Num dia chuvoso, era de se esperar que o auditório do Roxinho situado no Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza (CCMN/UFRJ) permanecesse vazio. Não foi o que aconteceu. Pouco a pouco as cadeiras foram sendo ocupadas por um público com faixa-etária não definida, formado desde a juventude estudantil a terceira idade, ambos atraídos pela forte e presente voz de Danilo Caymmi. E ,neste dia 25, o que antes parecia ser um show para poucos, se tornou um ambiente caloroso, pronto para acolher um dos grandes nomes da MPB.
Acompanhado pelo maestro Uri Costa, Danilo trouxe para o auditório, com muita desenvoltura e intimidade, um repertório baseado em suas canções, outras de seu pai, Dorival Caymmi, e de Tom Jobim. A forma como se referia a eles, mostrava o grande carinho e admiração não só pelo lado pessoal, afinal estava falando de seu pai, mas também pelo profissional. Segundo ele, a longa convivência artística com seu pai e com Tom Jobim, na “Banda Nova”, e a conseqüente influência dessas, foram momentos essenciais para sua carreira. Em homenagem a Tom, o que assumiu prestar sempre, cantou Samba do Avião.
Danilo iniciou e terminaria o show interpretando Jangada. Mas é claro que o público não permitiu, depois de pedir por bis, ele voltou com Fiz uma Viagem e mais outros sucessos. O clima no Roxinho era de aproximação, entre uma música e outra, o músico conversava com a platéia, contou algumas situações familiares que serviram de “gancho” para a apresentação de suas canções. Foi o que antecedeu uma das musas da música popular brasileira, Marina. “Ao término de um show de meu pai, em que estava como músico, no interior da Bahia, um cara completamente bêbado, puxou um revólver da cintura e disse: ‘Eu sou o marido da Marina’. Graças a Deus apareceu um garçom e afastou a arma. Depois disso, fiquei um bom tempo sem compor música com nome de mulher.” Segundo ele, só voltaria a escrever para a trilha da minissérie Tereza Batista e que agradece não ter tido mais nenhum problema com isso.
Danilo, além de cantor, também é compositor e produtor musical. Suas músicas foram interpretadas por ídolos como Tom Jobim, Elis Regina, além de Nana Caymmi, Beth Carvalho, Maria Bethânia, Gal Costa, entre outros. Ele que aprendeu a tocar flauta instintivamente aos 11 anos, dom que aperfeiçoaria mais tarde com o estudo de flauta transversa e teoria musical na Pró-Arte do Rio de Janeiro, mostrou ótimo desempenho nesse instrumento ao interpretar Retirantes, tema de abertura da novela “Escrava Isaura”, e Andança. Acreditando ser o papel do artista passar alegria e energia para seu público, pelos aplausos recebidos, pode-se dizer que ele arrasou.
Foi notória a empatia que o cantor estabeleceu com a platéia. Talvez esta identificação seja proveniente dele já ter feito parte do quadro de estudantes da UFRJ. Danilo freqüentou durante quatro anos o curso de Arquitetura da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU/UFRJ), que não chegou a concluir. Relembrou esse período em vários momentos, admitindo que sua estadia na universidade foi fator importante ao optar pelo universo musical. “Tenho ótimas recordações daqui, ótimas e ao mesmo tempo ruins porque foi um ano muito difícil, o de 1968. Esse ambiente foi fator decisivo na formação do meu lado musical, assim como a decisão de seguir essa profissão. Foi nessa época que compus Andança”, lembrou Danilo.
Segundo ele, havia vários instrumentos musicais guardados no armário do curso, entre eles, violões e flautas, que serviam de pretexto para os estudantes se reunirem. “Me lembro que havia um movimento artístico muito sério, participaram dele, nomes como Ivan Lins, Gonzaguinha, César Costa Filho. E nós tivemos neste campus o CU, os compositores universitários. Só que acho que isso não deu muito certo”, ironizou.
Danilo encantou a platéia com grandes sucessos como "Eu Sei que Vou te Amar", "É Doce Morrer no Mar", "O Bem e o Mal", "Copacabana", "Vatapá", "Casaco Marrom" e "A Vizinha do Lado", num espetáculo que misturou bossa-nova e samba e que contagiou quem estava presente.
Opinião dos fãs
Danilo revelou que usa muitos critérios e conceitos adquiridos de quando cursou Arquitetura para compor suas melodias, o que foi refletido pela emoção do público. Segundo Marcela, 19 anos, estudante de pintura, que acompanha o cantor há algum tempo, por influência dos pais, o show foi maravilhoso, energético. “Mesmo gostando muito do Danilo Caymmi, nunca tinha assistido um show dele antes. Acho ótima essa iniciativa da universidade, pois ao trazer para cá esses nomes consagrados, valoriza a cultura brasileira, afinal tem muita coisa boa por aí. Esse show foi enérgico, feliz”, caracterizou.
Já para Claudinéia, aluna de dança, o espetáculo foi emocionante. Ela que já tinha assistido o cantor, disse que em determinados momentos percebe um ator no palco, devido a sua forte presença e improviso. “Esse é o tipo de projeto que vale a pena ser levado para frente”, opinou a estudante.