Categorias
Memória

Ferreira Gullar, o poeta do não saber

A inteligência e a simplicidade do poeta Ferreira Gullar marcaram a Aula Magna 2006. Realizado para assinalar a abertura do ano letivo na UFRJ, o evento integrou a programação de reinauguração do auditório Roxinho, do Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza. “É por não saber que estou condenado a não parar de pensar”, disse Gullar.

agencia2435T.jpgCristovam Buarque, Celso Amorim e José Leite Lopes já proferiram a aula magna na UFRJ nos anos de 2003, 2004 e 2005, respectivamente. Em 2006, a universidade teve a honra de receber para conceder a aula o poeta Ferreira Gullar, que, com sua humildade e inteligência, levou o público, que lotava o auditório do roxinho, no prédio do Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza, a reflexão sobre o saber. “ Eu não sou um homem culto, pois esqueço tudo o que leio. Por isso, estou condenado a ler sempre. É por não saber que estou condenado a não parar de pensar”, disse Gullar.
O professor Aloísio, ao anunciar Ferreira Gullar, se referiu ao poeta como magnífico, fazendo alusão a forma de tratamento que costuma ser usada para a principal autoridade de uma instituição de ensino superior. ”Magnífico hoje nessa sala é quem convidamos para proferir a aula magna. Ferreira Gullar é magnífico por sua coerência e dignidade”, disse o reitor.

O poeta, ao ser chamado pelo reitor para compor a mesa,também integrada pela decana do Centro de Ciências Matemáticas Natureza, Angêla Rocha dos Santos, foi conduzido por uma comissão, integrada pelo decano do Centro de Letras e Artes, Léo Soares, o professor emérito da UFRJ, Eduardo Cafezeiro e o diretor da Faculdade de Letras, Ronaldo Lima Lins.

Teoria

Segundo o escritor, o homem é uma invenção de si mesmo.“O homem é o ser que se inventa permanentemente. Ele inventou Deus para ser uma resposta a todas as questões que não têm resposta”, falou Gullar, que lembrou ainda que a invenção é feita a partir da realidade, das necessidades do homem.

Em diversos momentos, Gullar arrancou risos da platéia. Num deles, narrou um episódio que aconteceu com ele próprio. “ Certa vez estava caminhando pela rua e uma senhora me perguntou se eu era o Ferreira Gullar. Eu disse a ela que era, às vezes”, lembrou o poeta.

Engenheiros poetas

Ao final da fala de Ferreira Gullar, o reitor Aloísio Teixeira abriu espaço para que os presentes fizessem perguntas para o poeta. Para aqueles que pensaram que os interessados em questionar Gullar seriam os que trabalham diretamente na área das Ciências Humanas, os ligados a faculdade de Letras, por exemplo, se enganaram. A maioria das perguntas vieram de estudantes de engenharia que , além de se mostrarem interessados em poesias, demonstraram conhecimento sobre a trajetória poética de Gullar.

A aula magna é para a comunidade acadêmica um momento de ratificação dos valores e uma reflexão a cerca da Universidade como um território de construção de idéias, opiniões, que, na maioria das vezes, são divergentes entre si, mas importantes para a valorização da cultura e o funcionamento de uma sociedade democrática.