Aconteceu na sexta-feira, dia 9 de novembro, o seminário “Novos Rumos da Cultura da Mídia”, organizado por Micael Hershmann, coordenador do Programa de Pós-graduação em Comunicação (PPGCOM) e do Núcleo de Estudos e Projetos em Comunicação (NEPCOM) da UFRJ, e João Freire Filho, vice-coordenador do NEPCOM.
O evento, em comemoração aos 15 anos de existência do Núcleo de Estudos, visa a análise de tendências da cultura midiática, a partir do enfoque em mudanças significativas nos campos tecnológico e comunicacional que refletem na vida social e política. Para a discussão, o evento contou com os coordenadores do evento na mesa de abertura e com os especialistas Carlos Alberto Messeder Pereira, pesquisador da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), Marcelo Kischinhevsky, professor-adjunto de Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), João Francisco de Lemos, cientista social pela PUC-Rio e mestrando em comunicação pela Escola de Comunicação (ECO/UFRJ), e Henrique Antoun, professor do PPGCOM da UFRJ e pesquisador do CiberIdea (Núcleo de pesquisa em tecnologia, cultura e subjetividade, da ECO), para o primeiro Painel.
Herschmann abriu o ciclo de debates, relembrando as realizações do NEPCOM desde 1992, ano em que o grupo começou suas atividades. “A produção do Núcleo foi bastante expressiva ao longo desses quinze anos. Já passaram pelo grupo mais de 40 bolsistas de iniciação científica e de projetos de pesquisa, uma centena de teses e dissertações defendidas e mais de 300 monografias orientadas por nossos professores. Os membros do NEPCOM publicaram ao todo 21 livros, tanto individuais quanto coletivos, além de mais de 200 artigos tratando de temas variados como violência, nação e identidade, cultura e globalização, gênero e sexualidade, arte e mídia, consumo e cultura e indústria do entretenimento, entre outros assuntos de grande relevância na área da comunicação”, estima o professor.
João Freire por sua vez, define os objetivos do ciclo de palestras, lembrando que os assuntos relacionados durante o evento compõem o livro “Novos Rumos da Cultura da Mídia: Indústrias, Produtos, Audiências”, organizado por ele e por Micael Herschmann. “A proposta é recuperar a memória do núcleo, partindo do estudo de temas contemporâneos e reunindo em volta da temática uma reflexão sobre os novos rumos da cultura da mídia, que se apresenta como um campo mutável, vasto e geralmente de difícil apreensão, em que a cada dia surgem novos objetos empíricos, que por sua vez geram novas reflexões e novos interesses teóricos”, esclarece o coordenador.
Entretenimento, Tecnologia e Comunicação
Carlos Messeder, o primeiro palestrante da manhã, analisou as novas formas de publicidade, a partir da importância da fruição, do espetáculo e da experimentação na sociedade atual. “Tem surgido uma nova lógica do mercado e valorização das marcas no incremento da relação entre organizações e seu público, paralela à necessidade da produção de ferramentas para avaliar o peso do simbólico, dos intangíveis. Atualmente, começa a surgir um diálogo de marcas, ocorrendo uma assimilação de conteúdo. Como exemplo, pode-se destacar o “Espaço Oi”, no Rio Fashion Week, em que a percepção da marca se fazia pela composição do ambiente, sem qualquer citação ao nome da empresa. Outra demonstração dessa nova lógica foi o “Red Bull Air Racing”, evento organizado há alguns meses no Rio de Janeiro, que atraiu grande público para uma nova modalidade esportiva. Esse modo de fazer referência às marcas, associando-as a eventos já existentes e consagrados ou a criação de novos, formam as chamadas arenas da comunicação”, explica o especialista, que também relacionou as diretrizes de produção, concorrência, consumo e informação como produto.
Kischinhevsky, por sua vez, fez uma análise a respeito das novas plataformas e atribuições do rádio. Segundo o palestrante, seu objetivo é investigar “o processo de segmentação do rádio via internet, e o papel desempenhado pelos portais e diretórios, que classificam e hierarquizam as emissoras, proporcionando-lhes visibilidade num mercado extremamente pulverizado”, conta o especialista, que acredita também que as novas modalidades de radiodifusão, como web rádios e podcasting, podem trazer “novas perspectivas para a mídia sonora apesar de esvaziadas tanto do ponto de vista econômico, como perda de receitas publicitárias, quanto cultural, no que diz respeito a reordenação da indústria da música, perda de relevância no processo de negociação de identidades, entre outros fatores”, explica Marcelo.
João Lemos, então, aborda o tema “telefones celulares: mobilidade e entretenimento”, estabelecendo uma trajetória de conversão do telefone celular em novo veículo de mídia. “Os celulares permitem um regime de deslocamento, a partir da utilização de uma mídia de uso pessoal e direto, que acompanha o usuário e funciona como uma extensão do corpo”, conceitua o especialista, que ainda apontou os usos criativos dos celulares, acompanhado de sua emergência como provedores portáteis de entretenimento para consumo em contexto de mobilidade: “ao mesmo tempo, o aparelho pode ser usado para o domínio e liberdade. Para um jovem, por exemplo, o celular pode representar o controle exercido pelos pais e a possibilidade de comunicação, através de ligações e mensagens sms, e de entretenimento, por downloads de jogos e aplicativos, aliada à mobilidade”, exemplifica Lemos.
A última palestra da manhã foi proferida por Henrique Antoun, sobre o tema “código de luta por autonomia na comunicação em rede”. O professor definiu a diferença entre lei simbólica e protocolar, sendo esta última aquela que se estruturaria no medo da punição, tratando então do “confronto entre o poder da informação e a potência da comunicação na Internet’, conforme define o palestrante. Antoun analisa, por fim, a imposição do código como uma limitação de forma direta, examinando a questão do site Digg. “Nesse episódio, ocorreu a manifestação dos usuários do site contra o apagamento de mensagens de divulgação na internet do código de proteção do HD-DVD e BLU RAY. A partir deste caso, é possível discutir os limites e possibilidades da web 2.0 e da sharing economy na luta da multidão por autonomia”, conta o especialista.
Após as exposições, a mediadora do primeiro painel do evento, Ana Paula Goulart Ribeiro, professora adjunta da ECO e coordenadora do curso de jornalismo, abriu espaço para as dúvidas e comentários do público.