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As diversas faces do cuidar

 “As diversas faces do cuidar – considerações pela Ciência e Cultura” foi o tema da aula inaugural do último semestre do curso de especialização “Atenção Integral à Saúde Materno-infantil” da Maternidade Escola da UFRJ, que contou com o apoio do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina. O professor Luís Cláudio Fiqueiredo, psicanalista da Universidade de São Paulo, explicou quais características que um cuidador precisa para exercer plenamente a função de cuidar.

Para Luís Cláudio, há duas maneiras de dar um lugar humano a um bebê, por exemplo. Uma se dá através da religião. “Pelo batismo, o mamífero é nomeado e integrado horizontalmente a uma comunidade”, explicou o professor. A outra forma se estabelece com os cuidados para o desenvolvimento da saúde, garantido pela Medicina e suas várias especialidades.

 “O importante é que o cuidar científico e cultural possua suas três faces fundamentais co-existindo para que seja eficaz”, disse Fiqueiredo. A primeira face do cuidar é denominada pelo professor de “outro englobante”. O cuidador deve se oferecer como ambiente de acolhimento e permitir que o bebê se sinta acolhido. A segunda é chamada de reconhecimento: o cuidador precisa reconhecer no cuidado uma individualidade em desenvolvimento, identificá-lo a partir de suas singularidades dentro de uma comunidade. Além disso, é preciso que haja testemunho do que está vindo a ser esse projeto de homem. A terceira face, chamada de “outro diferente”, consiste na interação que o cuidador e cuidado devem ter. “Não adianta uma pessoa ser tecnicamente cuidada e viver em um meio que não a excite, que não brinque com ela, que não a desperte”, completou o psicanalista.

 Outra função importante do cuidador é a noção de let it be, deixar ser, que é a renúncia da onipotência do cuidar. “O cuidador não é Deus. Ele tem de saber que será impotente em determinadas situações”, afirmou Luís Cláudio, que acredita que a recepção religiosa e técnico-científica se mantém pela ciência do homem de não saber de tudo. “Ao oferecer seu bebê a uma prática religiosa, a mãe admite seus limites. Não pode ofertar ao filho aquilo que ela acredita que só o transcendental pode”, completou. Além disso, é do âmbito do let it be a confiança que o agente cuidador deve ter na capacidade do cuidado. Este é dotado de recursos para se desenvolver com espontaneidade, com o mínimo de intervenção daquele. “Enquanto o potencial do outro não é reconhecido, o trabalho não avança”, reforçou o professor.

O Curso

Luís Cláudio finalizou a aula inaugural, dizendo que dentro de um mundo incapaz de cuidar, é altamente proveitoso trazer essa questão para um curso.
O curso de especialização “Atenção Integral à Saúde Materno-infantil” é coordenado pelo Dr. Marcus Renato de Carvalho, pelas Dras. Marisa Schargel Maia e Miriam Pirim. Com o objetivo de formar uma rede de troca teórica e afetiva e promover o debate plural, o curso é formado por estudantes e profissionais de diversas áreas. “A intenção do curso é ser mais universidade, por isso buscamos a transdisciplinaridade”, falou Marcus Renato.