Foto: Agência UFRJ de Notícias |
Nova unidade de asma é aberta ao público |
Embora representem somente 5% do total de asmáticos, os pacientes com asma de difícil controle formam um grupo expressivo, que consome volumosos recursos do Sistema Único de Saúde e até mesmo da iniciativa privada. Não existia um centro de tratamento especializado no Brasil para esses doentes, mas ele foi inaugurado ontem, dia 9 de julho, no 4º andar do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Apesar do pioneirismo, a esperança de seus idealizadores é de que outros estados se mobilizem na construção de suas unidades.
Núcleo multidisciplinar que integra as áreas de pneumologia, imunologia, gastrologia, enfermagem e assistência social, entre outras, a Unidade de Asma de Difícil Controle foi gerada a partir de recursos próprios da Universidade, mas sua construção recebeu apoio das indústrias farmacêuticas Novartis e GlaxoSmithKline. Além de fazer o diagnóstico da doença – que muitas vezes é impreciso ou incorreto – a unidade se responsabiliza por toda a rotina de atendimento ao paciente com asma de difícil controle (ADC), que envolve questionários, tomografias de alta resolução do tórax e dos seios da face, testes cutâneos e de função pulmonar e espirometria.
Lideraram a inauguração da Unidade de Asma de Difícil Controle, que aconteceu no auditório Alice Rosa, a pneumologista Marina Andrade Lima e a imunologista Solange Oliveira Rodrigues Valle, ambas do HUCFF – José Roberto Lapa e Silva, também do departamento de Pneumologia, mediou a palestra. Solange, que é coordenadora do RespiraRio, iniciativa da Gerência do Programa da Criança, da Secretaria de Saúde do município do Rio de Janeiro, forneceu dados importantes sobre a incidência de asma no mundo, no Brasil e no Rio, mostrando a prevalência da doença na cidade e enfatizando a enfermidade no âmbito infantil e juvenil. Para ela, a asma deve ser entendida como um problema global:
– Os custos despendidos com o tratamento da asma hoje, segundo a OMS, são superiores aos gastos com a tuberculose e a AIDS juntas. Quase 300 mil pessoas em todo o mundo sofrem desse mal e o Brasil detém o 8º lugar no ranking dos países com prevalência de asma – explicou Solange. Segundo ela, 20% dos asmáticos brasileiros são crianças e adolescentes e a doença acarreta em torno de 20 mil óbitos por ano. Embora o município do Rio não tenha estatísticas precisas e apenas estime um público-alvo, cidades próximas como Nova Iguaçu e Seropédica aplicaram questionários nas escolas e detectaram grande número de possíveis doentes.
Marina Lima, coordenadora da unidade de Pesquisas Clínicas em Pneumologia, dedicou a unidade à avó, que faleceu há 12 anos devido a uma crise de asma, e à Pâmela, paciente com asma aguda do HUCFF, presente a cerimônia. Esse tipo de manifestação da asma, segundo ela, inviabiliza o uso comum da corticoterapia oral, pois acarreta efeitos colaterais desagradáveis, como osteoporose e hipertensão arterial. Em sua apresentação, a professora mostrou como é difícil diagnosticar a asma de difícil controle, uma vez que os fenótipos da doença são graduais e fatores externos interferem em 80% dos pacientes:
– O tabagismo, a exposição ambiental à fumaça, as desordens psiquiátricas, os refluxos gastroesofágicos, as doenças naso-sinusais, a exclusão de outros diagnósticos por parte dos médicos, o uso de medicamentos concomitantes e a administração inadequada de dispositivos inalatórios tornam muito complicada a certeza do diagnóstico – enumerou Marina, que ressaltou a importância de cada setor na nova unidade, como a assistente social, a secretária, o técnico em espirometria e os enfermeiros, que desempenham papel fundamental no apoio ao paciente asmático.
A mesa de abertura da cerimônia ainda contou com a presença do diretor do Hospital Universitário, Alexandre Pinto Cardoso, do diretor do Instituto de Doenças do Tóraz, Gilvan Renato Muzy, de Mário José Bueno, diretor do Departamento de Gestão Hospitalar no Estado do Rio de Janeiro do Ministério da Saúde e do presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), Antonio Carlos Lemos. Dentre os representantes da universidade estavam o decano do Centro de Ciências da Saúde, professor Almir Fraga, e o diretor da Faculdade de Medicina, Antônio Ledo.
Com a construção de uma unidade de asma especializada, o Hospital Universitário, que, segundo seu diretor, já contabiliza aproximadamente 20.500 consultas por mês, cumpre sua missão de dar assistência à saúde de alta complexidade. “Temos compromisso em fazer do HU o melhor hospital do Rio de Janeiro, sempre integrado ao Sistema Único de Saúde. Para isso, temos que dar conta daquilo que nos prestamos a fazer, e a Unidade é um desses projetos de atenção diferenciada que pretendemos tocar adiante”, ele afirmou.
Na solenidade, Mário representou o Ministro da Saúde, José Gomes Temporão, e o Secretário Estadual de Saúde, José Noronha, e parabenizou a iniciativa, que em sua opinião qualifica a saúde do Rio de Janeiro. Para ele, hoje existe uma possibilidade ímpar de solucionar o que ele chamou de “enigma da saúde do Rio” – que tem a maior rede pública de saúde do país e recebe os maiores recursos do governo, mas também é a cidade onde existe um grande isolamento entre os conjuntos de hospitais municipais, estaduais e federais. Antonio Lemos, da SBPT, ressaltou que as doenças respiratórias são muito prevalentes e que é importante se manter a qualidade de vida dos pacientes asmáticos.
O decano Almir Fraga apontou a Unidade de Asma de Difícil Controle como um exemplo de que esse enigma pode ser superado. Para ele, a associação de instituições qualificadas e com comprometimento definido na área de saúde, como a que ocorreu para o surgimento da Unidade, é muito importante, desde que seja preservada a autonomia administrativa de cada uma. Já Antônio Ledo observou a importância da unidade como um novo local de aprendizado para os alunos da UFRJ e qualificou a asma como um objeto de estudo complexo e subjetivo, que traz desafios para a produção de conhecimento.