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Vacina contra a Malária

 Dando continuidade aos encontros científicos promovidos pelo Fórum de Ciência e Cultura para o mês de Agosto, o Salão Pedro Calmon foi reservado para a palestra “Vacina da Malária: fundamentos”, ministrada pelo especialista Victor Nussenzweig, da New York University.

Victor esclareceu um pouco do longo processo biológico, fruto de mais de 20 anos de estudo, que possibilitou avanços na criação de vacinas contra esta doença que atinge principalmente regiões mais pobres, como o continente africano. A começar, distinguiu os diversos parasitas da Malária: Plasmodium falciparum, P. vivax, P. ovale e P. malarie. O primeiro tipo, que predomina na África, é o mais perigoso porque frequentemente leva à morte do infectado. Portanto, é neste parasita que se concentram os esforços de combate.

A história da malária vem principalmente de Roma, onde ocorriam surtos da doença durante o verão. O primeiro pesquisador a descobrir que o parasita era transmitido por mosquitos, explica Victor, pensou ter solucionado o problema ao organizar a matança desses insetos, mas, como se pode constatar, essa medida não é eficaz. Atualmente, a malária é o motivo de 30% a 50% das hospitalizações no mundo e surge como causa de óbito de aproximadamente um milhão de crianças por ano.

O grande obstáculo, segundo o especialista, é que os parasitas revelam alto poder de resistência às drogas anti-malária. A mais eficiente até hoje, Chloroquine, perdeu sua eficiência contra a doença após 16 anos, e esse tempo se torna drasticamente mais curto para os outros medicamentos desenvolvidos desde então. Além disso, malária, ao contrário de doenças como o sarampo e a catapora, pode ser adquirida muitas vezes ao longo da vida.

Victor ilustrou um pouco do ciclo da malária. O mosquito transmissor pica o homem e injeta o parasita, na forma de esporozoíto, na pele. Este começa um longo caminho pelo organismo até chegar no fígado, local em que se desenvolve para a forma de hepatocito e se multiplica aos milhares. Após este período, o parasita atinge a circulação sanguínea, momento em que começam os sintomas da doença, como a febre.

Um dos métodos contra a malária é considerado como uma “vacina altruística”, já que sua função não é a de curar o enfermo, mas sim de não deixar que um homem infectado pela malária, ao ser picado por um mosquito, passe o parasita para este, tornando-o transmissor.

O especialista aponta a importância dos estudos de Ruth Nussenzweig, que coordenou testes bem sucedidos em camundongos. O trabalho consistia em aplicar esporozoítos irradiados no organismo destes roedores, resultando um em satisfatório nível de imunidade. Passando esta técnica para o uso em humanos, foram necessárias algumas mudanças. Diante da impossibilidade de injetar diretamente os esporozoítos irradiados, a saída encontrada foi irradiar os mosquitos transmissores e depois conduzi-los a picar o homem. O nível de imunidade também foi satisfatório, salvo o fato de, para isso, serem necessárias aproximadamente mil picadas, divididas em cem por mês.

Em testes de aplicação de anticorpos nos camundongos, a maior relevância, segundo Victor, foi poder perceber que esse processo destruía a pele do parasita — ainda na forma de esporozoíto e de hepatocito —, coberta inteiramente pela proteína Circumporozoite. Constatou-se também que a pele do parasita é intensamente composta por cargas negativas que são imediatamente atraídas pela cargas positivas que existem no fígado humano, e, ao penetrar neste órgão, o parasita carrega consigo parte da membrana da célula hepática.

Contra o parasita no estágio de hepatocito, o “Interferon Gama”, substância lançada pela célula humana de defesa Linfócito T, tem se revelado eficiente. Além disso, desenvolveram-se vacinas baseadas no estudo da composição do parasita. Nesta linha de pesquisa, foram usadas substâncias que atacassem formas repetitivas de cadeias encontradas no esporozoíto. A vacina RTS,S é um exemplo disso. Acrescenta elementos na composição da vacina contra hepatite, revelando, inicialmente, 44% de imunidade após a aplicação de três doses.

De 2008 a 2010, revela Victor, serão realizados testes na África e, dependendo dos resultados, a vacina será registrada pelo órgão norte-americano responsável, a FDA (Food and Drug Administration). Porém, o especialista conclui sua palestra enumerando as dificuldades no processo contra a malária. No caso da irradiação do mosquito citado acima, há previsões de que é insuficiente a quantidade destes insetos, mesmo criados em colônias, para serem manipulados a fim de montar as vacinas, além de ser necessária a aplicação de dez injeções para criar uma boa imunidade. Na vacina RTS,S a dificuldade está também na quantidade de doses necessárias. “Atuar na África de modo a garantir que todos recebam as três injeções exigidas para surtir o efeito imunológico contra a malária é uma realidade difícil de pôr em prática”, explica o especialista.

Victor argumenta que apesar de a medicação contra a malária não estar pronta, as vacinas que estão sendo desenvolvidas já revelam um importante avanço na área. Um ganho muito importante, na opinião do estudioso, foi também a possibilidade de entender a fundo a complexidade da biologia do parasita e do ciclo no mosquito transmissor e nos humanos.