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“A obesidade é grave, epidêmica, mata pessoas”

Essa foi uma das conclusões de José Carlos Appolinario, convidado da mesa-redonda sobre “Diretrizes para o Tratamento de Transtornos Aimentares”, coordenada por Marco Antônio Brasil. A palestra fez parte do Simpósio de comemoração dos 70 anos do Instituto de Psiquiatria – IPUB, e aconteceu na tarde desta sexta feira, dia 4.

Compuseram a mesa contou com José Carlos Appolinario, doutor em Psiquiatria, Psicanálise e Saúde Mental pela UFRJ e Médico Psiquiatra do Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia, que falou sobre o tratamento farmacológico da bulimia nervosa: dos consensos à pratica clínica; Silvia Freitas, coordenadora do Grupo de Obesidade e Transtornos Alimentares (GOTA), discutiu o Tratamento de obesos com transtorno da compulsão alimentar periódica; e Taki Athanássios Cordas, médico supervisor Coordenador geral do Ambulatório de Bulimia e Transtornos Alimentares (AMBULIM) e Coordenador do Ambulatório dos Transtornos do Impulso(AMITI) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, falou de Questões atuais sobre o tratamento da anorexia nervosa.

José Appolinario abriu os trabalhos, primeiramente esclarecendo o tripé que caracteriza a Síndrome da Bulimia segundo Gerald Russel: “impulsos poderosos e intratáveis para comer demais, evitar efeitos engordativos, e o medo de se tornar obeso”.

De acordo com Appolinario, a Bulimia Nervosa se caracteriza por episódios recorrentes de compulsão alimentar, comportamentos compensatórios inadequados (vômitos auto-induzidos, uso de laxantes, jejuns, ou exercícios físicos excessivos), num período de duas vezes por semana (nos últimos três meses). A incidência mais comum em mulheres jovens, sendo rara em homens, na proporção de um homem para cada dez mulheres.

Alguns fatores de risco ainda foram citados pelo médico como a obesidade, baixa auto-estima, preocupação com peso e forma corporal, e história materna ou paterna de obesidade. Segundo Appolinario, a compulsão alimentar, o sentimento de falta de controle sobre esse episódio, e o uso de métodos compensatórios são sintomas deste transtorno, mas ele alerta que os métodos compensatórios não são uma condição para existência do mesmo.

O palestrante afirmou que o tratamento deve considerar fatores psicológicos, biológicos, e sócio-culturais, já que a própria sociedade atual exerce uma forma de pressão para a perda de peso. “Não se sabe a causa da Bulimia nervosa, então o modelo de tratamento deve ser multidimensional”, ressalta o psiquiatra, observando ainda que o objetivo do tratamento está ligado à melhora dos sintomas, e relacionado ao tratamento da auto-imagem, auto-estima da pessoa.

A partir daí, o médico apresentou um resumo de evidências do tratamento farmacológico da Bulimia Nervosa, no que diz respeito ao uso de antidepressivos, que seriam a única droga a ser usada nesse tratamento, como alternativa depois de uma abordagem psicológica.

Em seguida, Silvia Freitas, coordenadora do Grupo de Obesidade e Transtornos Alimentares, falou sobre o Transtorno da compulsão alimentar periódica, que, segundo ela, não é compreendido como um transtorno alimentar, tal qual a bulimia e a anorexia. Silvia Freitas enfatizou que, diferente da bulimia, a compulsão alimentar não está associada à métodos compensatórios, e ocorre duas vezes na semana, por seis meses.

A médica afirmou que há uma prevalência de casos em homens, entre 30 e 50 anos, e que o transtorno acomete de 1,7% – 12,2% da população geral, havendo também um número de casos considerável na fase da adolescência. “Avaliar o padrão alimentar na adolescência é extremamente importante”, defende a médica, e ainda pontua que a obesidade não é um critério para o transtorno.

Segundo Silvia, são formas de tratamento as terapias cognitivo-comportamental e interpessoal, e os tratamentos nutricional e farmacológico (com uso de antidepressivos, agentes antiobesidade e anticonvulsivantes), além de abordagens combinadas desses métodos.

Sob a afirmação de que é muito difícil falar de anorexia, Taki Athanássios Cordas deu início a sua apresentação, colocando que não há critérios definidos para a Anorexia Nervosa (que ainda pode ser dividida em subtipos, como Restritiva, e Purgativa).

Segundo ele, há poucos estudos sobre a evolução da doença, já que as incidências e prevalências são relativamente pequenas. Taki ainda acredita que haja uma estreita relação com o transtorno afetivo bipolar, e comenta que o suicídio é a segunda causa de morte mais freqüente na Anorexia Nervosa.

Quanto ao tratamento, o médico afirma que não há uma droga específica, e que a reposição hormonal não adianta sem a reposição de peso. “O melhor tratamento é comer”, conclui ele.