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Doctor House: mocinho ou vilão?

Dr. House, o excêntrico médico, protagonista da famosa série televisiva de mesmo nome, foi alvo de elogios e críticas nessa quarta-feira (6/8), no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF). Durante a palestra, que contou com a presença de médicos e estudantes da área da saúde e discutiu a ética nas atitudes do personagem, fomentando um enriquecedor e atual debate sobre a relação médico-paciente.

A idéia de trabalhar com o seriado partiu do psiquiatra e professor da universidade Sérgio Zaidhaft, também idealizador das discussões, cansado das habituais transparências e cartazes usados nas apresentações de seus trabalhos, sugeriu a seus alunos que fizessem algo inovador, como a edição e montagem de algumas cenas de filmes famosos, estabelecendo relação com temas correntes.

O resultado não poderia ter sido melhor, inspirado pela idéia do trabalho de um grupo que escolheu o seriado da “FOX” e incentivado por professores e alunos, Sérgio resolveu fazer um filme baseado em House, mesmo apresentando apenas algumas partes da série, que permitisse múltiplas discussões a respeito do comportamento do médico. Assim, começou a exaustiva seleção de cenas que melhor delineassem o caricato personagem principal. Para tal empreendimento, o professor confessou ter visto pelo menos duas vezes cada episódio da primeira temporada e trabalhado nela durante madrugadas e finais de semana.

O psiquiatra apresentou o pequeno filme montado com as cenas criteriosamente selecionadas e editadas, de forma a ilustrar as principais características do programa e de House inclusive para aqueles que nunca tiveram contato com a série. A produção de Zaidhaft se assemelha propositalmente ao formato de um episódio do seriado, inclusive no tempo de duração (37 minutos), dando um ar ainda mais verídico e interessante à montagem.

As reações do público ao comportamento do famoso doutor foram as mais diversas, desde os que exaltaram seu caráter sherlockiano, às vezes rude, na busca da verdade, àqueles que atribuíram ao personagem certo ar de sadismo, que no hipócrita cenário médico americano já teria custado a House alguns anos de prisão. Foram feitas muitas observações a respeito de trechos da série que representam uma crítica à realidade dos hospitais, como o fato do médico da telinha perguntar o porquê de televisões em quartos de pacientes em coma.

A relação médico-paciente apresentada na série também não escapou às discussões, ao contrário, foi questionada e ricamente exemplificada pelos participantes que puderam contar experiências pessoais frente à mítica máxima de que quanto menor o afeto do profissional da saúde com o doente, maior sua competência médica.

Não é apenas no Hospital Universitário, que o jeito gauche de House gera discussões. O seriado que recebeu o Globo de Ouro de melhor série na categoria drama em 2007 e 2008, já virou tema de alguns livros, dentre os quais alguns já possuem traduções para o português. A cada nova temporada mais debates surgem em torno da figura do médico que se esquiva de relações pessoais com os pacientes, expõe a verdade a todo custo e parte do princípio de que todos mentem, mas que encontra sempre os diagnósticos precisos e na maioria das vezes está com a razão. Assim, na telinha cria-se o vilão e o mocinho, persistindo a discussão existe ética no comportamento de House?