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Ciência nas férias

 Mais uma edição do curso de férias oferecido pelo Instituto de Bioquímica Médica (Bioqmed) chegou ao fim, no dia 28 de julho, com saldos positivos. O curso, ministrado para alunos e professores dos Ensinos Médio e Fundamental por estudantes de pós-graduação da unidade, acontece todos os semestres, nos meses de janeiro e julho, há cerca de 20 anos. A iniciativa partiu de Leopoldo de Méis, professor do instituto e pesquisador da Sociedade Brasileira de Bioquímica e Biologia Molecular (SBBq), que pretendia, através do curso, popularizar os conhecimentos científicos.

Por duas semanas, diferentes temas relacionados às ciências são debatidos em três turmas distintas. Nesta edição, o processo de digestão, a composição da célula e o sangue foram os assuntos que guiaram as atividades. Durante o curso, os participantes aprendem a obter, na prática, respostas para suas principais dúvidas. “Os alunos passam as primeiras horas do curso formulando perguntas, que são respondidas através de experimentos que eles mesmos montam”, explica Débora Foguel, docente do Bioqmed e coordenadora da iniciativa.

O curso é dividido em duas etapas. Na primeira semana, apenas os professores, que recebem uma bolsa-auxílio para alimentação e transporte, vão para o laboratório. Débora Foguel afirma que o objetivo do projeto não é reciclar o ensino regular, mas sim possibilitar que os profissionais de Educação vivenciem o método científico. De acordo com Débora, a experiência prática permite aos professores uma melhor compreensão do conteúdo passado no cotidiano da sala de aula.

Na segunda semana, enquanto os professores assistem a palestras educativas e visitam o instituto, cerca de 150 alunos são encaminhados para os laboratórios. Os estudantes que obtêm um bom desempenho no decorrer do curso podem ser convidados pela coordenação do projeto para ingressarem em projetos de pesquisa do Bioqmed. “Temos exemplos de alunos que foram aproveitados depois do curso e hoje são grandes pesquisadores”, destaca Patrícia Souza, monitora do projeto há 10 anos.

A experiência com moradores de favelas

O curso de férias é divulgado pelos profissionais do Bioqmed em escolas das redes pública e privada de ensino. Este ano, no entanto, o processo de triagem de estudantes sofreu algumas alterações, isso porque o instituto realizou uma parceria com a Central Única de Favelas (Cufa), que recrutou oito jovens da Cidade de Deus para participarem do projeto.

Débora Foguel acredita que o contato com a universidade pode estimular o interesse pelos estudos no campo da Ciência nesses estudantes. “Mostramos para eles que a UFRJ não é um sonho, que ela existe e que eles podem chegar até aqui”, afirma. De acordo com a professora, nos primeiros dias de atividades, os jovens tiveram dificuldade de apreender a proposta do projeto, mas avançaram no decorrer do curso.

Para Samuel da Silva, aluno da 7ª série da Escola Municipal Menezes Cortes e morador da Cidade de Deus, o curso de férias lhe proporcionou grandes conhecimentos. O jovem de 15 anos, que pretende cursar uma faculdade de Química, elege o trabalho em equipe como a maior lição aprendida durante a experiência.

Patrícia Souza garante que o método de comprovação de hipóteses ensina os alunos a questionarem a realidade e a refletirem sobre ela. “A idéia do projeto é instigar os jovens a buscarem resultados. A gente aqui só acredita no que eles podem provar. A intenção é torná-los menos passivos, não só nos assuntos escolares, mas na própria vida”, afirma a doutoranda.

Débora Foguel resume o curso de férias como uma das iniciativas mais nobres da universidade. “Eu adoro dar aula, eu adoro ciência, mas essa atividade é a única que emociona a ponto de me fazer chorar”, disse a docente.