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O IDH na cobertura jornalística

 O Paradigma do Desenvolvimento Humano como orientador da cobertura foi o tema da palestra apresentada pela jornalista de O Globo Flávia Oliveira, no dia 14 de abril, às 11h, no Auditório do Centro de Produção Multimídia do campus da Praia Vermelha da UFRJ. Parte da disciplina “Jornalismo de Políticas Públicas e Sociais”, o evento foi, como todas as outras palestras do curso, aberto ao público.

Um dos pontos centrais apontados pela colunista foi a importância da criação do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e sua introdução na produção das matérias jornalísticas. “Até certo tempo, só se avaliava o PIB (Produto Interno Bruto) de certa área, mas só isso não bastava. O caso brasileiro é um dos exemplos mais marcantes disso, já que o país se encontra entre os 10 países mais ricos, mas está perto da posição n°70 em termos de IDH”, ressaltou a jornalista.

— Para desenvolver essa escala, em 1990 os economistas Mahbub ul Haq e Amartya Sen precisaram usar informações que podem ser obtidas em praticamente qualquer país. Por isso, se avalia a Renda per capita (PIB dividido pelo número de habitantes), expectativa de vida e a escolaridade para compô-la – explicou a especialista.

A jornalista apresentou diversos dados sobre o país que determinaram sua entrada no grupo de países de alto IDH (acima de 0,800). De acordo com o relatório 2007/2008 da Organização das Nações Unidas, a expectativa de vida avançou de 70,8 para 71,7 anos, o índice alfabetização chegou a 88,6% e o PIB a US$8.402. “Mas é preciso lembrar que nossos avanços são ameaçados por diversos fatores, como a possível baixa na expectativa de vida que a epidemia de dengue e a violência ameaçam provocar”, esclareceu.

Para Flávia Oliveira, a educação está sendo incorporada na cultura brasileira. Ela afirmou que mesmo grande parte das crianças que trabalham nas ruas costumam estar matriculadas na escola. “Mas temos outros problemas, como a taxa de matrícula no ensino médio que está de 60% e a qualidade do ensino público. E, claro, essas crianças não deveriam estar trabalhando”, apontou ela.

A palestrante também comentou a qualidade do crescimento do PIB brasileiro. “Ele é um balanço de tudo o que é produzido pela indústria, o comércio, o setor de prestação de serviços, o agropecuário e outros agentes econômicos produzem. O investimento público e privado também está inserido nesse cálculo. No caso brasileiro, cerca de 2/3 do PIB se devem ao aumento do consumo. Mas isso não significa que tenha sido um crescimento de ma qualidade, já que eram demandas reprimidas’”, disse.

— O uso do IDH nas coberturas serve para estabelecer parâmetros e prover comparações mais objetivas entre condições de vida em lugares e entre populações diferentes. Também auxilia ao confrontar autoridades ao avaliar a qualidade das suas políticas públicas e sociais. É um grande expositor das contradições brasileiras, mas não diz detalhes, é muito básico – explanou.

— O jornalismo tem sido muito imediatista e pouco reflexivo. É preciso abandonar o etnocentrismo classe média-branco-ocidental. Temos vários casos de ignorância quanto ao que acontece ao nosso lado, não ouvimos tanto regiões como Caxias, que se tornou uma potência econômica sem que nenhum de nós percebesse o que se passava -, refletiu a colunista de economia.