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Poético-ecologia: um convite à reflexão

Foi a partir de um fragmento de Grande Sertão: Veredas, romance escrito por Guimarães Rosa em 1956, que Manuel de Castro, professor titular da Faculdade de Letras (FL/UFRJ), pensou o artigo “Poético-ecologia”, que marcou sua participação no “I Encontro de Interdisciplinaridade Poética: Corpo, Mundo e Terra”, realizado entre 14 e 17 de maio, na unidade.

Minha Senhora Dona: um menino nasceu — o mundo tornou a começar.

 Foi a partir desse fragmento de Grande Sertão: Veredas, romance escrito por Guimarães Rosa em 1956, que Manuel de Castro, professor titular da Faculdade de Letras (FL/UFRJ), pensou o artigo “Poético-ecologia”, que marcou sua participação no “I Encontro de Interdisciplinaridade Poética: Corpo, Mundo e Terra”, realizado entre 14 e 17 de maio, na unidade.

O evento, que tinha como mote principal desviar de discussões sobre o habitual conceito de interdisciplinaridade acadêmica e trazer à luz questões relativas à interdisciplinaridade criativa das Artes, reuniu intelectuais de diversas áreas interessados em desconstruir, através da relação com a Poética, as definições de corpo, mundo e terra.

Em seu artigo, Manuel de Castro resgatou o significado original de ecologia, oriundo da junção dos verbetes gregos oikia (morada) e logos (linguagem), para refutar a experiência dessa questão apenas como o estudo e a preservação do meio natural. Nele, o docente propõe, utilizando, para tanto, associações com as narrativas míticas de Eros, Cura e Édipo, a visão de ser humano como resultado da integração entre os três elementos-tema do encontro.

Com o intuito de esmiuçar melhor a questão da Poético-ecologia levantada no artigo, o Olhar Virtual entrevistou o professor Manuel de Castro. Confira as explicações do pesquisador:

Quis, no seminário, trazer a discussão que tem como questão central a integração de corpo, mundo e terra em uma dimensão onde não haja separação, onde o corpo não seja adjetivado, onde mundo não seja adjetivado e a terra não seja apenas o que conhecemos como planeta. Usei mitos porque eles nos fazem mergulhar nas questões: do tempo, do cuidado, do céu, da terra. Nossos questionamentos são os mitos enquanto atualizações. Quando Freud quis dar um grande passo adiante no que diz respeito ao ser humano, para onde ele se voltou? Para os mitos.

Do ponto de vista da Poético-ecologia, questões da identidade, da diferença, de cultura e da História recebem uma abordagem completamente diferente. A aventura dessa abordagem é a aventura humana. A Poético-ecologia é um grande respeito pelo outro, pelas grandes diferenciações culturais, pelas criações míticas, pela própria terra.

O motor central da Poético-ecologia é a proximidade, é o respeito pelo outro. A proximidade é a intimidade que respeita a integridade do outro, na qual o indivíduo dá a possibilidade de o outro erigir de forma própria. A proximidade é a tentativa sempre de realizarmos o que nos é próprio sem querer anular o outro. O próximo não é aquele que deve se adequar a mim. O próximo só é próximo quando eu respeito como ele é no que ele é.

No encontro, as pessoas foram provocadas a pensar. Elas foram pressionadas a questionar, a diferenciar (porque saem dos elementos e conceitos comuns) e automaticamente, começam a entrar em diálogo. Esse evento nos possibilitou sair de alguns lugares-comuns sobre Literatura, e, de repente, as pessoas tiveram que se defrontar com algo estranho: pensar sobre corpo, mundo e terra. Nesse sentido, a Poética é importante, pois permite que a universidade ofereça a criatividade como resposta à sociedade.