Alunos da Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Poli/UFRJ) ganham incentivo para atividades de extensão, com a criação da disciplina “Projeto de Extensão em Engenharia”. Aprovada em Congregação no final de 2006, ela conta como requisito curricular suplementar e confere créditos aos estudantes.
Apesar do nome, a disciplina não é restrita aos docentes de engenharia: estudantes de outras áreas do conhecimento poderão cursá-la normalmente e receberão os créditos. “A presença de comunicólogos, pessoas da área de saúde e educadores agregaria valor à atividade que estamos desenvolvendo”, afirma o diretor da Poli, Érickson Almendra. A decisão de aceitar tais créditos como nota curricular, no entanto, cabe à unidade da qual o aluno faz parte.
Mais importante que a nota, porém, de acordo com Camilo Michalka, coordenador do curso de Engenharia Ambiental, é a experiência profissional que os estudantes adquirem, ao aplicar seu trabalho acadêmico na realidade, o que acontece, por exemplo, nas iniciativas que a Escola Politécnica desenvolve junto a pequenos municípios do Rio de Janeiro que não possuem corpo de engenheiros que abranja todas as áreas necessárias ao planejamento e gestão municipal.
Em parceria com universidades de outros países (como Alemanha e Holanda) e com o Laboratório de Geoprocessamento do Instituto de Geociências da UFRJ (IGEO), a Poli envia alunos para desenvolverem projetos, entre outros, de saneamento, urbanização, rede viária e edificações. Tais atividades – hoje denominadas pelo diretor da Escola como “Projeto de Adoção de um Pequeno Município” – tiveram início em 2002.
Projeto de Adoção de um Pequeno Município
O primeiro município beneficiado foi São José do Vale do Rio Preto, na região serrana do estado. Com base no estudo realizado por um aluno de intercâmbio da Escola Politécnica com a Universidade de Ciências Aplicadas de Berlim sobre o saneamento do município, São José conseguiu verba para a construção de grande parte de sua rede pública de esgoto.
– Nós vemos que o município pequeno tem muita dificuldade de ter acesso ao conhecimento. Falta uma equipe técnica analisar as necessidades, fazer um levantamento de dados e tomar a melhor decisão. Com isso, ele não consegue planejar corretamente. É aí que a Poli entra -, explica Camilo, coordenador do projeto.
Apesar de receber a proposta técnica da universidade, as decisões do que será feito são tomadas pela comunidade local: “nós oferecemos opções; o direcionamento a ser tomado fica a cargo do município, que conhece sua realidade, seu chão”, afirma o professor, que ainda ressalta a importância do trabalho conjunto: “nós temos trabalhado em um aprendizado mútuo”.
Uma perspectiva a ser atingida pelo Projeto de Adoção é a criação de uma base nas regiões que estão sendo atendidas, com o intuito de melhor abrigar a equipe de trabalho da universidade (que tem que arcar com os gastos de estadia e alimentação) e, principalmente, de criar interação com a comunidade local.
– Queremos construir um ponto de apoio para estar em contato com a comunidade, para trabalhar em conformidade com seu ritmo e dar um suporte técnico contínuo. Não é apenas chegar, dar a solução e sair, até porque nem sempre a solução que apresentamos é a melhor ou corresponde à necessidade -, destaca Camilo.
Motivação do Projeto
A migração de pessoas de pequenos municípios para as metrópoles é um fator de preocupação no Brasil. No Rio e São Paulo, por exemplo, as iniciativas de melhoramento da cidade tornam-se difíceis com o inchaço crescente. Para Camilo, a falta de perspectiva de desenvolvimento (condicionada pela falta de planejamento) é o motivo principal das migrações:
– Os jovens, principalmente, não vendo perspectivas de crescimento em seu município, emigram para os grandes centros. Outros se formam em universidades nas capitais e não retornam à cidade natal porque não vêem como empregar o conhecimento adquirido e crescer profissionalmente lá-, afirma Camilo.
Detectada a causa, o professor aposta na solução de planejamento dos pequenos municípios, para que não cresçam seguindo o exemplo das grandes cidades: “enquanto o Rio cometeu seus erros em 400 anos, os pequenos municípios estão fazendo isso em 30 anos. Porém, enquanto no Rio nós usamos nosso tempo de planejamento para solucionar problemas, nos pequenos municípios podemos usar esse tempo para evitar problemas”.