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100 anos de Oscar Niemeyer em poesia, desenho e música

 Música, declamações, desenhos e maquete marcaram o lançamento do livro “Niemeyer -100 anos”, no Fórum de Ciência e Cultura (FCC/UFRJ). Organizado pelo Centro de Letras e Artes (CLA), a obra reúne trabalhos artísticos cujo tema principal é o centenário do mais famoso arquiteto brasileiro.

A coletânea é composta por impressões pessoais de estudantes das unidades de Arquitetura, Belas Artes, Letras e Música, que se expressaram a respeito de monumentos arquitetônicos, com uma linguagem peculiar, como a que segue no poema do estudante de Letras, Jimmy Charles Mendes:

“(…)
Ao sentido da arte é aguçado o delírio
Do belo nas esquinas.
Pois é no contorno cândido do detalhe
Que se arquiteta a vida”.

De acordo com o coordenador de Extensão do CLA, José Mauro Albino, o objetivo do livro, além da homenagem a Niemeyer, é permitir aos estudantes das quatro unidades do Centro o reconhecimento de seu trabalho: “a idéia era abrir espaço para a publicação também, que pode ajudar o aluno em sua carreira”.

Além das manifestações artísticas, o livro traz um texto de Roberto Segre, professor da Faculdade de Arquitetura (FAU/UFRJ), que relaciona imagem com poesia, História e arte, mostrando como esses elementos estão ligados às obras do homenageado.

– Não se pensou em fazer uma biografia para os 100 anos de Niemeyer, completados em 15 de dezembro de 2007. Pensou-se em trazer uma interpretação dos alunos sobre as imagens do homem que, com genialidade, construiu quase 300 obras – explicou o professor.

No início do evento, Segre proferiu uma palestra que mostrou algumas obras de Niemeyer e seu relacionamento com a geometria, com a natureza e com as mulheres. Durante a apresentação, ele evidenciou o traço e a curva do arquiteto ao longo de sua carreira.

Também presente no evento, o decano do CLA, Leo Soares, não se absteve de dizer algumas palavras sobre o que ele chamou de “orgulho nacional”:

– Seria pretensão falar alguma coisa sobre a carreira e as obras desse ícone do Brasil, portanto me proponho a uma reflexão mais humanística: Niemeyer traduz, em seu comportamento e relacionamento, a espontaneidade e naturalidade, somente observadas nos que possuem qualidade.

A noite do lançamento do livro terminou em grande estilo com a apresentação de peças compostas pelos alunos da Escola de Música para a ocasião. O desafio de transferir um desenho para uma idéia musical foi alcançado com êxito e aprovado com fortes aplausos.

A composição vencedora do concurso, escrita por Marcelo Rauta, seguiu a lógica da estrutura arredondada da Igreja de São Francisco, construída por Niemeyer na cidade de Belo Horizonte. O compositor escreveu a peça em três partes, cada uma delas representando um momento: “Igreja de São Francisco: planejamento e construção”, “Missa matinal” e “Festa da quermesse”.

– Na peça “Trio No 3”, eu escrevi as notas para a flauta  e para o fagote, com um contorno que imita o desenho da Igreja de São Francisco, ou seja, dá para comparar as ondas da partitura com as da obra arquitetônica. Queria que as pessoas ouvissem e imaginassem – esclarece Rauta.

Passar a idéia central da música para o publico era também a preocupação de André Januário, aluno do 8ª período de Música, que, junto com um pianista e um flautista, executou “Trio No 3” com o fagote.

– É difícil tocar para o público que temos aqui, porque esse tipo de obra exige um apuro muito mais aprofundado. Quando tocamos para leigo, temos que procurar o máximo o que a obra quer dizer e passar todo o sentimento, para que o público possa entendê-la em sua plenitude.