O “II Seminário de Educação a Distância na UFRJ” lotou o Anfiteatro Maria Irene, localizado no Núcleo de Computação Eletrônica, no Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza (CCMN/UFRJ), ilha da Cidade Universitária. Segundo Cláudia Motta, uma das organizadoras do evento, alguns pedidos de inscrição tiveram que ser negados, tamanha a procura. O objetivo do evento foi desmistificar essa modalidade de ensino através do oferecimento de subsídios para que a comunidade acadêmica construa critérios de avaliação do assunto com uma base um pouco mais sólida, apresentar problemas solucionados e não solucionados e, finalmente, pela separar o “joio” do “trigo”, isto é apresentar parâmetros que diferenciam a boa proposta da ruim. Ao contrário do primeiro seminário, realizado em 2006, foram convidados para proferir palestras apenas professores da UFRJ que conhecem a área.
A abertura deu-se com uma mesa composta pelos professores Renato Cameira, da Escola Politécnica (Poli); Cláudia Motta, do Programa de Pós-graduação em Informática (PPGI) e do Núcleo de Computação Eletrônica (NCE); Ageu Pacheco, coordenador do NCE e Waldecir Bianchini, diretor do Instituto de Matemática (IM).
Renato Cameira frisou a importância de capacitar professores a fim de que não haja futuramente falta de profissionais qualificados, o chamado “gargalo”. Ele citou como exemplo a dificuldade que a Petrobras vem enfrentando para encontrar pessoas capazes de integrar seu quadro de funcionários em diversas áreas “simplesmente porque não há gente suficiente com a formação necessária”. Por outro lado, Argeu Pacheco observou a urgência da convergência do público – alvo, ainda bastante heterogêneo. Para o coordenador, o seminário é um elemento estratégico que serve para discutir questões ainda abertas que precisam de respostas. Bianchini afirmou que a educação a distância podem ir onde o ensino tradicional não vai, preenchendo assim, segundo o diretor, lacunas deixadas pela modalidade presencial.
– A educação a distância, apesar do que possa parecer, não é uma idéia tão recente assim no Brasil -, conforme esclareceu Marcos Eli, do Grupo de Informática Aplicada à Educação (GINAPE/UFRJ). No começo da década de 80, em uma iniciativa conjunta do Ministério da Educação (MEC), do Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq), da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) e da Secretaria Especial de Informática da Presidência da República (SEI/PR), foi posto em prática o projeto Educom, voltado para a criação de núcleos interdisciplinares de pesquisa e formação de recursos humanos na UFRJ, UFRGS, UFPE, UFMG e UNICAMP. O projeto foi um marco no processo de geração de base científica e na formulação da política nacional de informática educativa.
No estado do Rio de Janeiro, o Educom e a UFRJ aplicaram conhecimentos na Escola Estadual Souza Aguiar. A princípio, os módulos oferecidos eram voltados para as ciências básicas, tais quais: Química, Física, Matemática e Biologia, pois, segundo Eli, eram as que ostentavam os menores índices de aproveitamento. Posteriormente, a Universidade voltou-se para a aplicação dessa técnica nos recursos humanos.
Eli disse constantemente ao longo de sua apresentação que a educação a distância pode ajudar a dar um salto de qualidade na educação brasileira. “É fato comprovado que nos últimos anos houve expansão no número de vagas escolares oferecidas no país, o que não veio acompanhado de qualidade. Como resultado, a escola pública deteriorou e as instituições particulares multiplicaram. Esse quadro, pode ser alterado através de uma mudança na estrutura do ensino nacional. Seria necessário, portanto, uma transformação do espaço físico da escola, bem como dos modelos pedagógicos”, esclarece Eli.
Os palestrantes admitiram que não há certezas quanto ao sucesso desse tipo de ensino; mas, segundo eles, a UFRJ gera conhecimento e tem, conseqüentemente, o dever de contribuir para uma revolução na qualidade de educação através da educação a distância e da tecnologia informática aplicada à educação em parceria com o governo e com a iniciativa privada.
Há que se reconhecer a complexidade da questão educacional no país. Soluções e novas propostas devem ser buscadas e discutidas junto à comunidade acadêmica – com destaque para professores e alunos – e à população; contudo, esse processo deve ser minucioso e cuidadoso para que, no fim, não se aprove um modelo que ao invés de ajudar atrapalha.