Caso fosse feita uma lista das matérias que os alunos de Ensino Fundamental e Médio menos gostam, Língua Portuguesa teria grandes chances de figurar entre as primeiras colocadas. O motivo, segundo Maria Aparecida Pauliukonis, professora da Faculdade de Letras (FL/UFRJ), é a forma como se dá o ensino do idioma materno.
Pauliukonis dirigiu a conferência de abertura da “II Semana de Língua Portuguesa”, que acontece até esta sexta-feira no auditório G1, localizado na Letras. O tema de sua palestra foi “Ensino de Português: reflexões e propostas”. Como o próprio nome sugere, o objetivo foi refletir sobre os desafios – cujas soluções ainda estão longe de um consenso – enfrentados por aqueles que lecionam essa disciplina.
O processo educacional de hoje preza, segundo observou a professora, a transmissão de informações. Desse modo, as aulas de português focam massivamente a definição e classificação dos componentes da gramática na frase – acreditam alguns, a parte nobre da língua. Mesmo quando se interpreta textos, a análise tende a ser um pretexto para a classificação gramatical das frases, e as questões são facilmente respondidas se o aluno ler rapidamente o bloco em questão.
Contudo, estudos cognitivos recentes afirmam que o excesso de informação enfraquece e desorganiza a capacidade de compreender e processar dados. Ao relacionar essa descoberta com o cenário descrito por Maria Aparecida, chega-se à conclusão de que despejar regras da gramática normativa não levará necessariamente ao aprendizado; pelo contrário, pode atrapalhá-lo, criar traumas, engessar as aulas de português, tornando-as chatas. Daí o asco causado nos alunos. Daí, também, o crescimento do número de analfabetos funcionais no Brasil.
Qual seria a solução? Elaborar um modelo de educação formativo, no qual os professores sejam gerenciadores do conteúdo a ser passado, no qual a língua seja considerada viva e não estática. Não é fácil, mas, destacou Pauliukonis, é a única saída.
A programação da “II Semana” conta, na parte da manhã, com mesas-redondas. À tarde, das 14h às 16h, ocorrem minicursos. Aqueles que desejarem participar do evento podem fazê-lo apenas como ouvintes, tendo em mente que não terão direito a certificados ou kits personalizados, uma vez que o período de inscrição já está encerrado.
O endereço da Faculdade de Letras é Avenida Horácio Macedo, 2151, Ilha da Cidade Universitária.