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O tema aborto ganhou destaque no movimento estudantil quando a União Nacional dos Estudantes (UNE) criou, em 2003, a sua Diretoria de Mulheres. Após mais de três anos de muitos debates sobre a qualidade da atenção à saúde da mulher e os seus direitos sexuais e reprodutivos, as estudantes acreditam que o momento é de enfrentar a hipocrisia acerca do assunto. Com essa proposta, a entidade dá início, no Rio de Janeiro, a uma campanha nacional com o tema "Aborto seguro e legal! Uma responsabilidade do Estado com a mulher".
O objetivo da UNE é provocar e instigar a reflexão da juventude, levando a questão para as salas de aula de universidades. A campanha contará com materiais próprios, como cartilhas explicativas, adesivos, folderes e cartazes.
Momento decisivo
"A idéia é movimentar as instituições de ensino. Vamos fazer palestras, oficinas, mostra de vídeos. Hoje, vivenciamos um momento decisivo para avançar na luta pelo direito da mulher de decidir sobre seu próprio corpo", aponta Ana Cristina Pimentel, diretora de Mulheres da UNE. "Os diversos movimentos sociais têm a tarefa de mostrar as suas posições na perspectiva de superar as condições desiguais em que essa discussão é apresentada pelos setores conservadores da sociedade", convoca a dirigente estudantil.
Na opinião de Lúcia Stumpf, presidente da UNE, esse momento, no entanto, pode se perder no tempo se a sociedade não passar a ter mais informações e compreender melhor a questão. "A nossa proposta é conscientizar a população. Acreditamos que muitas pessoas são guiadas por posições religiosas que não levam em conta os dados atuais sobre o aborto, que apontam a morte de milhares de mulheres que decidem interromper a gravidez indesejada e conseqüências em longo prazo, incluindo a infertilidade. Mas num estado laico, a mulher deve, sim, ter o direito garantido por lei de decidir sobre a gravidez. A lei não torna obrigatória nenhuma decisão, apenas estabelece direitos", afirma Lúcia.
Dados
Segundo levantamento do Ministério da Saúde (MS), a mortalidade materna em decorrência de complicações por abortamento sem condições mínimas de segurança fizeram cerca de mil vítimas de 1996 a 2006. Por outro lado, de 1998 a 2006 foram realizados 14.155 abortos por razões médicas/legais, ocorrendo apenas 3 óbitos nesse período.
No Brasil, 230 mil mulheres procuram o Sistema Único de Saúde (SUS) todos os anos para cuidar de hemorragias, perfurações de útero e outras complicações geradas por cirurgias realizadas em clínicas clandestinas. A prática do aborto clandestino é a quarta causa de óbito materno no país e grande parte dessas mulheres são jovens. Vale lembrar que muitos desses casos não são sequer registrados.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 13% das mortes relacionadas à gravidez têm sido atribuídas a complicações de abortamento inseguro, provavelmente 67.000 mortes anuais. Em todo mundo, por ano, 46 milhões de mulheres interrompem a gestação. Desse total, 20 milhões não têm acesso as mínimas condições de higiene para o procedimento.
"Quando uma mulher recorre ao aborto em condições inseguras, colocando em risco sua saúde e podendo ser presa é porque não quer ou não tem condições de levar a gravidez adiante. Ser mãe deve ser parte de um projeto de vida das mulheres, não uma obrigação. Nenhuma mulher deveria ser obrigada a levar adiante uma gravidez indesejada", pondera a diretora de Mulheres da UNE, Ana Cristina.
Luta latino-americana
Em 28 de setembro será celebrado em todo o continente o Dia Latino-americano e Caribenho pela Legalização do Aborto. A UNE, em conjunto com os movimentos de mulheres, vai organizar manifestações e ocupar as ruas do país para defender o direito das mulheres decidirem sobre seus próprios corpos.
"Precisamos colocar esse tema no dia-a-dia das pessoas. A UNE vem se somar ao movimento de mulheres na luta para que o aborto deixe de ser crime e possa ser realizado nos hospitais públicos, com segurança e respeito. Também lutamos para que todas as mulheres tenham acesso a métodos para evitar a gravidez. O aborto não deve ser um método contraceptivo, mas, sim, um recurso de livre escolha no caso de uma gravidez indesejada", explica Ana.
Assista ao vídeo produzido pela Agência Brasil no link abaixo
http://www.agenciabrasil.gov.br/media/videos/2007/08/31/Aborto.flv/view