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A universidade e os desafios do século XXI


Esse foi o tema do debate Leituras do Contemporâneo, do projeto Quarta às quatro, que ocorreu no dia 4 de outubro na Biblioteca Nacional e que contou com a presença do reitor Aloísio Teixeira como palestrante. A mesa foi mediada pelo jornalista Victor Yório, coordenador do projeto, e contou com a participação de Antônio Góis, também jornalista.

Em sua fala, Aloísio Teixeira afirmou ser essa uma discussão mundial e que recentemente esse debate voltou a ordem do dia. “Porém, a universidade é uma instituição milenar e que vem passando por várias transformações. Esse perfil da grande universidade que nós conhecemos hoje é um padrão que foi instituído no século XIX”, afirmou o reitor.

Assim, a universidade passa a desempenhar duas funções essenciais. A primeira delas é a produção, o armazenamento e a difusão do conhecimento científico e tecnológico. E a segunda função é a formação de elite dirigente para as sociedades.

“A universidade hoje está no centro de um debate importante exatamente porque essas duas funções e as transformações sociais que o século XIX lhe atribuíram estão sendo posta em dúvida, ou pelo menos em discussão. Hoje, já não há o quase ‘monopólio’ da produção de conhecimento científico e tecnológico. O que se vê são as grandes corporações multinacionais internalizarem, nas suas estruturas, os processos de desenvolvimento científico e tecnológico”, explica Aloísio, acrescentando:

“É claro que isso traz consigo mudanças muito importantes, e eu chamo atenção para uma questão que mostra a relevância dessa transformação. O conhecimento produzido na universidade é, pela sua natureza, um conhecimento público. Enquanto que um conhecimento produzido pelas empresas é, não apenas privado, mas secreto”.

E, segundo o reitor, em sua fala, isso traz uma transformação muito grande, entre a sociedade e a produção de conhecimento científico e de novas tecnologias. “Eu lembro que um dos processos científicos mais importantes, que é o Projeto Genoma, é desenvolvido no âmbito de uma empresa privada. Eu chamo atenção porque essa é uma modificação que certamente muda os papéis e as funções sociais que a universidade vinha desempenhando desde o século XIX”, aponta o reitor.

Já a segunda função da universidade, que, de acordo com o reitor, é a de formação de uma elite dirigente da sociedade, também está sendo posta em discussão. “Isso ocorre porque nós vivemos uma fase da história da sociedade em que a educação superior vai se universalizando, se transformando em um direito universal de cidadania. Em um país como os EUA, 65% dos jovens entre 18 e 24 anos cursam universidade. Em países da Escandinávia, esse percentual chega a 70%. Em países da América Latina, supostamente mais atrasados, esses percentuais são crescentes. Em Cuba, 50% dos jovens estão cursando uma universidade. A medida em que esse processo se acelera e que parcelas crescentes da juventude têm acesso a educação superior, é claro que a universidade perde sua função típica do século XIX e de grande parte do século XX. Sendo um direito universal, há possibilidade de ela atuar como um filtro para selecionar as elites dirigentes das várias sociedades”, explica Aloísio.

Esse projeto, Quarta às quatro, ocorre desde agosto e terminará em dezembro. A programação conta ainda com a participação dos seguintes palestrantes: Carlos Nelson Coutinho, Ângela Dias, Beatriz Resende, Geraldo Nunes, Ronaldo Lima Lins. Sempre com a presença de um jornalista que faz um comentário e abre o debate.