Embora o senso comum insista em classificar a Antártica como um continente inóspito e com ausência de formas de vida, resultados de pesquisas recentes vêm provar o contrário. Uma dessas pesquisas é liderada pelo professor Alexandre Soares Rosado, do Instituto de Microbiologia Professor Paulo de Góes (IMPPG–UFRJ). Em março, Alexandre retornou da Antártica, onde coletou, durante dois meses, amostras que comprovam a imensa biodiversidade de microorganismos do continente. Principalmente a riqueza bacteriana, área de estudo do professor.

">Embora o senso comum insista em classificar a Antártica como um continente inóspito e com ausência de formas de vida, resultados de pesquisas recentes vêm provar o contrário. Uma dessas pesquisas é liderada pelo professor Alexandre Soares Rosado, do Instituto de Microbiologia Professor Paulo de Góes (IMPPG–UFRJ). Em março, Alexandre retornou da Antártica, onde coletou, durante dois meses, amostras que comprovam a imensa biodiversidade de microorganismos do continente. Principalmente a riqueza bacteriana, área de estudo do professor.

">
Categorias
Memória

Expedição à Antártica traz material para pesquisas de Microbiologia

Embora o senso comum insista em classificar a Antártica como um continente inóspito e com ausência de formas de vida, resultados de pesquisas recentes vêm provar o contrário. Uma dessas pesquisas é liderada pelo professor Alexandre Soares Rosado, do Instituto de Microbiologia Professor Paulo de Góes (IMPPG–UFRJ). Em março, Alexandre retornou da Antártica, onde coletou, durante dois meses, amostras que comprovam a imensa biodiversidade de microorganismos do continente. Principalmente a riqueza bacteriana, área de estudo do professor.

 Embora o senso comum insista em classificar a Antártica como um continente inóspito e com ausência de formas de vida, resultados de pesquisas recentes vêm provar o contrário. Uma dessas pesquisas é liderada pelo professor Alexandre Soares Rosado, do Instituto de Microbiologia Professor Paulo de Góes (IMPPG–UFRJ). Em março, Alexandre retornou da Antártica, onde coletou, durante dois meses, amostras que comprovam a imensa biodiversidade de microorganismos do continente. Principalmente a riqueza bacteriana, área de estudo do professor.

O interesse principal do pesquisador foi recolher amostras de solo, rocha e raízes de gramíneas, nas quais há presença de bactérias psicrofílicas, aquelas superadaptadas para sobreviver ao frio rigoroso dos pólos. Foi coletado solo com e sem cobertura de gelo, além de solo nas pinguineiras, locais onde colônias de pingüins se reproduzem. Sediado na estação brasileira Comandante Ferraz, Alexandre Rosado fez coletas e lá mesmo, no laboratório da estação, iniciou o processo de isolamento inicial dos microorganismos. Foram mais de 200, segundo ele. A partir do material coletado, o trabalho do professor se divide em duas vertentes – a prática e a taxonômica:

– Minha pesquisa na Antártica tem duas facetas. Uma é bem aplicada: procurei buscar microorganismos que produzem biossulfactantes, que são espécies de “detergentes naturais”, além de antibióticos e novas drogas anti-tumorais. Esses seres também fabricam enzimas específicas, de baixas temperaturas ótimas, que têm a capacidade de degradar o petróleo em clima frio. De nada adianta tentar reverter os efeitos de um derramamento de óleo na região polar, através da biorremediação, utilizando microorganismos daqui, pois eles não vão se adaptar – explicou o professor. “Mas, obviamente, como a Antártica é um ambiente muito pouco estudado, temos que aproveitar a chance também para fazer pesquisa básica. Por isso, nessa viagem fiz um trabalho de catalogação, tentando conhecer quais são os microorganismos que lá existem, descrever espécies novas de bactérias e sistematizá-los”, acrescentou.

Pioneirismo do projeto

Para Alexandre, como as pesquisas no continente antártico ainda são incipientes, não há tanta defasagem entre o Brasil e outros países. Nada consta na literatura científica mundial sobre a microbiologia das gramíneas que o professor recolheu em sua viagem, por exemplo. “É um trabalho pioneiro, e isso é bom até mesmo para a imagem da UFRJ”.

Alexandre Rosado faz parte de um grande projeto de Microbiologia – segundo ele o maior e mais completo empreendido até hoje – que, além de seu laboratório de pesquisa, que se situa na UFRJ e é financiado pela Petrobras, inclui ainda núcleos da USP e da UFMG. O projeto tenta abranger todos os grupos taxonômicos: Alexandre e sua equipe estudam diversidade bacteriana; já o grupo de pesquisadores da USP trabalha com virologia e com bactérias arqueias, enquanto o quadro da UFMG aborda fungos e leveduras.

O projeto de pesquisa do professor da UFRJ faz parte do Proantar (Programa Antártico Brasileiro) e também foi aprovado para participar do Ano Polar Internacional, que acontece em 2007 e 2008. Alexandre considera a iniciativa bastante interessante e válida:

– Cientistas de várias partes do mundo, que trabalham no Ártico e na Antártica, através desse projeto, podem interagir e trocar informações sobre pesquisas polares. Estamos em contato com pesquisadores do Canadá, Polônia, Estados Unidos, Chile, Argentina e Uruguai. Mesmo o continente Ártico sendo formado exclusivamente por gelo, diferente da Antártica, que possui uma base rochosa, é importante ter parâmetros de comparação – constatou Alexandre.

Aquecimento nos pólos

O Ano Polar Internacional também se preocupa com o gradual aquecimento global, que vem acelerando o derretimento das calotas polares e descaracterizando algumas paisagens dos pólos. Segundo o professor Alexandre Rosado, a finalidade dessa iniciativa é justamente divulgar o problema dos pólos para a população, para que ela passe a tomar conhecimento da sua necessidade:

– Muita gente me pergunta qual é a importância da Antártica para o Brasil. Respondo que a Antártica é o ar-condicionado do planeta, e que influencia diretamente o clima e a biodiversidade brasileira, além das atividades agrícolas. – O professor ainda relatou uma impressão de sua recente viagem: “Já se percebe nitidamente a diferença causada pelo aquecimento global. Nesta minha viagem à Antártida, fiz uma coleta com pesquisadores da Paleontologia e Geologia. Uma professora do Rio Grande do Sul conseguiu fazer coleta em uma praia que ela nunca tinha conseguido acessar em dez anos, porque sempre estava coberta por gelo. A geleira recuou quase 150 metros. Para ela foi ótimo, pois ela conseguiu recolher vários fósseis novos. Mas é triste ver como o progresso desta situação é violento”.

A segunda etapa da pesquisa

Alexandre Rosado chegou recentemente de sua primeira expedição à Antártica, mas já quer voltar para dar continuidade a sua pesquisa. “Estou indo novamente no fim deste ano ou no início de 2008, durante o verão do hemisfério sul, pois é a única época em que é possível fazer coletas”, explicou o professor, destacando que apenas meteorologistas e glaciologistas conseguem fazer pesquisas durante o inverno rigoroso. Na próxima vez, ele pretende acampar:

– Acamparei em uma ilha, onde posso ter acesso direto ao material que desejo coletar. Estou interessado em ilhas que abrigam grandes colônias de pingüins e elefantes-marinhos e onde provavelmente existem muitos microorganismos novos e ativos, dada a presença de matéria orgânica e excrementos desses animais –, explica o pesquisador.

Mas ele sabe que a logística de sua próxima viagem será ainda mais complicada que a primeira: “o tipo de coleta que faço é muito caro e difícil. Preciso estar sempre acompanhado de um grupo da Marinha, seja de mergulhadores ou alpinistas. Ou seja, há uma série de precauções que devem ser tomadas”.