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A cultura produzida na periferia

 O Núcleo de Estudos Transdisciplinares de Comunicação e Consciência (NETCCON) promoveu, nesta segunda-feira, dia 2 de junho, palestra de Augusto Gazir, professor da Escola de Comunicação da UFRJ e Coordenador de Jornalismo Comunitário do Observatório de Favelas, sobre o tema “A Comunicação criada pela periferia do Rio de Janeiro”. A partir das 11h, o auditório do Centro de Produção Multimídia foi palco da discussão quanto a cidadania promovida pela inclusão social e cultural, fruto do curso de Jornalismo de Políticas Públicas e Sociais.

O Observatório de Favelas começou como um projeto do Instituto de Estudos Trabalho e Sociedade, em 2001. Em 2003, se tornou uma instituição autônoma, devido à ampliação de seus trabalhos. “O objetivo da instituição é prestar assistência ao Estado na implantação e elaboração de políticas públicas eficientes e horizontais e observar e discutir o fenômeno das favelas”, esclareceu o palestrante.

Para Augusto Gazir, as populações das favelas foram negligenciadas pelos governos desde a origem do fenômeno, com a ‘favela da providência’, que era chamada em seu começo de ‘morro da favela’. De acordo com ele, uma das funções que o Observatório cumpre é reunir dados básicos necessários para que possam ser elaboradas ações para promover o desenvolvimento nessas áreas.

O integrante da ONG também afirmou a importância da Comunicação para enfraquecer o processo de marginalização dessas áreas. “As favelas sofrem desigualdades simbólicas. São comumente representadas pela carência, violência ou presença exótica. Um projeto cultural realizado lá dificilmente é apresentado simplesmente como cultura, mas sim como algo que afasta os moradores do poder do tráfico ou da miséria”, explicou. O professor defendeu o reconhecimento das multiplicidades de conexões presentes nesses espaços.

— Pela cobertura jornalística e declarações oficiais, parece que o tráfico é visto por quem mora na favela como uma das poucas opções à pobreza completa e que quem já participa dele é completamente integrado. Em nossos estudos, observamos que muitos jovens estão no tráfico pelo status que a posição lhes confere, e vários deles cumprem funções que não participam da luta armada. E destes, grande parte têm outros empregos —, declarou.

Gazir afirmou também que o tráfico, na comunidade, é um movimento que causa identificação com alguns dos moradores, não simplesmente uma organização. “O estudo ‘rota de fuga’, que será publicado em forma de livro e já foi notícia em diversos jornais nacionais, indica que o tráfico perdeu força – salários menores, menos pessoas empregadas, mais competição. Mas do ponto de vista ideológico ele ainda está muito forte. Isso só aumenta a necessidade de estabelecer outras referências culturais”, observou, lembrando que a abertura de espaços à produção cultural dessas populações é um marco crucial.

— Nunca antes a comunidade teve tanta capacidade para se equipar e criar discursos próprios. Temos, por exemplo, movimento gay na Maré. O Estado deve se tornar poroso o bastante para dialogar com toda essa variedade, permitindo a participação horizontal desses espaços —, concluiu o palestrante.