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Memória

Nova molécula contra o câncer

Pesquisadores do Programa de Oncobiologia da UFRJ desenvolveram uma nova substância candidata a quimioterápico. Criada a partir da matéria prima da Lausona, substância encontrada na tintura henna, o candidato a quimioterápico foi desenhado pelos pesquisadores Chaquip Daher Netto, Paulo Roberto Ribeiro Costa, entre outros do Laboratório de Química Bioorgânica (LQB) da UFRJ. Chaquip esclarece que a nova  molécula tem como alvo células de leucemia que expressam o fenômeno de resistência a múltiplas drogas (MDR, na sigla em inglês). O fenômeno MDR é a ausência de resposta a tratamentos quimioterápicos que certos pacientes apresentam.
 
A substância protótipo, explica Chaquip, surgiu do conhecimento anti-tumoral expresso pelo Ipê unido a uma outra substância, a mitomicina C, isolada da bactéria Streptomyces caespitosus  e utilizada na clínica oncológica. Na verdade, já era conhecida há muito tempo a atividade anti-cancerígena de três substâncias do Ipê: lapachol (que chegou a ser usado na clínica), alfa-lapachona e beta-lapachona. Então, foi a partir desses conhecimentos iniciais, que o Laboratório da UFRJ começou a desenhar a atual molécula que já foi testada em células leucêmicas MDR por pesquisadores do Laboratório de Imunologia Tumoral, também pertencente ao Programa de Oncobiologia da UFRJ.
 
Os testes de viabilidade com linhagens de células de leucemia humana que não respondem a outros quimioterápicos foram realizados depois de três dias de tratamento com a substância, sendo que houve uma morte celular de 50%. E ainda experimentaram em células tumorais de pulmão e o resultado foi igualmente satisfatório com 50% de morte celular. Vale lembrar, que o câncer de pulmão é um dos piores em termos de tratamento. Por outro lado, experimento semelhante foi realizado com linfócitos e mostrou que a viabilidade, depois de três dias de tratamento, foi de 70%, mesmo numa concentração três vezes superior, ou seja, a substância mata pouco as células sadias do organismo.
 
As esperanças na nova substância, denominada LQB 118, são muitas. Não é à toa, que os dois grupos pertencentes ao Programa de Oncobiologia, estão animados com o interesse de uma industria farmacêutica nacional pela substância e também com o depósito em breve de patente. Chaquip diz que o trabalho resultou numa molécula otimizada: fácil de ser construída, que consome menos tempo e muito, muito mais barata com custo estimado em menos 70% do que as substâncias desenvolvidas pelo LQB na primeira geração e, ainda por cima, com eficiência e ótimo resultado: com apenas três micromolar, a substância matou 50% das células leucêmicas. A princípio, essas propriedades permitirão a síntese em larga escala. O projeto que já recebeu recursos do edital do Programa de Oncobiologia  é também financiado pela Finep. O grupo já estudou seis outras moléculas anti-tumorais e iniciam agora estudo com quatro outras derivadas da substância 118. O próximo passo, explica Paulo Roberto Ribeiro Costa, coordenador do projeto, é o estudo in vivo com camundongos.
 
O Programa de Oncobiologia

Idealizado há seis anos, o Programa de Oncobiologia é uma rede no Rio de Janeiro de pesquisa contra o câncer. Nos primórdios reunia cerca de 40 pesquisadores. Porém, no último ano, num processo de credenciamento/re-credenciamento houve um incremento e, hoje, mais de 100 pesquisadores de instituições como a UFRJ, Inca, Uerj e UFF estão reunidos em torno de 27 temáticas de pesquisa em câncer.
 
Coordenado pelo cirurgião oncológico, Marcos Moraes – ex-diretor do Inca por nove anos e atual Presidente da Fundação Ary Frauzino para a Pesquisa e Controle do Câncer -, o Programa conta com investimentos significativos para a pesquisa contra o câncer. As temáticas investigadas no âmbito do Programa percorrem uma gama diferenciada de tumores como tireóide, próstata, rim, pênis, colo de útero, além de estudos sobre os efeitos da contaminação ambiental e neoplasias em modelos animais; relação entre aneuploidia (número alterado de cromossomos), câncer e diferenciação de células-tronco; e mecanismos de ação de novos quimioterápicos.