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Conselheiros divulgam manifesto à Comunidade da UFRJ

Trinta e oito membros do Conselho Universitário da UFRJ (Consuni) assinam carta dirigida para a UFRJ acerca dos fatos ocorridos na sessão do Consuni de 18/10.

Trinta e oito membros do Conselho Universitário da UFRJ (Consuni) assinam carta dirigida à Comunidade da UFRJ na qual, além de relatarem os fatos da sessão do colegiado do dia 18/10, afirmam o "entendimento de que qualquer tentativa de constrangimento para forçar ou impedir deliberações do Conselho Universitário constitui inaceitável atentado à autonomia universitária, origine-se da pressão de forças externas ou de grupos internos à Universidade"; suas convicções de que "a manifestação de idéias, mesmo aos gritos, mesmo acompanhada de estridentes apitos e ribombantes tambores é bem-vinda sempre que se pautar pelo legítimo desejo de participar das decisões. Será, no entanto, repudiada por nós sempre que se transformar em tentativa de impedir a livre manifestação dos outros, sempre que se constituir em ameaça à livre e soberana deliberação das instituições universitárias legitimamente eleitas para exercer a plenitude da autonomia universitária" e expressam a sua "unidade em torno da defesa da institucionalidade universitária e convocar nossa múltipla, diversa e aguerrida comunidade a prosseguir no intenso debate de idéias, na identificação das convergências e consensos, assim como no aprofundamento das divergências".

Leia a ínegra do documento abaixo:

"À COMUNIDADE UNIVERSITÁRIA DA UFRJ

Os Conselheiros Universitários abaixo-assinados, considerando a importância do processo de discussão sobre o Programa de Reestruturação e Expansão (PRE) proposto pela Reitoria e a deliberação tomada na Sessão Extraordinária do Conselho Universitário de 18 de outubro de 2007, dirigem-se à Comunidade Universitária para relatar e analisar os eventos ocorridos durante esta sessão.

No dia 18 de outubro de 2007, conforme ampla e previamente divulgado, reuniu-se o Conselho Universitário em Sessão Extraordinária para deliberar acerca do Programa de Reestruturação e Expansão proposto pela Reitoria.
Tendo em vista o grande interesse e mobilização da Comunidade Universitária, expressos em muitos debates, audiências, propostas, bem como em inúmeras manifestações individuais e coletivas, de unidades, categorias e correntes de pensamento, o Magnífico Reitor, Presidente do CONSUNI, preocupado em garantir a transparência do processo decisório, resolveu, excepcionalmente, realizar a Sessão Extraordinária no Auditório do Centro de Tecnologia, onde haveria acomodações adequadas e seguras para todos aqueles interessados em acompanhar a votação do CONSUNI – transmitida também via Rede Mundial de Computadores (Internet).

Às 9 horas e 30 minutos teve início a sessão, à qual, como esperado, acorreram muitas pessoas, entre as quais diretores de unidades, integrantes de outros Colegiados Superiores, representações das entidades associativas e sindicais, docentes, servidores técnicos-administrativos e estudantes. Esta intensa e rica participação, animada e colorida por faixas e cartazes, expressava, foi este o nosso sentimento, uma primeira e importante conquista do processo, talvez a mais importante de todas: a UFRJ está despertando para o debate de seus destinos e enfrentando de maneira aberta e mobilizadora os desafios que se lhe colocam.

A chegada de um grupo de estudantes manifestando-se ruidosamente contra algumas políticas governamentais e contra a proposta a ser votada naquela sessão extraordinária em nada destoava do ambiente geral. Que estudantes manifestem suas opiniões, nada mais indispensável à vida de uma universidade que se pretende viva, espaço de formação intelectual, profissional e, também, necessariamente, de formação para a Política – com “P” maiúsculo, entendida como exercício cidadão da disputa democrática que tem por objeto o interesse público.

Durante muitos minutos a sessão permaneceu interrompida para que aqueles estudantes entoassem suas palavras de ordem e fizessem ecoar seus tambores e apitos. Após algum tempo, e uma vez alcançadas as condições mínimas para a retomada dos trabalhos, seguiu-se o Expediente. Por solicitação do conselheiro Agnaldo Fernandes, um dos representantes técnicos-administrativos, após consulta aos demais conselheiros, o Presidente do CONSUNI concedeu a palavra, sucessivamente, à presidente da ADUFRJ – Sessão Sindical dos Docentes da UFRJ, Professora Maria Cristina Miranda da Silva, e à representante de um grupo de professores, estudantes e técnicos-administrativos da Praia Vermelha, Professora Mavi Pacheco Rodrigues, que expuseram suas críticas à proposta constante da pauta. Em seguida, ainda no Expediente, o Presidente da sessão passou a palavra ao representante do SINTUFRJ, Sr. Francisco de Assis, o qual, porém, não conseguiu apresentar suas idéias em virtude de gritos e apupos vindos de parte da platéia.

Transcorridos os trinta minutos regimentais do Expediente, o Presidente do Conselho passou ao ponto único da ordem do dia, concedendo a palavra à Presidente da Comissão de Desenvolvimento, Professora Ângela Rocha dos Santos, para a leitura do parecer relativo ao processo em pauta – a saber, Proposta de Programa de Reestruturação e Expansão. Em seguida, embora em meio a muito barulho, manifestou-se a conselheira Professora Lilia Guimarães Pougy, também integrante da Comissão de Desenvolvimento, que leu seu voto em separado. Apesar deste voto ser contrário à aprovação da proposta em pauta, não houve, da parte daqueles que se manifestavam ruidosamente, qualquer consideração pela oradora, como tampouco tinha havido em relação à exposição da Presidente da Comissão de Desenvolvimento.

Estas atitudes sugeriam uma progressiva mudança de atitude de alguns dos manifestantes. Não se tratava mais de expressar idéias e posições políticas, nem tampouco de apoiar aqueles com quem se identificavam e apupar aqueles de quem discordavam. Começava a ficar claro um novo e totalmente distinto objetivo: impedir a discussão e a deliberação do Conselho.

Depois da apresentação dos pareceres oriundos da Câmara de Desenvolvimento, o Presidente do Conselho esclareceu o procedimento para a votação, a saber: votação do parecer da Comissão de Desenvolvimento, ressalvadas as propostas de emendas, que deveriam ser apresentadas e votadas em seguida, caso o parecer e, conseqüentemente, a proposta do PRE viessem a ser aprovados.

Neste momento, o conselheiro Agnaldo Fernandes submeteu à mesa questão de ordem em que argüia que a sessão havia sido convocada para discutir, e não para deliberar acerca do PRE. O Presidente do Conselho rejeitou a questão de ordem, lembrando as decisões anteriores do CONSUNI que haviam determinado a convocação de Sessão Extraordinária justamente para deliberar. O conselheiro Agnaldo Fernandes solicitou, então, que pudesse encaminhar a favor de sua questão de ordem. Tendo recebido o microfone para a defesa de sua questão de ordem, este conselheiro, também ele crítico da proposta em pauta, não conseguiu expressar suas idéias. Quando tentou dirigir-se à platéia, não obteve como resposta senão gritos vindos de várias partes.

Era evidente que alguns dos assistentes da sessão – poucos ou muitos, não é o que importa e fica difícil estabelecer – já haviam tomado sua decisão: impedir, a qualquer custo, que o Conselho Universitário deliberasse. Os primeiros empurrões na platéia e os primeiros choques, assim como a invasão progressiva do palco, onde os Conselheiros estavam sentados, por jovens exaltados, alguns transtornados, aos berros e aos pulos, evidenciavam que o que se pretendia impor era a inviabilização da reunião do Conselho Universitário.

Encerrado o tempo do conselheiro Agnaldo Fernandes para apresentação de sua questão de ordem, instado por expressiva maioria dos Conselheiros, que se consideravam esclarecidos para deliberar, o Presidente do Conselho, Professor Aloísio Teixeira, colocou em votação a proposta do PRE, nos termos encaminhados pela Comissão de Desenvolvimento, ressalvadas as propostas de emenda a serem submetidas, em seguida, à discussão e votação. Por maioria expressiva e inquestionável, os Conselheiros manifestaram-se a favor do parecer e da proposta de PRE.

Em seguida, diante do aumento das tensões e manifestações agressivas que sinalizavam o risco da deflagração de conflitos que, poderiam ser, naquelas condições, de graves conseqüências para a dignidade acadêmica do Conselho Universitário e para a institucionalidade universitária, bem como para a integridade física de conselheiros e assistentes, o Presidente do Conselho deu por encerrada a sessão, ficando a discussão e votação das emendas para a próxima sessão.

Tendo em vista a gravidade dos fatos ocorridos, vimos a público manifestar nosso inteiro apoio à condução serena e firme do Magnífico Reitor. Afirmamos nossa convicção de que as deliberações do Conselho Universitário, assim como de qualquer outra instância colegiada desta Universidade, regem-se pelas regras institucionais e acadêmicas. Afirmamos nosso entendimento de que qualquer tentativa de constrangimento para forçar ou impedir deliberações do Conselho Universitário constitui inaceitável atentado à autonomia universitária, origine-se da pressão de forças externas ou de grupos internos à Universidade.

A decisão tomada pelo CONSUNI em 18 de outubro de 2007 foi legítima e conforme aos preceitos regimentais que orientam as práticas institucionais e o funcionamento do Conselho. O Conselho, numa manifestação de abertura e espírito democrático, aceitou conceder ouvir, durante o expediente, as considerações críticas de não conselheiros, que puderam expressar suas divergências. Houve a manifestação favorável da Comissão de Desenvolvimento e a leitura de voto em separado, este crítico à proposta em pauta. Na contagem, três encaminhamentos contrários e apenas um a favor do PRE. As opiniões foram expressas e as posições estavam amadurecidas.

Independentemente de divergências e convergências, acordos e desacordos no que diz respeito ao PRE, os conselheiros abaixo-assinados reafirmam a legitimidade da votação ocorrida e vêem nela a afirmação institucional e moral da autonomia do Conselho Universitário.

É nossa convicção que a manifestação de idéias, mesmo aos gritos, mesmo acompanhada de estridentes apitos e ribombantes tambores é bem-vinda sempre que se pautar pelo legítimo desejo de participar das decisões. Será, no entanto, repudiada por nós sempre que se transformar em tentativa de impedir a livre manifestação dos outros, sempre que se constituir em ameaça à livre e soberana deliberação das instituições universitárias legitimamente eleitas para exercer a plenitude da autonomia universitária. Bem-vindas são as divergências, repudiadas são e serão a intolerância, a inconseqüência autoritária e a vontade de impor, pela força, idéias ou propostas.

Depois de muitos anos em que o debate de idéias esteve, por assim dizer, amortecido entre nós, os excessos de uns, a arrogância de alguns, a timidez de outros são compreensíveis e não nos devem fazer desanimar. Estamos no caminho certo, discutindo e decidindo, em nossas instâncias internas, qual o projeto universitário que queremos levar adiante, que universidade queremos construir.  A imensa maioria de nossa comunidade, certamente, deseja que a universidade que estaremos construindo nos próximos anos atenda às expectativas e necessidades de uma sociedade que se quer mais justa, menos desigual. No ambiente de livre debate que é próprio à Universidade digna deste nome, lugar do encontro e confronto de idéias, a UFRJ saberá construir o seu caminho para fazer deste anseio coletivo uma realidade.

Em virtude do exposto, poderíamos dizer: “A luta continua”. É este o sentido desta nota: expressar nossa unidade em torno da defesa da institucionalidade universitária e convocar nossa múltipla, diversa e aguerrida comunidade a prosseguir no intenso debate de idéias, na identificação das convergências e consensos, assim como no aprofundamento das divergências. E que este processo conduza à consolidação das instituições universitárias, ao fortalecimento de nossa autonomia e à afirmação de uma UFRJ democrática, aberta à sociedade, diversa, que saberá aliar o compromisso e o mérito científicos com a responsabilidade social.

Rio de Janeiro, 22 de outubro de 2007.

1. Abílio Pereira de Lucena Filho (representante dos Professores Titulares do CCJE)
2. Alberto Gabbay Canen (representante dos Professores Adjuntos do CT)
3. Alcino Ferreira Câmara Neto (Decano do CCJE)
4. Almir Fraga Valladares (Decano do CCS)
5. Ana Canen (representante dos Professores Adjuntos do CFCH)
6. Ângela Ancora da Luz (representante dos Professores Adjuntos-doutores do CLA)
7. Angela Maria Cohen Uller (Pró-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa)
8. Angela Rocha dos Santos (Decana do CCMN)
9. Antonio Fernando Catelli Infantosi (representante dos Professores Titulares do CT)
10. Belkis Valdman (Pró-Reitora de Graduação)
11. Carlos Alberto Murad (representante dos Professores Titulares do CLA)
12. Carlos Antonio Levi da Conceição (Pró-Reitor de Planejamento e Desenvolvimento)
13. Carlos B. Vainer (representante dos Professores Titulares do CCJE)
14. Eduardo de Miranda Batista (representante dos Professores Adjuntos-doutores do CT)
15. Ericksson Rocha e Almendra (representante dos Ex-alunos)
16. Flávio Dickstein (representante dos Professores Titulares do CCMN – suplente)
17. Gabriel Pereira da Silva (representante dos Professores Adjuntos do CCMN)
18. Izaías Gonçalves Bastos (representante dos Técnico-administrativos)
19. Jéferson Roselo Mota Salazar (representante dos Técnico-administrativos)
20. Jorge Fernandes da Silveira (representante dos Professores Titulares do CLA)
21. José Carlos Morais (representante dos Professores Titulares do CCS – suplente)
22. José D’Albuquerque e Castro (representante dos Professores dos Titulares do CCMN)
23. Juliana Neuenschwander Magalhães (rep. dos Professores Adjuntos do CCJE)
24. Laura Tavares  Ribeiro Soares (Pró-Reitora de Extensão)
25. Leo Affonso de Moraes Soares (Decano do CLA)
26. Luiz Afonso Henriques Mariz (Pró-Reitor de Pessoal)
27. Luiz Antônio C. R. da Cunha (representante dos Professores Titulares do CFCH)
28. Manuel Alcino R. da Fonseca (rep. dos Professores Adjuntos-doutores do CCJE)
29. Milton Sergio Santos Madeira (representante dos Técnico-administrativos)
30. Patrícia Figueira Lassance dos Santos Abreu (rep. dos Professores Adjuntos do CLA)
31. Ricardo Iglesias Rios (representante dos Professores Adjuntos do CCS)
32. Roberto de Andrade Medronho (rep. dos Professores Adjuntos-doutores do CCS)
33. Roberto de Moraes Gomes (representante técnico-administrativo)
34. Rodrigo Barbosa Capaz (representante dos Professores Adjuntos-doutores do CCMN)
35. Rui Cerqueira Silva (representante dos Professores Titulares do CCS)
36. Sylvia da Silveira Mello Vargas (Vice-Reitora)
37. Ulisses Caramaschi (representante do Fórum de Ciência e Cultura)
38. Walter Issamu Suemitsu (Decano do CT)"