Termina hoje, dia 9 de novembro, o I Encontro com Mestres Populares, que comemora os 20 anos da Companhia Folclórica do Rio e promove a cultura popular. A comemoração foi realizada em diversos lugares da Escola de Educação Física e Desportos com diversas atividades, como oficinas, palestras e debates sobre o tema.
De acordo com uma das responsáveis pelo evento e coordenadora da Companhia Folclórica do Rio, Eleonora Gabriel, os costumes populares têm cada vez mais importância. “No panorama atual essa cultura local está sendo ainda mais valorizada, talvez por conta dessa mundialização que vivemos. Na verdade, esse folclore está presente em nosso cotidiano, não só no das pequenas cidades” declarou a coordenadora.
Eleonora também lamentou que muitas vezes as iniciativas culturais desenvolvidas na Universidade acabam não sendo tão conhecidas. “Não sabemos de diversos projetos que acontecem nos campi. Muitas pessoas têm desenvolvido trabalhos de arte e cultura que deveriam ser mais valorizados pela UFRJ, como por exemplo a própria Companhia Folclórica” finalizou ela.
Jongo e Folia de Reis
As duas primeiras oficinas do encontro tratavam do Jongo e da Folia de Reis, duas tradições presentes no Rio de Janeiro. O Jongo é de origem afro-brasileira, que mistura dança, canto, a batida dos tambores e uma cultura oral. Parte do grupo “Jongo da Serrinha” estava presente no evento, onde falaram sobre a sua tradição e ensinaram os presentes a participar da roda, dançando e cantando.
De acordo com Marmela, uma das fundadoras da ONG Jongo da Serrinha e que participa como cantora nas rodas, o grupo “Jongo da Serrinha” utiliza principalmente três tambores para sua música: o Caxamgu que é a base da sonoridade e dá a sustentação para a dança, o candongueiro o mais agudo e que servia também para dar o passo da fuga para os quilombos e o tambú que dá a virada.
— As letras do Jongo são todas feitas em metáfora, de forma que temos que decifrar os versos. Os negros antigamente usavam o jongo para marcarem encontros, falarem da família e marcarem fuga —, afirmou Luíza Marmela. Ela também lembrou a crueldade dos senhores de engenho, que obrigavam os escravos, após um árduo dia de trabalho na lavoura, a apresentar a dança e a música dessa tradição para seus convidados e alertou que os grupos de Jongo de alguns lugares, como no morro da Congonha e no da Estácio.
Já a Folia de Reis é de origem portuguesa e utiliza música, dança e poesia para comemorar o nascimento do menino Jesus. Seu enredo lembra a viagem que os três reis magos fizeram a Belém para encontrá–lo. A tradição estava representada pelo grupo “Flor do Oriente”, um dos mais antigos desse costume.
O “Flor do Oriente” foi fundado em 1872 em Miracema, no estado de Minas Gerais, por Manoel Vicente de Morais. Passando pelo sul do país e pelo Espírito Santo antes de chegar ao Rio de Janeiro em 1943, para se manter vivo, o grupo se adaptou aos novos tempos ao adotar outros ritmos, mas sem deixar para trás a sua tradição. “A mudança de ritmo é para chamar a atenção de pessoas mais jovens para perpetuar o conjunto” declarou Rogério de Morais, atual mestre da folia e responsável pelo grupo.
Uma das características mais marcantes da “Folia de Reis” são os palhaços. Geralmente, a folia sai com três deles, que representam os guerreiros de Herodes. Na apresentação do evento, o palhaço presente mostrou uma poesia musicalizada, tratando de temas do cotidiano e em torno da figura do malandro. Muitas vezes eles constroem grande parte dela na hora, de improviso.
— Normalmente quando conseguimos viajar é com nossos próprios recursos. Exceto em casos raríssimos encontramos um ‘patrocínio’ como um deputado que pagou uma viagem nossa para visitar outra ‘Folia de Reis’ — disse o responsável pelo grupo. De acordo com ele, a “Folia de Reis” tem passado por dificuldades devido as despesas que a locomoção acarreta, de modo que só restam sete grupos em Caxias, cidade do “Flor do Oriente”.