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A arte contemporânea de Analu Cunha

O Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ recebeu nesta sexta-feira, dia 26, a artista Analu Cunha. Ela expôs seus trabalhos feitos de 2004 a 2008, e discutiu arte contemporânea no ciclo de palestras do Núcleo de Tecnologia da Imagem (N-Imagem/ UFRJ), do Programa de Pós-Graduação da Escola de Comunicação da UFRJ.

A videoartista é mestre em Linguagens Visuais pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFRJ. Seus vídeos lidam com a relação do sujeito com o mundo em pequenos momentos de intimidade, um encantamento que parte de um instante solitário. A composição entre a imagem e a música demonstram sua preocupação com o desenho das formas e do som.

"Fujo de coisas ostensivamente técnicas": fuga que reflete em seus trabalhos de produção simples e de pouca edição. Em, Bubbles, uma menina parada no sinal é observada por uma câmera escondida do outro lado da rua. É o que somos levados a pensar até que a mesma menina aumenta o som de seu mp3 e passamos a escutar a mesma música que a tira de todo o tédio em meio à movimentação urbana. Quando isso acontece, percebemos que ela era uma atriz. Somos capazes de distinguir sempre o que é real ou não? Discutir arte contemporânea também é pôr em dúvida nossas percepções, instigá-las a conhecer o novo e nos desacostumarmos das convenções.

Em outra obra, a câmera que se movimenta em 360º no eixo de uma pessoa parada numa praça do Rio de Janeiro é reflexo do que Analu Cunha chama de "suspensão da realidade para deixá-la até mais real". Em Uma Ilha, a música que acompanha as imagens dos transeuntes colaboram para a criação do clima de dispersão e ao mesmo tempo de imersão do indivíduo em um instante.

"Você já sonhou que voava?". Essa foi a pergunta ponto-de-partida de Analu para fazer o vídeo Sonhos com Vôo. Ela convidou outros artistas para demonstrarem em frente à câmera como esses vôos se deram nos sonhos. O resultado é uma brincadeira de simulações, com abrir e fechar de braços e pulos no ar. O tom onírico e pueril de Sonhos com Vôo, caracteriza o bom-humor presente em quase todos os vídeos de Analu Cunha.

É comum pensar "isto eu podia ter feito" ao se estar diante da simplicidade dos trabalhos de Analu, e de outros artistas contemporâneos em geral. Mas o equívoco se dá em se pensar que a arte é algo distante, inalcançável, sem se perceber que na contemporaneidade é justamente esse um de seus diferenciais. Kátia Maciel, Professora de Comunicação e Artes da ECO e Coordenadora do N-Imagem, lembrou a célebre frase de Pablo Picasso: "eu levei minha vida toda para desenhar como uma criança".

Além da quebra de parâmetros, a arte contemporânea tem a função de provocar interatividade e dialogar com o espectador, que deixa de ser um mero observador: "A maneira como o indivíduo pode ser integrado às obras é muito significante na História da Arte", diz Analu. A convidada finaliza a palestra do ciclo "O que é Arte Contemporânea?", enfatizando a relação que o homem deve ter com o mundo ao seu redor: "a arte contemporânea diz respeito a nossa vida. Com ela podemos e aprendemos a ter um outro olhar sobre o que nos cerca".