Tecendo o intercâmbio: o desafio do conhecimento sobre o mundo rural, esse é o tema do 2° Encontro da Rede de Estudos Rurais, cuja abertura ocorreu nessa terça-feira, 11 de setembro, no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ – IFCS.
O evento, que vai até 14 de setembro, contou com o apoio do Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural – NEAD (projeto de parceria do Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA e o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura – IICA), da Fundação Ford, da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES (Ministério da Educação – MEC), da Faculdade de Engenharia Agrícola da Universidade Estadual de Campinas – FEAGRI/UNICAMP e do Programa de Pós-graduação de Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – CPDA/UFRRJ.
O painel de abertura foi composto pelo professor Gian Mário Giuliani, representante do IFCS; por Maria de Nazareth Wanderley, professora da Universidade Federal de Pernambuco – UFPE e presidente da Rede de Estudos Rurais; por Adriana Lopes, representante do NEAD; por Roberto José Moreira, professor da UFRRJ e membro do CPDA; por Sônia Bergamasco professora da FEAGRI; Alfio Brandenburg, do programa de Doutorado em Meio Ambiente e Desenvolvimento da Universidade Federal do Paraná – MADE/UFPR; e por Dalva Motta, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária do Pará – EMBRAPA/PA.
Para Maria de Nazareth, é uma satisfação concretizar o 2° Encontro da Rede de Estudos Rurais: “Esta rede congrega inúmeros estudiosos de várias instituições que se dedicam ao conhecimento do mundo rural. O desafio mencionado no tema decorre da convicção que possuímos de que conhecer é, antes de tudo, reconhecer. Compartilhamos a consciência de que uma parcela dos brasileiros vive no mundo rural, não reconhecê-la seria amputar um pedaço do Brasil”, declarou a presidente.
A professora da UFPE garante que classificar como rural não exclui os habitantes do campo, mas os torna específicos: “Particularizar é diferente de isolar, assim como é diferente de diluir em um conjunto indistinto. Compartilhamos igualmente a idéia de que o mundo rural é único apenas em sua relação com a natureza e com a sociedade”, afirmou Maria.
Segundo a presidente, jamais pode-se encarar o desenvolvimento rural como superação do campo , mas como aperfeiçoamento do rural: “Esse progresso se expressa nas riquezas material e cultural do país, que eles [trabalhadores rurais] também ajudam a construir”, disse. Nazareth afirmou que o conhecimento gerado pelos projetos de pesquisa da rede busca ouvir e compreender a palavra, as propostas, as demandas e os sentimentos dos rurais.
Já para Adriana Lopes, a vital relevância da Rede de estudos Rurais é levantar uma questão de interesse institucional: “Essa visão de integralidade do rural, buscando promover a participação dos atores sociais nos processos de formação e concepção das políticas públicas, é um grande salto na democracia no campo e da sociedade em geral”, observou a palestrante. De acordo com Adriana, a rede rural é um espaço que apresenta um aporte significativo em relação ao conhecimento e ao intercâmbio do mesmo, além das discussões sobre as dimensões sociais, econômicas, políticas e reorganizacionais do campo: “Somente assim haverá o resgate e a valorização da memória rural no país”, concluiu a representante do NEAD.
Elisa Guaraná de Castro, do Departamento de Letras e Ciências Sociais da UFRRJ, contou um pouco da história da Rede de Estudos Rurais: “Durante muito tempo o mesmo grupo de estudantes, pesquisadores e profissionais que compõe a rede reunia-se através da Associação Projeto de Intercâmbio de Pesquisa Social em Agricultura – APIPSA com a proposta de aproximar diferentes estudiosos do tema rural”, disse.
A idéia da rede foi repensar a associação sob uma perspectiva virtual, ou seja, que não funcione apenas no momento de encontro: “Ano passado tivemos nosso primeiro encontro na Universidade Federal Fluminense, onde estabelecemos a estrutura da rede, que vai começar a entrar em funcionamento de forma sistemática a partir desse segundo encontro”, afirmou Elisa. A proposta é que os encontros tornem-se bianuais, após a efetivação da rede.
Uma preocupação inicial do projeto era expandir a temática rural para outros meios: “O que temos sentido é que o debate sobre o campo está presente também em outros espaços, porque durante um tempo esse assunto desapareceu de alguns congressos reconhecidos pelas academias de ciências sociais. Achamos que parte do nosso esforço contribuiu para tal mudança”, observou a entrevistada. Não criar um espaço exclusivamente acadêmico é essencial para a eficácia do projeto: “Apesar de ser um encontro acadêmico, estamos recebendo visitas de técnicos e empresas públicas de assistência técnica, justamente para integrar a rede com a ação direta no campo”, declarou Elisa Guaraná.