Categorias
Memória

Seminário discute preservação em Barra de São João

 O poeta romântico Casimiro de Abreu, quando se encontrava em Portugal, escreveu sobre sua terra natal , em “Canção do Exílio”:

Quero sentar-me à beira do riacho
Das tardes ao cair,
E sozinho cismando no crepúsculo
Os sonhos do porvir!

Se eu tenho de morrer na flor dos anos,
Meu Deus! não seja já;
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,
A voz do sabiá!

Quero morrer cercado dos perfumes
Dum clima tropical,
E sentir, expirando, as harmonias
Do meu berço natal!

Minha campa será entre as mangueiras,
Banhada do luar,
E eu contente dormirei tranqüilo
À sombra do meu lar!

Ao visitar Casimiro de Abreu, hoje município do estado do Rio de Janeiro que tem o nome do poeta e poder abrigar-se na pequena cidade da Barra de São João, próximo ao  estuário do rio, um conjunto de alunos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ pode vivenciar de perto as bucólicas tardes de que fala a poesia. E foi a partir de suas impressões, registradas em fotografias e depoimentos, mais tarde transformadas em um breve vídeo, que teve início o Seminário “Preservação do Patrimônio Cultural”, realizado dias 17 e 18 de maio, pelo Núcleo de Estudos de Arquitetura Colonial da UFRJ, com o apoio do programa Progredir/CREA-RJ.

 Coordenado pela professora Maria Clara Amado Martins, chefe do Departamento de História e Teoria da FAU, o seminário faz parte de um trabalho de extensão da universidade, que procura compartilhar o conhecimento produzido em sala de aula sobre a importância da preservação de sítios históricos, em sua dimensão arquitetônica e paisagística, com os moradores de localidades do Estado onde essa preocupação com o patrimônio cultural possa ser identificada e disseminada.

O Seminário, que já se realizou nas cidades de Iguaba / São Pedro d’ Aldeia; Petrópolis, Quissamã e Vassouras encontrou grande receptividade em Barra de São João, distrito de Casimiro de Abreu. “Na realidade, atendemos a um convite do prefeito de Casimiro, Paulo Dames Passos, que através da Secretária de Turismo e Eventos, Tereza Chedid, se fez presente à abertura do evento”, explica a professora Maria Clara.
Vários professores da FAU também participaram ativamente do seminário, dentre eles Francisco Veríssimo, Helenita Gonzalez, Jerônimo de Paula da Silva, William Bittar e Olínio Coelho, principal idealizador da proposta dos seminários.

A coordenadora do evento destaca, ainda, a presença de Romaric Sulger Büel, Assessor  de Atividades Culturais da Prefeitura, responsável pela promoção de inúmeras feiras de artesanato em apoio ao artistas locais. Entre eles, evidencia-se Chico Tabibuia, escultor, já falecido, que fez obras em madeira, hoje objeto de atenção internacional, por sua originalidade e expressividade artística.

 Se a arte popular tem ressonância, a memória dos tempos coloniais também permanece viva em um belo conjunto arquitetônico, que inclui entre o casario, o imóvel “ Beira Rio”, local  que acolheu o seminário, e a capela de  São João Batista, que data do século XVIII, assim como a residência  do poeta Casimiro de Abreu, morto por tuberculose em 18 de outubro de 1860, aos 21 anos.

Outras personalidades ilustres também marcam passagem por Barra de São João. Palmeiras imperiais assinalam a presença de D. Pedro II, que por lá descansava antes de seguir para a sua residência serrana. Do pintor Giuseppe Gianinni Pancetti (Campinas SP 1902 – Rio de Janeiro RJ 1958), também se tem notícias, assim como do líder comunista Luiz Carlos Prestes, que abrigou-se à perseguição da polícia de Vargas, e do esplêndido pianista Artur Moreira Lima, que dispõe de uma casa de veraneio.
 
 Em meio a este cenário que ainda conserva às margem do rio São João boa parte de sua vegetação de restinga, as alunas da FAU, Nataly Losi, Luiza Ribeiro, Érika Ribeiro, Érika Aguilar, Diana Braga, Viviam Sabino e Pâmela Azevedo, sob a supervisão da professora Maria Clara, realizaram, durante quinze dias que precederam o Seminário,  um significativo registro fotográfico. Com este material e instigadas pelo professor Olínio Coelho, que lhes pediu uma ativa contribuição para o evento, foi produzido o vídeo “Um Olhar sobre a Barra de São João”, que teve a narração feita pelo estudante Felipe Loureiro.

Segundo Maria Clara, no vídeo há um olhar crítico e artístico, que agregou poesia e imagens.  Pela qualidade do trabalho, ele serviu à abertura seminário.

“Como desdobramento, há o interesse da prefeitura que continuemos a realizar um trabalho conjunto, quem sabe realizando um inventário do patrimônio artístico e cultural local, porém antes disso acontecer, pretendemos publicar todas as palestras e o vídeo das alunas irá entrar como encarte” afirmou a coordenadora.
Para isso, será preciso buscar apoios para a publicação, que não será vendida e terá exemplares distribuídos junto a prefeitura de Casimiro.

Indagadas sobre a experiência que viveram em Barra de São João, as estudantes Nataly, Vivian e Luiza foram unânimes: “este trabalho de extensão foi uma oportunidade valiosa para a nossa formação profissional”.