Forum reúne psicanalistas, representantes do Ministério da Saúde e da Segurança Pública, e educadores para discutir causas e reflexos da violência social. "> Forum reúne psicanalistas, representantes do Ministério da Saúde e da Segurança Pública, e educadores para discutir causas e reflexos da violência social. ">
Categorias
Memória

Uma abordagem transdisciplinar da violência

Forum reúne psicanalistas, representantes do Ministério da Saúde e da Segurança Pública, e educadores para discutir causas e reflexos da violência social. 

 Mais um debate sobre a violência mobilizou autoridades e pesquisadores na UFRJ. Na última sexta-feira (31), o Salão Pedro Calmon (Praia Vermelha) recebeu Luiz Eduardo Soares, secretário municipal de Direitos Humanos de Nova Iguaçu; José Carvalho de Noronha, secretário de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde; Renata Bondim, conselheira do estado do Rio de Janeiro para Educação; e Joel Birman, professor de Teoria Psicanalítica da UFRJ, que, por cerca de duas horas, debateram, à luz das estatísticas da criminalidade, a complexidade da violência social.

O evento, intitulado “Fórum de Psicanálise, Ciência e Cultura: painel transdisciplinar sobre violência”, foi coordenado por Theodor Lowenkron, docente da Faculdade de Medicina (FM/UFRJ), e dirigido pelo reitor Aloísio Teixeira.

O objetivo norteador do encontro era abordar a violência sob diferentes perspectivas. Luiz Eduardo Soares, que ficou nacionalmente conhecido por escrever o livro “Elite da Tropa”, no qual detalhou o cotidiano dos policiais do BOPE, comentou a criminalidade letal intencional segundo a ótica da segurança pública. De acordo com Soares, ocorrem anualmente no Brasil 45 mil homicídios, o que representa uma média de 27 mortes por conjunto de 100 mil habitantes.

O ex-secretário nacional de Segurança Pública revelou ainda que essa média é quase nove vezes maior entre os indivíduos de sexo masculino, com idade entre 15 e 24 anos, que residem em favelas: “Quando falamos de homens jovens em favelas, as estatísticas sobem para 240 vítimas por 100 mil habitantes. Esse número é superior ao existente em áreas de conflitos, como a Faixa de Gaza, por exemplo. Estamos diante de um genocídio de jovens pobres e, mais frequentemente, negros”, ressaltou Luiz Eduardo Soares, enfatizando o caráter multidimensional das causas da violência.

José Carvalho de Noronha, representando o ministro da Saúde José Temporão, divulgou ações do Ministério da Saúde, como o combate ao uso de armas leves e a campanha contra o alcoolismo entre jovens, por exemplo, que almejam diminuir as taxas de óbitos no país. Noronha mostrou também um quadro de índices de mortalidade por agressões, liderado pelos estados do Rio de Janeiro, de Pernambuco e do Espírito Santo, que evidenciou que as regiões brasileiras mais pobres não são necessariamente as mais violentas.

Já Renata Bondim, ao relacionar violência e Educação, lembrou a necessidade de investimentos em políticas públicas que promovam, em longo prazo, a qualificação do ensino público: “A Educação tem que ser prioridade mesmo. É para as escolas que convergem muitos jovens acossados pela violência. Hoje em dia, eles chegam a uma escola que está fragilizada. Eles não são acolhidos porque os professores que trabalham ali também não são reconhecidos pela estrutura escolar e sofrem com os baixos salários”, observou a conselheira do estado para Educação.

Concluindo o encontro, Joel Birman discorreu a respeito da abordagem psicanalítica da violência. Segundo o professor de Psiquiatria da UFRJ, a agressividade é um traço constitutivo da condição humana, diferenciando-se, no entanto, da crueldade, fenômeno que eclodiu entre os brasileiros a partir da década de 1980, quando se tornaram comuns os casos de roubo de casas que envolviam torturas aos proprietários dos imóveis.

Birman relacionou a criminalidade com o desejo de visibilidade e reconhecimento. Ao praticarem atos anti-sociais, os criminosos pretendem superar sua idéia de invisibilidade social e buscam o reconhecimento simbólico da sua identidade: “Despotencializados de um projeto de futuro, os jovens mergulham em uma violência cada vez mais cruel, onde não basta se apropriar do que é do outro, mas sim destruí-lo”, apontou.

Ao final do forum transdisciplinar, ocorreu o lançamento do livro “Psicanálise interminável ou com fim possível?”, de Theodor Lowenkron, coordenador do evento.