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Artigo sobre negros e brancos no mercado de trabalho

 O artigo “Brancos, pretos e pardos no mercado de trabalho no Brasil” feito pelo professor João Sabóia, diretor da Faculdade de Economia da UFRJ, e por Ana Lúcia Sabóia, do IBGE, mostra a desigualdade entre negros e brancos no mercado de trabalho brasileiro. Para eles, tal desigualdade pode ser explicada, dentre outros fatores, pelo grau de escolaridade.

A diferença de anos de estudos entre os grupos analisados é grande. Tomando como fonte o resultado da Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE, de março de 2004, percebe-se que do total de pessoas analisadas, 24,9% dos negros e pardos tem 11 ou mais anos de estudo; em contrapartida, 42,9% dos brancos tem esse nível de escolaridade.

Além disso, o número de pessoas negras com baixa escolaridade é bem maior do que a dos brancos: 54,5% dos negros tem níveis de ensino que variam de sem instrução a 4 ou 7 anos de escolaridade, enquanto que, no caso dos brancos, essa  taxa cai para 38,5%.

Em outra sessão da pesquisa, os professores – levando em conta os dados da Pesquisa nacional por amostra de domicílio (PNAD) – revelam que a discrepância entre a quantidade de brancos e negros em ocupações de nível universitário é grande: somente 18% do total de pessoas analisadas nessas condições são negras ou pardas.

O professor João Sabóia acrescenta que no Brasil, muito mais do que em outros países, a escolaridade é fator determinante nas condições de vida das pessoas: “o mercado de trabalho brasileiro valoriza muito a escolaridade isso é a marca da desigualdade brasileira e tem reflexos diretos no mercado de trabalho”.

Levando em consideração tal fato, a pesquisa analisa, também, a remuneração no mercado envolvendo ocupações de nível universitário e não universitário. No caso de tarefas que não exigem a formação universitária o salário dos brancos chega a ser 100% maior que o dos negros e pardos, enquanto que no mercado de trabalho de nível universitário essa diferença cai para 15%.

Segundo Sabóia, os dados relacionados no artigo vão ao encontro da necessidade de estabelecimento de cotas para negros nas universidades, pois esse seria um mecanismo de amenizar as desigualdades raciais: “ao chegar a conclusão de que a diferença entre o rendimento das raças, em ocupações universitárias, é pequena, então, de repente, se tem um argumento favorável à facilitação da entrada dos pretos e pardos na universidade pois, a partir disso, eles conseguirão ter  um nível de remuneração satisfatório, equivalente a dos brancos que chegaram a universidade.”

Entretanto, como destaca a professora Mariléia Inou, da Escola de Serviço Social da UFRJ, a questão da adoção de cotas é um assunto bastante complexo que deve ser estudado sob vários ângulos diferentes: “Em primeiro lugar, não basta, somente, facilitar a entrada na universidade, pois esses estudantes vão precisar de auxilio, até mesmo financeiro, para permanecerem nela. Em segundo, as cotas não devem ser baseadas apenas na questão racial, devem vir acompanhadas de uma analise das condições socioeconômicas do estudante, pois num país de mestiços fica bastante complicado determinar quem é negro ou pardo. E por último, devemos questionar a educação como um todo para não mascararmos a questão principal, que são as deficiências do ensino no Brasil.”