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O mito do elitismo

Pesquisa feita com base nas respostas dos vestibulandos ao questionário sócio-cultural, preenchido durante a inscrição para o vestibular, revela que 71,8% dos calouros da UFRJ vêm de escolas particulares. Considerar esse dado para afirmar o caráter elitista da instituição pode levar a erro, visto que, atualmente, o ensino privado não é garantia de acesso à universidade e, há muito, deixou de ser um indicativo de poder econômico.

agencia2622T.jpgUma recente pesquisa realizada pela UFRJ constatou que 71,8% dos alunos que entram na universidade são provenientes de escolas particulares. O questionário sócio-cultural respondido pelos estudantes no momento da inscrição para o vestibular serviu como base para a avaliação. A pesquisa, no entanto, não é suficiente para concluir um suposto caráter elitista da instituição, pois as estatísticas limitam-se a reproduzir a desigualdade no percentual de inscritos.

O número de alunos de escolas particulares que concorrem a uma vaga na universidade é muito superior ao de estudantes da rede pública. Cerca de 63% dos candidatos estudaram, pelo menos, um ano em escolas privadas, contra 32,2% que cursaram todo o Ensino Médio em instituições públicas. Além disso, apenas 15% dos jovens que saem de escolas estaduais fazem o exame da UFRJ.

Na opinião de Mônica Conde, coordenadora administrativa da Comissão do Vestibular da UFRJ, poucos colégios públicos estimulam seus alunos para o Ensino Superior. “A diferença é social. Esses jovens, muitas vezes, não têm sequer apoio dentro de casa para tentar uma vaga na universidade”, complementa.

Ensino pago X Ensino gratuito

A qualidade de ensino das escolas particulares e públicas não foi observada na pesquisa, o que dificulta ainda mais a interpretação dos dados. O pró-reitor de graduação (PR-1), José Roberto Meyer, acredita que a educação privada não implica, na maioria das vezes, um bom projeto educacional e o conseqüente sucesso no vestibular. “São raras as escolas particulares que possuem um alto nível de qualidade de ensino”, enfatiza.

Por outro lado, algumas escolas públicas, que mantiveram, ao longo dos anos, condições satisfatórias de funcionamento, conseguem resultados inimagináveis para boa parte das instituições privadas. É o caso do Colégio de Aplicação da UFRJ. O CAp aprova um número significativo de estudantes em vestibulares e, há anos, figura no topo do ranking das melhores escolas do estado.

Elite?

De acordo com o pró-reitor, cerca de 25% dos estudantes da UFRJ têm renda familiar igual ou inferior a cinco salários mínimos. Grande parte dos universitários não tem carro, mora em áreas periféricas e pertence às classes C e D. Muitos deles possuem, inclusive, histórico de pais analfabetos.

A concentração de alunos de alto poder aquisitivo ainda é uma realidade, mas se restringe a determinados cursos. Segundo o Conselho de Ensino de Graduação (CEG), as carreiras de maior prestígio, como Medicina e Comunicação Social, reúnem estudantes das classes média e alta, mas dizer que a elite predomina em toda a universidade é incorrer em mentira.