Nesta sexta (25/8), a Faculdade de Letras da UFRJ deu início ao “Simpósio Internacional Fausto de Goethe no século XXI”. O evento, que se estende até hoje, 26, tem os objetivos de destacar o caráter universal da obra de Goethe – que viveu entre 1749 e 1832 e é um dos grandes expoentes da literatura alemã – e discutir como o autor apresentou o mito principal da era moderna em Fausto, sua obra mais célebre.
O Fausto histórico, diz-se, é Johann Georg Faust, que teria vivido entre 1480 e 1540. Faust foi médico, mágico e alquimista, tendo sido acusado pela crendice popular de estabelecer um pacto com o demônio. Seu nome foi usado como base para diversos romances ficcionais, o mais famoso deles escrito por Goethe. Neste, Fausto é também um homem das ciências que no intuito de superar os conhecimentos de sua época faz um trato com Mefistófeles. Em troca de seus serviços, o doutor aceita ceder sua alma ao diabo.
A abertura do simpósio se deu através de uma palestra proferida por Eloá di Pierro Heise, professora de literatura germânica da Universidade de São Paulo (USP). Heise falou sobre a relação dialógica entre Johann Wolfgang von Goethe e Joaquim Maria Machado de Assis.
Machado começou seus estudos de língua alemã em 1883, aos 44 anos; contudo, as referências abertas à obra de Goethe são posteriores e também anteriores a esta data. Heise pontuou três dessas ocorrências. A primeira e a mais óbvia, no livro Quincas Borba (1891), aparece na descrição da casa do capitalista Rubião: a personagem tinha duas pequenas estátuas, uma de Fausto e outra de Goethe. Já a segunda mencionada desvela-se em sua última obra, Memorial de Aires (1908), no momento em que o Conselheiro de Aires faz uma aposta com sua irmã sobre o casamento da viúva Fidélia. A conversa, como pode se supor, remete ao trato feito entre Fausto e Mefistófeles. Por fim, a terceira referência acontece no livro Esaú e Jacó (1904), mais precisamente no capítulo intitulado “Duas almas”.
O título desse capítulo, aliás, é bastante sugestivo para a análise da relação entre os dois escritores. Heise discursou longamente sobre a visão deles acerca do que seriam essas almas e sobre a concepção que eles tinham de mal e bem. Goethe dizia que cada pessoa teria duas almas antagônicas e complementares dentro de si; Machado, por outro lado, cria na existência de uma alma interior e outra exterior, a qual se traduzia nas pessoas, objetos, tudo aquilo que pudesse ser considerado uma extensão do homem. Quando o assunto é mal, porém, ambos concordam que ele é necessário para trazer o bem e o aprendizado.
O Simpósio conta ainda com a presença de dois especialistas em estudos goethianos: Ernst Osterkamp, da Humboldt Universität, e Michael Jäger, da Freie Universität, ambas em Berlim, na Alemanha.
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