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Hidrelétricas emitem níveis altos de metano

 Após anos de exploração não sustentável da natureza com realização de queimadas e desmatamentos, a comunidade científica tem se preocupado cada vez mais com os efeitos desse processo. Aquecimento global e efeito estufa se tornaram o centro das discussões sobre meio ambiente. Considerando a importância desse tema, o II Simpósio de Ecologia, iniciado ontem, dia 8, aborda questões referentes ao “Ciclo do Carbono em Ecossistemas Aquáticos Continentais".

O evento faz parte das comemorações pelos 40 anos do Instituto de Biologia e reuniu na mesa de abertura Fernando Fernandez, Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ecologia; Maria Fernanda Quintella, Diretora do Instituto de Biologia e Vice-decana do Centro de Ciências da Saúde (CCS); Carlos Eduardo Grelle, Chefe do departamento de Biologia e Alex Enrich Prast, coordenador do Simpósio de Ecologia e editor-chefe do periódico “Oecologia Brasilienses”.

“Oecologia Brasilienses” é uma publicação que circula quatro vezes por ano e aborda, em pelo menos três edições, temas específicos da área. Segundo informou Alex Prast, o simpósio foi organizado com o objetivo de reunir pesquisadores para discutir temas específicos a serem publicados na revista.

A vice-decana do CCS, representando o Decano, enalteceu a importância do evento e falou sobre o maior desafio dentro da Ecologia: “Este evento se reveste da maior importância nacional e internacional já que trata técnica e cientificamente dos aspectos ligados ao ciclo do carbono. É uma ótima oportunidade para propormos soluções e ações para compreender a questão global e contribuir para a manutenção da vida na terra. No caso do Brasil, responsável pela maior reserva de água doce do mundo, pela maior floresta tropical em pé e grande biodiversidade, ao mesmo tempo em que mantém uma população extensa em pleno processo de desenvolvimento econômico e que necessita cada vez mais de energia, esse tipo de trabalho se torna ainda mais essencial. Assim, esse tema trata de assuntos ecológicos e ambientais de uma das maiores questões que eu considero como o grande desafio do século XXI”.

O primeiro palestrante foi Philip M. Fearnside, do Instituto de Pesquisas da Amazônia (INPA), que apresentou o tema “Hidrelétricas como fábricas de metano e o papel dos reservatórios em áreas de floresta tropical nas emissões de gases de efeito estufa”.

Criticado muitas vezes por apontar o Brasil como emissor de grandes quantidades de metano, Philip Fearnside acredita que a discrepância entre os valores por ele obtidos e os que constam no inventário do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) se deve a análises superficiais dos órgãos oficiais. “O problema fundamental está em não analisar a fundo todas as fontes. Muita coisa passa despercebida”.

Segundo ele, a quantidade significativa de metano encontrada em regiões como Tucuruí, no Pará, se deve às zonas de depleciamento, nas quais ocorre rebaixamento do nível de água em determinadas épocas do ano. Esse processo, de acordo com Fearnside, forma lamaçais que propiciam o crescimento de vegetações moles, com um período de decomposição mais rápido do que árvores de madeira, o que contribui para maior emissão do gás poluente. Outra causa pode estar associada, aponta o especialista, ao processo de fotossíntese realizado por macrófitas (plantas aquáticas). O gás emitido é considerado mais prejudicial ao efeito estufa do que o próprio gás carbônico. Esses fatores, percebidos como renováveis por ocorrerem em certas épocas do ano, provocam picos de emissão anuais.

De acordo com dados do estudo de Philip Fearnside, os reservatórios de Miranda e Três Marias, ambos em Minas Gerais, são os que mais emitem metano. E especialmente no reservatório de Três Marias, há um desvio de até 9 metros provocado pela depleciação, além da plantação de cana-de-açúcar na margem que contribui para o despejo de fertilizantes e outros produtos químicos na região.

Ao final do evento o professor defendeu a relevância das análises de emissão preventivas. “É preciso que sejam feitas previsões inclusive para hidrelétricas que ainda não existem, mas estão em vias de serem criadas. Além disso, muita discussão que tem sido feita a respeito desse assunto não leva em consideração o que se faz com a energia”.

Lançamento de livro

A programação do dia foi encerrada com o lançamento do livro Limnologia, escrito por José Galizia Tundisi e Takako Matsumura Tundisi. O livro representa uma importante obra de difusão da Ciência da Limnologia em língua portuguesa. O trabalho pode ser considerado um marco na Limnologia tropical, por inserir resultados das pesquisas realizadas nos neotrópicos, tão pouco contempladas em obras similares, escritas e publicadas por autores de outros países.

A obra sintetiza o conhecimento científico acumulado sobre a história da Limnologia, a água como substrato, a origem dos lagos, a biota aquática e seus principais mecanismos de interações com fatores físicos e químicos, a diversidade e a distribuição geográfica. Neste volume, os autores analisam e detalham os mecanismos de funcionamento dos principais sistemas aquáticos continentais. O livro também aborda a dinâmica, a variabilidade e a caracterização de lagos, represas, áreas alagadas, lagos salinos, estuários e lagoas costeiras.