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Comunicação a serviço da sociedade

O curso de extensão e disciplina Jornalismo de Políticas Públicas Sociais (JPPS), oferecido pelo Núcleo de Estudos Transdisciplinares de Comunicação e Consciência da Escola de Comunicação da UFRJ (NETCCON/ECO), realizou no último dia 8, a palestra "A Mobilização Nacional pelo Paradigma dos Direitos da Criança e do Adolescente: o papel dos comunicadores", ministrada por Deodato Rivera. Cientista político e um dos redatores do anteprojeto do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Rivera defendeu a atuação da imprensa em questões de cunho político-social.

– Os comunicadores têm o grande poder de transformar a mente das pessoas, de conservar o que deve ser conservado, de mostrar o que pode ser feito – afirma.

Rivera relembrou o importante papel da imprensa como um todo e, em especial, do jornalista Luiz Lobo, que atuou ativamente para a aprovação do artigo 227 da Constituição, assegurando os direitos da criança e do adolescente. Segundo o palestrante, o papel de Lobo foi fundamental para difundir a necessidade de incluir na nova Carta leis de proteção, mobilizando também os meios de comunicação em torno dessa idéia.

Na votação, portanto, a televisão foi um componente estratégico. Hoje, contudo, esse papel de mobilização atraindo o público em torno de causas sociais tem sido outro, informa Rivera. Segundo ele, o avanço técnico não veio acompanhado do avanço cultural: “A televisão, de veículo de informação, transforma-se em entretenimento”.

Trajetória

Rivera, também formado em Filosofia pela Universidade do Brasil, viveu muitos anos no exílio durante a Ditadura Militar. Durante esse período, formou-se em Ciências Políticas no Chile, atuou como pesquisador do Instituto de Pesquisa da Paz na Noruega e viveu durante um ano em Cuba, onde participou de treinamentos de guerrilha. Lá percebeu que não poderia participar da luta armada: “o filho da minha mãe, o filho de meu pai, não mata ninguém”, refletiu. O filósofo encontra, então, o jornalismo, interessando-se em registrar questões relacionadas aos conflitos, tortura, guerra e direitos humanos. Ele volta ao Brasil em 1986, desta vez na batalha pela implementação da Constituinte e, em especial, do artigo 227, considerado o ponto de partida para o ECA.

Durante a palestra, ele apontou também para a necessidade de estimular o engajamento do brasileiro diante da situação atual do país. “Segundo dados oficiais, 97% das crianças estão na escola. Mas que escola? Que professores? Que educação elas recebem?”, exemplifica o especialista, remetendo a discussão ao artigo 227, que delega à família, à sociedade e ao Estado assegurar o direito da criança à educação, à profissionalização e à cultura. Impulsionar as pessoas a agirem nesse sentido ) faz parte do papel da comunicação. “Para além das estruturas sociais, é preciso tocar o terreno humano vital”, afirma Rivera.

Ética e responsabilidade social

Dessa forma, o palestrante elege a informação, a comunicação e o conhecimento como formas de poder na sociedade. A comunicação, por sua abrangência, deve ser responsável por “libertar da escravidão da miséria e da degradação humana, que persistem, apesar do progresso econômico”. Por isso, ele ressalta a importância da ética na imprensa. “O crime da mídia é o errado passar por certo, a mentira passar por verdade”, observa Rivera, lembrando que a consciência social é dever do jornalismo.

Concluindo, o filósofo, cientista político e por ofício comunicador aponta três diretrizes para produção de um jornalismo com responsabilidade social: “é necessário tomar consciência do poder da profissão que exerce, conhecer as pessoas e as condições do país e usar toda a criatividade e possibilidades permitidas pela profissão para transformar a realidade”.