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Subjetividade, memória e registro são discutidos no Fórum na Tela

O projeto Fórum na Tela, do Fórum de Ciência e Cultura (FCC) da UFRJ exibiu, nesta quinta-feira, o penúltimo filme do diretor contemporâneo Atom Egoyan, “Calendar”. Na mostra, predominam obras que o cineasta produziu antes de seu reconhecimento internacional e que não foram lançadas comercialmente no Brasil.

Após a exibição, o coordenador do projeto, Denílson Lopes, convidou a professora da Escola de Comunicação (ECO) da UFRJ, Fernanda Bruno, e o jornalista do O Globo e crítico de cinema, Rodrigo Fonseca, para um debate sobre a obra, que conta a história de um fotógrafo em diferentes tempos de sua vida e em distintos lugares.

Ao relacionar à sua pesquisa, Fernanda identificou no filme três usos diferentes de tecnologia como um dispositivo para registrar a experiência e reelaborá-la, sendo eles a tecnologia da memória, da perda e da imagem. Seguindo o raciocínio de Egoyan em “Calendar”, a professora estabeleceu um paralelo com o mundo digital, e destacou a relação ambígua que existe entre instrumentos de registro e memória:

– Com os instrumentos de registro muito próximos da realidade, ao mesmo tempo que temos a possibilidade de arquivo muito grande com as tecnologias digitais, temos, por outro lado, uma relação com a memória muito comprimida. A gente mal tem tempo para lidar com o presente, quem dirá com o passado.

Sob outra perspectiva, Rodrigo ressaltou as questões onipresentes do diretor, que se dão no sentido de resolver um vazio e buscar reconhecimento de si mesmo: “Egoyan é um cineasta que tenta expor coisas que estão trancafiadas dentro das pessoas e dele. Esta é uma prática corrente na escolha dos temas, sempre relacionados a questões social e politicamente mal resolvidas ou não ditas”.

Para explicar a característica fortemente presente nas obras do cineasta, de ligação com a nação e com suas raízes, o jornalista terminou sua exposição lendo um trecho da entrevista que fez com Egoyan, em que ele diz:

– Quando eu faço filmes, faço sobre nações, principalmente a nação que existe em mim. No mundo contemporâneo, o entretenimento esfacelou projeções culturais; o entretenimento esfacela nações e ele pode esfacelar a nação que existe dentro de mim, por isso eu preciso falar dele. O meu cinema é um mecanismo de fazer falar, de me fazer falar, de deixar falar questões que são silenciadas.

A mostra se encerra nesta sexta-feira, dia 13, com a exibição de “The Adjuster”, um longa que, contando a história de uma família, provoca uma reflexão a respeito das particularidades da vida de cada um dos membros. O evento acontece às 19 horas, no Salão Moniz de Aragão do Palácio universitário da Praia Vermelha – Avenida Pateur, 250. A entrada é franca.