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Seminário discute projeto nacional

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agencia2465T.jpg“O Brasil é uma baleia, tem tudo para ser feliz”, afirmou o professor de economia da UFRJ, Carlos Lessa, logo no início do Seminário “Projeto Nacional para o Brasil”, ocorrido em 29/03, no Salão Moniz de Aragão, do Fórum de Ciência e Cultura (FCC) na Praia Vermelha. O evento coordenado pelo professor da COPPE e ex-presidente da Eletrobrás, Luiz Pinguelli Rosa, objetivou discutir o futuro econômico e político do país e contou ainda com a presença do reitor Aloísio Teixeira e do professor e filósofo Wolfgang Leo Maar, catedrático da Universidade Federal de São Carlos (SP).

Lessa, presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) por dois anos do governo Lula (2003-2004), usou essa expressão para enfatizar a existência de pontos favoráveis ao crescimento do Brasil. Segundo ele, as condições geográficas e a baixa densidade demográfica facilitariam o desenvolvimento do país, atravancado, no entanto, pela adoção equivocada de medidas econômicas neoliberais e pela concentração de renda. “O povo brasileiro é absolutamente admirável porque sobrevive à sórdida elite nacional, que sem compromisso com a nação, dá prioridade apenas à acumulação financeira. Ela neutraliza todas as frentes de ruptura do país. Com essa elite não vamos a lugar nenhum”, enfatizou o professor.

A proposta básica dos palestrantes foi a de traçar diretrizes para um projeto nacional baseado na recuperação do Estado, através da análise da sua capacidade de investimento e de endividamento, e no controle da moeda nacional por meio do controle de câmbio. A subordinação da economia em relação à política, a meta de crescimento de 5% ao ano, o aumento da oferta de empregos e o desgaste do modelo paternalista da atual política social foram outros importantes pontos de consenso entre os participantes.

O presente momento é o ideal para a implementação da iniciativa. De acordo com Aloísio Teixeira, essa é a hora de o Brasil explorar sua capacidade política e investir em alianças estáveis com os vizinhos latinos. “Com a preocupação norte-americana voltada para o mercado de petróleo asiático, o continente sul-americano deixa de ser um ponto econômico estratégico para os Estados Unidos. Temos de aproveitar esse cenário internacional e reverter o quadro a favor do nosso desenvolvimento”, disse o reitor.

Participação Popular

O debate concluiu que a participação popular é um dos fatores imprescindíveis para a realização de um projeto nacional consistente. Segundo os intelectuais, o governo deve criar condições para a re-politização da sociedade, substituindo a atual visão fiscal da política por uma dimensão mais humana. Tornar os dados econômicos acessíveis à coletividade é outro requisito indispensável. “O povo precisa se conscientizar, mas essa conscientização não pode ser apenas uma idéia. Ela necessita ter reflexos práticos. A sociedade brasileira precisa voltar a existir e a participar ativamente da vida política deste país”, ressaltou o professor Wolfgang.

Momentos de intensa mobilização social como o fim da ditadura militar e o processo de impeachment do ex-presidente da República, Fernando Collor de Mello, foram recordados com saudosismo pelos participantes do seminário. Eles mencionaram a perda de força da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e dos sindicatos como reflexo do distanciamento entre a sociedade e a luta política. “As pessoas já foram mais participativas. Hoje reina a apatia”, lembrou Luiz Rosa Pinguelli.

O jovem foi destacado como um agente social capaz de superar a letargia na qual o Brasil está mergulhado. Diante de uma platéia composta, em sua maioria, por estudantes de Economia, o reitor Aloísio Teixeira citou a aula magna ministrada pelo poeta Ferreira Gullar e a aula inaugural da Escola de Comunicação proferida pelo Ministro da Cultura, Gilberto Gil, como exemplos de eventos, onde a participação dos jovens promoveu a discussão de temas importantes, entre eles a questão de cotas para negros em Universidades. “Podemos estar assistindo a um despertar do debate popular”, disse o professor.

Educação e Desenvolvimento

A relação entre desenvolvimento e educação também foi muito discutida no seminário. Houve críticas à idéia de que o crescimento seria uma conseqüência direta de uma boa política educacional. Os palestrantes acreditam ser essa uma forma de inversão da realidade e afirmaram que não pode existir uma educação de qualidade sem desenvolvimento político-econômico.

O número de empregos que exigem onze anos de estudo cresce no país, mas os salários continuam baixos e a carência de vagas é grande. O resultado disso é um mercado saturado de mão-de-obra barata e especializada. Como saída para essa situação, os participantes do evento defendem uma educação acompanhada pela geração de empregos e pela queda nos índices do trabalho informal. “Afastamo-nos do centro da luta quando pensamos que a educação é o que gera desenvolvimento e não o contrário”, disse o reitor Aloísio Teixeira, com a aprovação dos demais membros da mesa.

Além das questões previstas, foram analisados também os rumos da campanha eleitoral de 2006. Carlos Lessa confirmou que será o responsável pelo programa do PMDB para as eleições presidenciais. “Deve haver uma terceira candidatura forte para evitar que a campanha seja apenas trocas de acusações e ofensas entre petistas e tucanos”, afirmou o economista.

Os saldos do debate foram tão positivos que o coordenador do evento se comprometeu a promover um segundo encontro, dentro de um mês. “Não há uma fórmula definida para o projeto nacional. Mas através da discussão podemos começar a vislumbrá-lo”, disse Pinguelli. Possivelmente, o próximo seminário terá a presença do jurista Fábio Comparato, que, embora convidado para o primeiro, não pôde comparecer por motivos pessoais.