Categorias
Memória

Músico discute empecilhos da carreira musical em palestra no CPM

  
Eduardo Camenietzki conta sua ex-
periência aos estudantes, observado
pelo professor André Motta Lima. 

Uma verdadeira selva. Foi a essa idéia que Eduardo Camenietzki comparou o mercado de trabalho musical nos dias de hoje. Violonista e compositor, ele foi o palestrante do tema Vida de Músico: a difícil carreira e os agitos do mercado. Realizado dia 18 de maio, no auditório do Centro de Produção Multimídia (CPM), no Campus da Praia Vermelha, o evento foi organizado pelos alunos do Laboratório de Texto Jornalístico, da Escola de Comunicação (ECO), incumbidos de fazer uma entrevista coletiva. A palestra contou com o apoio do professor André Motta Lima e do Núcleo de Imprensa da ECO.

Formado pela Escola de Música da UFRJ, de cujo corpo docente faz parte, Eduardo classificou a carreira musical como um “ofício de viúvas”. Segundo ele, quando músicos se encontram, o que ocorre é uma lamentação geral, pois quase todos estão insatisfeitos com sua colocação profissional. Camenietzki apontou algumas barreiras iniciais da carreira que acabam por desestimular os músicos, como a técnica e a financeira.

Eduardo denunciou que grandes conglomerados multinacionais – para ele “os verdadeiros mafiosos” – regem a indústria fonográfica, comprando decisões judiciais e corrompendo políticos a aprovar ou impedir a consumação de determinadas leis no Congresso. Representantes desses trustes, segundo Eduardo, ainda controlam o Escritório Central de Arrecadação de Direitos Autorais, o ECAD, o que facilita ainda mais a corrupção na área musical.

A carreira musical é um leque de opções bem vasto, segundo Camenietzki, mas existe “um contraste absurdo” entre o que ele chamou de “músicos autônomos” e “músicos de estado”. No primeiro grupo se enquadrariam os profissionais inseridos na indústria fonográfica, que Eduardo definiu, recorrendo a conceitos marxistas, como “baseada na exploração da mais valia” – ele ainda situou aí os músicos que acompanham outros músicos, para ele “mordomos musicais, vassalos orgulhosos de seu ofício”. Já o segundo grupo englobaria as orquestras, bandas que integram as Forças Armadas, porém compostas por civis, músicos que lecionam, corais e até mesmo a musicoterapia.

Para o violonista, que já passou por emissoras como TV Cultura e TV Globo, nas quais compôs trilhas sonoras e vinhetas de telejornais, “a importância da formação acadêmica na carreira de mercado é quase nula” e a universidade em nada dialoga com o mercado. Como exemplo disso, ele citou o fato de nenhuma faculdade de Música do estado do Rio possuir sequer uma reprodução de um estúdio de gravação e mixagem. “A UniRio forma basicamente professores, enquanto a Escola de Música da UFRJ prepara seus alunos para as orquestras sinfônicas”, acrescentou.

A possibilidade da compactação e difusão de arquivos existente na internet, para Eduardo, é um trunfo dos músicos não inseridos no mercado da música. “Os softwares de compartilhamento serão nossa ferramenta contra as companhias gigantes da indústria fonográfica. Elas estão ruindo paulatinamente graças a isso”, concluiu Camenietzki, que também alertou para o que chamou de “caô da internet”:

– Dispor uma música em um site como o Trama Virtual, por exemplo, não quer dizer absolutamente nada. É como registrar uma música no ECAD, é um registro meramente formal – lembrou, acrescentado ainda que considera as iniciativas do Overmundo, do sociólogo Hermano Vianna, e o Creative Commons são interessantes.

Na opinião de Eduardo a dimensão do direito autoral tem que ser rediscutida, “pois existem aqueles que querem viver só de um sambinha que compuseram há 60 anos”. O compositor recriminou a mobilização empreendida por Paul McCartney, para ele um “pelego” que, através de um abaixo-assinado, pediu o aumento de 50 para 95 anos para exploração de direitos autorais, pois a validade dos direitos das músicas por ele compostas estava no fim.