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Lixo. O que fazer com ele?

O destino final dos resíduos urbanos é um intenso foco de discussão entre autoridades governamentais e ambientalistas. O aterro de Jardim Gramacho, principal depósito do estado, está prestes a ser desativado, e hoje, mais do que nunca, existe a necessidade de encontrar melhores formas de tratar e eliminar o lixo. A grande questão é: Quais são as soluções viáveis para o lixo do Rio de Janeiro?

agencia2613T.jpgO lixo é um dos principais problemas gerados pela sociedade contemporânea, caracterizada por uma acelerada urbanização e por altos níveis de consumo. O destino final dos resíduos produzidos pelas cidades se constitui no grande dilema com o qual se defrontam ambientalistas e estudiosos do assunto.

No caso do Rio de Janeiro, importante centro econômico brasileiro, essa questão se torna ainda mais problemática. Isso porque o aterro metropolitano de Jardim Gramacho, localizado no Município de Duque de Caxias, maior reservatório de lixo urbano do estado, está em vias de fechar as portas. A capacidade de armazenamento do local, que recebe diariamente cerca de nove mil toneladas de detritos, está saturada. Além disso, os impactos ambientais provocados pelo aterro exigem uma alternativa urgente para a questão do despejo de lixo.

A construção de Gramacho ocasionou a destruição de 1,3 milhão de metros quadrados de manguezal, um dos ecossistemas mais ricos do planeta, e a decomposição de grandes volumes de resíduos no local produz elevada quantidade de chorume, substância responsável pela contaminação do solo e de lençóis freáticos.

Possibilidades

A solução mais discutida pelas autoridades é a criação de um novo aterro sanitário em Paciência, zona oeste do estado. O tema, no entanto, gera controvérsias. Cláudio Mahler, professor do Programa de Engenharia Civil da COPPE/UFRJ, possui projetos em Gramacho e classifica as condições de funcionamento do local como satisfatórias. Ele vê no melhor monitoramento dos sistemas de coleta de resíduos uma forma de prolongar a vida útil do aterro. “Um aterro já implantado é melhor do que um novo, pois evita que uma área, até então não afetada, sofra efeitos ambientais negativos”, ressalta.

De acordo com o pesquisador, reduzir a quantidade de resíduos que chegam a Gramacho é outra possibilidade para evitar a desativação. Mahler prevê ainda que o fechamento do aterro acarretará uma série danos sociais ao município de Duque de Caxias. “A cidade lucra com o lixo que vai para lá. As atividades comerciais criadas por ocasião do aterro serão prejudicadas”.

Para Sérgio Ricardo de Lima, do Fórum de Defesa do Meio Ambiente e Qualidade de Vida da Zona Oeste e Baía de Sepetiba, a centralização dos resíduos urbanos em um único ponto é um erro. O ambientalista, contrário à construção do aterro de Paciência, defende uma política integrada entre os municípios do estado como a solução para os problemas do lixo enfrentados hoje na cidade. “A atual política é uma burrice. Além de ser danosa do ponto de vista ambiental, é antieconômica. Uma boa parte do orçamento da cidade é investida no lixo, sem alcançar bons resultados”, afirma ele.

Sérgio Ricardo organizou e encaminhou à prefeitura do Rio de Janeiro um plano de transição gradual para o fechamento do aterro de Gramacho. Na proposta, ele elege a educação ambiental, a reciclagem e a reutilização dos materiais, o aproveitamento da matéria orgânica para a geração de energia, o reconhecimento dos direitos trabalhistas dos catadores e a implantação de consórcios intermunicipais para o tratamento do lixo como as principais iniciativas a serem realizadas.

Um problema político

No último dia 29, o Tribunal de Contas do Município (TCM) cancelou a atual licitação para construir a Central de Tratamento de Resíduos em Paciência. Trata-se de vultosa licitação, no valor de 1 bilhão de reais. Esse é mais um episódio da questão do lixo, que é marcada por uma série de brigas, essencialmente, políticas.

Mahler denuncia a falta de vontade política para resolver a questão. Para ele, os gestores envolvidos na discussão desconhecem as causas dos problemas e não possuem um verdadeiro desejo de resolvê-las. “Os políticos buscam apenas os seus próprios interesses e tomam decisões baseadas em suas vontades pessoais”, opina.

Sérgio Ricardo, um dos fundadores do Partido Verde, acredita que, apesar de o Brasil ter uma das melhores legislações ambientais do mundo, as elites dirigentes precisam passar por uma mudança cultural para que o país possa superar as dificuldades ecológicas. O ambientalista vê na mobilização da sociedade a saída. “A crise ecológica está chamando a atenção das pessoas. Reside aí minha esperança. A conscientização tem que partir de baixo para cima, das escolas para os administradores das cidades”.