poema era politemático, permitindo a abordagem de temas reprováveis, entre elesa bebedeira e as orgias, em um primeiro momento, e a descrição de ações politicamente corretas, como o amor e a religiosidade,  posteriormente.O uso de temas ambíguos era recorrente na poesia árabe baseada no discurso da diversão.

Sleiman encerrou a palestra declamando poesia árabe e dando enfoque ao uso de temas opostos em sua produção. Após a palestra aconteceu o lançamento do livro “A Arte do Zajal”. Michel Sleiman participou do lançamento dando autógrafos aos leitores de sua obra.