Categorias
Memória

A Neurocirurgia Psiquiátrica Contemporânea em Sessão do IPUB

Na última sexta-feira, dia 24 de agosto, o Instituto de Psiquiatria (IPUB) da UFRJ ofereceu mais uma sessão do centro de estudos. Nessa semana, o palestrante convidado foi José Augusto Nasser, doutor em ciências pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e professor na Columbia University – New York, Estados Unidos – para discutir sobre a neurocirurgia psiquiátrica contemporânea.

Nasser inicia a palestra explicando que o termo que a nomeia abrange muitos dos critérios atuais de tecnologia aplicada ao diagnóstico, tratamento e intervenção cirúrgica no ramo da psiquiatria. “No nível alcançado de desenvolvimento tecnológico se tornou possível não apenas diagnósticos fantásticos, como também um maior conhecimento da patologia de distúrbios psiquiátricos, através de equipamentos novos, proporcionados pela era da informatização e da robótica”, reflete o médico, que completa: “hoje navegamos no cérebro com muita tranqüilidade e pontualidade. É possível agora, por exemplo, captar e estimular pontos mínimos de neurônios, o que antes era muito difícil”.

Segundo o palestrante, o uso de exames funcionais permite o melhor entendimento da doença e é de grande importância para escolha da abordagem cirúrgica, que pode ser por ablação, por fenômenos aumentativos ou rádio-cirurgia. O médico esclarece, durante a sessão de estudos, cada um dos métodos citados: “No primeiro procedimento, é implantado um eletrodo na área correspondente ao distúrbio e faz-se uma lesão por rádio-freqüência de desnaturação protéica. A ablação é um método viável para os procedimentos cirúrgicos no país, pois não apresenta um custo muito elevado e mostra resultados bem estabelecidos na continuação do tratamento”, esclarece o especialista.

Já a segunda abordagem cirúrgica apresentada, fenômenos aumentativos, mostra-se menos agressiva, pois, ao contrário do método da ablação, não é implantado nenhum eletrodo no corpo do paciente. “Através dos fenômenos aumentativos, é colocado um marca-passo que estimula a área afetada. Esse procedimento já foi usado na epilepsia, mal de Parkinson e em movimentos involuntários. Em 2002, teve início um estudo mais aprofundado com estimuladores cerebrais, o que permitiu o surgimento de vários grupos médicos que utilizam o estímulo em pacientes com quadros de depressão, transtorno depressivo-compulsivo e com impulso de agressividade motivada”, explica Nasser. Ele expõe também outras áreas de aplicação desse método: “Existe também o emprego do estímulo em casos ainda protocolares, como ensaios com pacientes obesos, controle do apetite e bulimia, além de pesquisas de estimulação aliada à terapia genética. Nesse último aspecto, a previsão é que, dentro de 20 anos, seja possível um maior conhecimento sobre a reposição de certas áreas neuronais que apresentem alguma deficiência, causando distúrbios comportamentais”, exemplifica.

O especialista esclarece também, em exclusividade para portal de Notícias da UFRJ, sobre o terceiro método cirúrgico destacado, a rádio-cirurgia. Este procedimento não foi incluído na palestra devido à existência de um único hospital, em São Paulo, que apresenta condições e equipamentos para sua aplicação. A rádio-cirurgia possui uma abrangência limitada, pois não usa o estímulo em seu tratamento. “Dessa forma, apenas algumas áreas podem ser tratadas através desse procedimento. O mais realizado é, por exemplo, a capsulotomia anterior. A cápsula interna consiste de fibras axonais que correm entre o córtex cerebral e as pirâmides da medula. A parte anterior dessa cápsula é responsável, entre outras funções, pelo comportamento emocional. Então, uma vez que a entrada de pulsos adversos é reduzida na cápsula anterior, onde já são bastante condensados, conseguimos diminuir muito os fenômenos patológicos que são tanto compulsivos quanto obsessivos”, explica Nasser.

Durante toda a palestra, José Augusto destaca o procedimento legal da neurocirurgia psiquiátrica, que deve ser trabalhada dentro de um protocolo. “Esses procedimentos necessitam de uma referência, porque existe uma responsabilidade muito grande do grupo psiquiatras que indica a cirurgia e controla os remédios. Tudo isso é feito em cima de escalas: se for depressão, usa-se a escala de Hamilton, se for transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), usa-se YBOCS. O emprego das escalas avalia cada situação, evitando a opinião pessoal”, esclarece o médico, que completa: “ainda precisamos desenvolver mais a área neurocirúrgica em nosso país, aprimorando os centros de referência. É fundamental que exista o acesso a todas as possibilidades de tratamento que se apresentarem” conclui o especialista.