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Estado, Democracia e Revolução

 No segundo dia do evento “A atualidade do Socialismo e as lições da História”, promovido pela Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ESS/UFRJ) e pelo Laboratório de Estudos Marxistas (LEMA), montou-se uma mesa-redonda a fim de expor o tema “Estado, democracia e revolução”. Para o debate, realizado na terça-feira, 13 de novembro, no salão Pedro Calmon, às 14h30, no campus da Praia Vermelha da UFRJ, foram convidados Virgínia Fontes, especialista em História e Marxismo, e Antônio Carlos Mazzeo, cientista político-social.

Virgínia iniciou a discussão enfatizando a importância do discurso antiimperialista de Lênin no período que antecedeu à primeira Guerra Mundial — caracterizada pelas disputas das grandes potências globais, interessadas em dominar a dinâmica político-econômica das antigas colônias. Segundo a historiadora, o maior conflito do início do século XX pode ser considerado democrático, na medida em que ultrapassou os limites do exército e englobou o universo civil. “A intenção era convocar a população em massa para uma luta direta, levando à carnificina”.

Em resposta ao impulso da formação de grandes monopólios, regidos pelo capitalismo, Lênin exaltou a necessidade de organizar a massa popular a fim de possibilitar a erupção de um movimento revolucionário. A gradativa concentração do processo produtivo gerou, ao longo dos anos, mão-de-obra excedente, compondo o que foi considerado por Virgínia a maior tragédia social do nosso tempo. A grande oferta de trabalhadores cria um clima confortável ao capitalismo. Tal regime sobrevive às custas da exploração do operariado, que somente aceita condições degradantes de trabalho porque é constantemente movido pelo fantasma do desemprego.

Mazzeo discursou em seguida. Ele ressaltou a importância do ressurgimento da Revolução Russa como tópico de discussão acadêmica, relembrando o papel do operariado como protagonista da luta social. O combate à estrutura do Estado estava presente na pauta reivindicatória dos operários. Tal idéia foi preconizada por Marx, mesmo antes da eclosão de grandes manifestações proletárias. O objetivo era desconstruir os privilégios da burguesia mantidos pelo Estado, conferindo-lhe um viés comprometido com a classe trabalhadora. “O passo final era dissolver, gradativamente, o Estado proletário em uma sociedade de não-Estado”, conclui o cientista.

Analisar o percurso do socialismo no século XXI, de acordo com Mazzeo, é uma prática positiva. “Isso permite que possamos apontar erros do regime e identificar como realizar o que ficou faltando na tentativa iniciada pela União Soviética”, argumentou o cientista político. O grande objetivo de Lênin e seus companheiros era desmontar a democracia burguesa, que apenas finge a igualdade entre os cidadãos, montando internamente um esquema de privilégios para os detentores dos meios de produção. “A ditadura do proletariado era necessária para dar um fim a esta farsa e implantar uma estrutura social verdadeiramente igualitária”, afirmou. Por fim, Mazzeo deixou como o recado a necessidade de uma ação revolucionária do povo para reviver um socialismo melhorado.