O Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia (Coppe) deu lugar, na última sexta-feira, dia 23, ao seminário “Adaptações e vulnerabilidades da cidade do Rio de Janeiro à elevação do nível do mar pelo aquecimento global”. O evento, pertencente ao Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, teve início às 10h, no auditório da Coppe, unidade que integra o Centro de Tecnologia (CT) da UFRJ.
Os especialistas que ministraram as palestras foram Paulo Rosman, professor do Programa de Engenharia Costeira da Coppe; Paulo Canedo, do laboratório de Recursos Hídricos da Coppe; Maria Silvia de Araújo, da Secretaria de Estado do Meio Ambiente; e Marcos Freitas, do programa de Planejamento Energético da Coppe.
Luiz Pinguelli Rosa, também professor da Coppe e Secretário do Fórum, coordenou o seminário que foi motivado pelo Quarto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC). O professor discorreu sobre o aquecimento global e as previsões do relatório do IPCC, que indicam, por exemplo, um possível aumento de 30 a 60 cm no nível do mar em 100 anos.
Por outro lado, o cenário de emissão de gás carbônico – grande contribuinte para o aquecimento global – é incerto, e esses números podem variar. Pinguelli cunhou o termo “Engenharia Climática”, a qual se encarrega de estudar um conjunto de soluções para os possíveis problemas relacionados às mudanças climáticas.
Muitas águas vão rolar…
O professor Rosman falou sobre os principais efeitos do aquecimento global nas zonas costeiras do Rio de Janeiro e suas conseqüências, além de sugerir quais seriam as ações de engenharia mais adequadas para evitar e solucionar problemas nas próximas décadas.
Dentre os efeitos, ele destacou a elevação do Nível Médio do Mar (NMM), que é persistente, e a intensificação das tempestades, que apesar de passageiras, causam verdadeiros estragos urbanos. “Onde houver ruas e avenidas na retro-praia, pode ocorrer diminuição das faixas de areia”, afirmou Rosman, ao tratar do provável avanço das águas.
Por outro lado, um efeito positivo seria o aumento da profundidade de certas lagoas do Rio de janeiro, equivalente a um efeito de “rejuvenescimento”, no qual há um crescimento da área aquática e redução de problemas causados pelo assoreamento, ocorrido ao longo dos anos.
O professor também prevê possíveis mudanças nas direções das ondas do mar devido a alterações na circulação atmosférica, semelhante ao que ocorre em época de El Niño. A tendência é um realinhamento da linha de praia, o que pode gerar problemas sérios em enseadas urbanizadas – como Copacabana, Ipanema-Leblon etc.
Sempre que possível, a melhor solução de engenharia para o caso do avanço do mar nas praias é o aumento do estoque de areia. Rosman afirma: “Não existe nada mais eficiente para dissipar energia de ressaca do que uma praia”. O custo para aumentar o estoque de areia em Ipanema, por exemplo, seria de cerca de 20 milhões de reais.
O professor atentou para a importância de se monitorar, através de equipamentos precisos, a variação do Nível Relativo do Mar (NRM), que corresponde a uma relação entre quanto o nível do mar está subindo e quanto o nível do solo está afundando. Segundo ele, também é essencial um mapeamento das regiões costeiras e das lagoas (como as de Saquarema, Araruama, Barra da Tijuca etc.), executando altimetrias para quantificar os níveis de alagamento.
A elevação do nível do mar trás conseqüências graves para a drenagem urbana, já que as chuvas ganham intensidade, como lembrou o professor Paulo Canedo. O acúmulo de água empoçada, enchentes e aumento do nível dos rios foram os assuntos mais discutidos por ele. Canedo citou obras clássicas de engenharia para conter esses efeitos, como a construção de pôlderes, por exemplo.
Ao contrário do que se pensa, os moradores das áreas costeiras não serão os mais afetados pelo aquecimento global. Muito se fala sobre aterros de praias, que evitam a invasão de água nas residências, mas tão cedo haverá uma inundação desse tipo no Rio de Janeiro. Os reais afetados por essa desordem climática provavelmente serão as populações mais pobres das regiões da baixada, que irão sofrer com enchentes resultantes de chuvas cada vez mais impiedosas.