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Debate sobre juventude no Instituto de Psiquiatria

 A moradia cada vez mais freqüente de crianças e adolescentes nas ruas da cidade Rio de Janeiro foi o tema principal da palestra “Juventude, Desfiliação e Violência”, que ocorreu na manhã desta sexta-feira (29/08) no auditório Leme Lopes, que fica no campus da Praia Vermelha. O evento também serviu para promover o livro de mesmo nome, que será lançado no próximo mês, e que conta com a colaboração de profissionais como Sonia Altoé, professora de Psiquiatria da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), e Ligia Costa Leite, do Instituto de Psiquiatria (IPUB) da UFRJ.

– Uma das funções da universidade é promover trabalhos que visem o desenvolvimento social –, ressaltou a professora Ligia Leite, que também afirmou que a criação do livro tinha como objetivo divulgar resultados de pesquisas ligados ao tema da criança na rua e dar contribuições práticas e teóricas para políticas públicas.

Para pensar em medidas eficazes para o combate a esse problema social, foi necessário aos colaboradores do livro revisar o que já foi feito no passado. Quem se responsabilizou por isso foi Martha Abreu, professora do departamento de História da Universidade Federal Fluminense (UFF). Na palestra, ela apresentou uma breve cronologia do cuidado, observação e preocupação com a juventude, e também mostrou como a conceituação do “jovem de rua”, que em algumas épocas foi preconceituosa e racista, mudou ao longo da História do Brasil. Segundo a professora, essa consideração do passado é importante para a projeção de ações futuras, já que muitas iniciativas anteriores deram certo. “No final do século XIX, metade da população da cidade do Rio de Janeiro era alfabetizada. Portanto, coisas feitas lá atrás deram certo”, afirmou Martha Abreu.

Outro exemplo de sucesso foi o trabalho desenvolvido por Ligia Costa Leite, no IPUB, aonde era oferecida uma terapia de reabilitação social. Ela contou a história de Cláudio (nome fictício), um garoto de 17 anos que vivia nas ruas e usava drogas, e que, com a ajuda da instituição, conseguiu uma recuperação psicosocial.

Sonia Altoé comentou o caso narrado por Ligia Leite, ressaltando o sucesso relativo da pesquisa, já que, segundo ela, “não sabemos o futuro das pessoas tratadas”. Ela falou um pouco de seu trabalho clínico na UERJ, que oferece atendimento individual a jovens oriundos de abrigos e das ruas. Poder investigar e causar melhorias nesses indivíduos é muito complicado algumas vezes, já que eles apresentam dificuldade para contar suas experiências de vida. “O tratamento é muito difícil, as crianças e jovens estão cada vez mais comprometidos, seja emocionalmente ou intelectualmente” – confessou a professora. Ela também fez questão de narrar outro caso ligado aos adolescentes de rua, no qual uma jovem, que havia ficado grávida através do incesto, recebeu o tratamento psicanalítico adequado e apresentou melhorias. Para Sonia Altoé, a participação ativa dos pesquisadores é fundamental: “É em histórias como essa que a gente pode e deve intervir, sempre de maneira correta”.