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I Encontro de Psicomotricidade

 O clima no auditório Professor Rodolpho Paulo Rocco na manhã do dia 20 de setembro era de comemoração. O local recebeu o I Encontro de Psicomotricidade da Escola de Educação Física e Desportos (EEFD – UFRJ), organizado pelo projeto Brincante. O tema era “Olhares sobre o brincar”, o evento contou com mesas de debates e palestras sobre o assunto e apresentou ao público presente – no auditório lotado– o trabalho do projeto Brincante, existente desde 2005.

— Acho muito importante realizarmos um encontro sobre psicomotricidade; uma disciplina que entrou no currículo da graduação em 1992, e nos trouxe muitas experiências desde então —, afirmou Waldir Mendes Ramos, diretor da EEFD. Para o professor, o brincar é um tema bastante apropriado para a sociedade contemporânea. “O brincar, hoje, na sociedade capitalista, é apreciado sob perspectivas não imaginadas 40 anos atrás”, comparou o diretor.

Para Waldir Ramos, as crianças não brincam mais, é fundamental o profissional de Educação Física participar do processo de valorização do brincar, relacionando diversos saberes. “O brincar é uma atividade que transcende a Educação Física e passa por diversas áreas. Hoje o brincar está condicionado a certas situações que nós da Educação Física precisamos questionar e trazer para o nosso espaço de trabalho”, opinou o diretor.

O projeto Brincante começou no final de 2005, quando a professora Ruth Cohen percebeu a possibilidade de inclui-lo no setor de onco-hematologia do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG).

A professora e seu grupo observaram os conflitos passados por crianças submetidas a tratamentos de quimioterapia. Os problemas são oriundos desde a perda da identificação estética até a exclusão do ambiente social; muitas vezes a criança precisa ser afastada da escola e dos amigos.

O grupo, então, passou a atuar nas salas de espera – o grande ambiente gerador de tensão para a criança. “Passamos a encontrar um espaço de fantasia nesse ambiente tão complicado. O projeto parte do princípio de que brincar pode ser coadjuvante na cura de uma enfermidade”, conta Andrea Tavares, participante do projeto Brincante. O trabalho ocorre com oficinas diversas, com jogos ou teatro, escolhidas livremente pela criança.

Construção de sujeitos
Os jogos e brincadeiras estão presentes na constituição de todas as civilizações. Assim como a construção da identidade das sociedades, o brincar também é fundamental na construção da subjetividade da criança. “O brincar é o que temos de mais primitivo na nossa relação com o outro e com o mundo. Dessa forma, a criança constrói sua subjetividade”, explicou Carlos Alberto Ferreira, assessor de pós-graduação em Psicomotricidade do Uni-IBMR.

Para o professor, é importante perceber essa construção de vínculo e subjetividade não só nas crianças, mas também nos idosos. O professor explica, brincar ajuda a vinculação do idoso, muitas vezes excluído das relações sociais, brincar ajudar a recriar espaços. “Quando o idoso começa a se reintegrar socialmente, a participar da vida social, todas as doenças desaparecem. O brincar acaba propiciando a saúde pelo estabelecimento desse vínculo”, explicou o professor.

Para as crianças, o brincar serve para criar fantasias auxiliares para vencer os problemas da infância; não são poucos. “Costumamos criar a idéia de na infância tudo ser perfeito. A criança precisa enfrentar uma série de negações, de ‘não-podes’, de frustrações”, afirmou o professor. “Para driblar esses problemas, a criação de fantasias torna-se essencial”, complementa, citando os personagens freqüentes na imaginação infantil, as princesas e os super-heróis. Baseado em todos esses benefícios e ainda devido a eles, o professor finalizou: “Criança saudável é criança que brinca.”