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Incertezas climáticas

 O Departamento de Métodos Estatísticos do Instituto de Matemática (DME-IM/UFRJ) recebeu o professor Pedro Dias – do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (USP) – nesta quarta-feira, dia 25 de junho. Pedro é membro titular da Academia Brasileira de Ciência (ABC) e diretor científico da Sociedade Brasileira de Meteorologia (SBMET).

Em sua apresentação para alunos e professores do DME/IM, ele falou sobre as incertezas inerentes às mudanças climáticas induzidas pelo homem, bem como as maneiras de conviver com este desconhecido.

O evento aconteceu no Centro de Tecnologia (CT/UFRJ) e integra o ciclo de palestras que ocorre pelo menos duas vezes por mês no departamento, organizado pela professora Alexandra Schmidt (IM/UFRJ).

Pedro contou que conheceu o universo das mudanças climáticas durante sua Pós-graduação nos Estados Unidos, na década de 70, quando o assunto era restrito apenas à academia. Segundo ele, foi em 1983 que o problema do clima se popularizou, graças ao fenômeno El Niño, o qual causou enorme impacto econômico e mudou a percepção mundial sobre as questões ambientais.

Repensar a vida

Ao longo de sua palestra, ele destacou o trabalho do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), da Organização das Nações Unidas (ONU), cujos grupos de estudos, formados por cientistas de diversas partes do mundo, produzem relatórios que vêm causando impacto cada vez maior nas tomadas de decisões políticas.

– Se não houver metas claras do impacto das mudanças climáticas, dificilmente haverá decisão política – afirmou o especialista.

Ele exibiu, ainda, gráficos e estatísticas gerados pelo IPPC, que mostram previsões do impacto da concentração de Gases do Efeito Estufa (GEE) no clima do planeta. Os estudiosos criam possíveis cenários de emissão desses gases, recapitulando, também, o passado climático do planeta.

Pedro fez uma crítica ao modo catastrófico pelo qual a mídia cobre os assuntos referentes às mudanças climáticas: “A imprensa olha o modelo mais catastrófico. Ela pega o extremo, o cenário mais trágico, e divulga isso”, disse. O cientista mostrou o exemplo em que a Amazônia brasileira seria completamente devastada, virando uma “savana”.

De acordo com o professor, a análise quase sempre negativa feita pelos formadores de opinião pública dificulta as tomadas de decisão por parte dos governantes. Este processo decisório sobre o futuro do meio ambiente depende da “dor no bolso”, de uma mudança no desenvolvimento, o que torna Clima e Economia intimamente ligados.

O cientista declarou que é fundamental determinar o custo real das mudanças climáticas, que ainda é incerto, assim como os custos de adaptação à variabilidade natural do clima. Ele acredita que é possível reagir às mudanças, sem recorrer a uma abordagem embebida no catastrofismo.

Em sua análise, chama a atenção para o fato de que os pobres são os mais prejudicados com as mudanças climáticas, uma vez que não têm recursos para reagir aos problemas e contam com um sistema de saúde pública deficiente, por exemplo.

Ao fim da palestra, Pedro mostra sua visão das crises ambientais, as quais, segundo ele, devem ser encaradas como uma oportunidade de repensar e diminuir o desmatamento, mudar os hábitos de consumo, investir em biocombustíveis, adaptar a agricultura, entre outros. Em resumo: é uma chance de promover transformações na vida.