Categorias
Memória

A revolução chega ao IFCS

Com um índice de 62% dos votos em regime universal, a chapa das professoras Jessie Jane e Gláucia Villas Boas assumiu, dia 25, a direção do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ (IFCS/UFRJ), através de um cerimonial de posse que teve início às 17 horas, no Salão Nobre. Conhecidas por seus históricos de luta contra a ditadura militar, ambas sofreram retaliações do regime por desenvolverem atividades políticas de resistência.

agencia2381T.jpgCom um índice de 62% dos votos em regime universal, a chapa das professoras Jessie Jane e Gláucia Villas Boas assumiu, dia 25, a direção do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ (IFCS/UFRJ), através de um cerimonial de posse que teve início às 17 horas, no Salão Nobre. O evento contou com presenças ilustres na Universidade e na sociedade brasileira, dentre elas a vice-reitora da UFRJ, Sylvia Vargas, o pró-reitor de pós-graduação e pesquisa, José Luiz Monteiro, a decana do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH), Suely de Almeida, a deputada estadual do Partido dos Trabalhadores (PT) Cida Diogo, e a coordenadora geral do Sindicato dos Trabalhadores da UFRJ (SinTUFRJ) Ana Maria Ribeiro.

Conhecidas por seus históricos de luta contra a ditadura militar, ambas sofreram retaliações do regime por desenvolverem atividades políticas de resistência. Jessie Jane foi militante da Ação Libertadora Nacional (ALN) e participou de atividades classificadas como “subversivas” pela ditadura, o que a levou a ser torturada pelo DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna) e presa durante nove anos no presídio Talavera Bruce, em Bangu. Já Gláucia Villas Boas sofreu as conseqüências do Decreto-Lei 477, de 1969, que a obrigou a se afastar das universidades por fazer parte da oposição ao regime militar.

As professoras foram ovacionadas por um salão cheio, confirmando seu alto índice de aprovação entre os membros da comunidade universitária. “É uma honra poder saudar a todos os presentes nesta cerimônia. Isso prova que a UFRJ de hoje é bem diferente da de quatro anos atrás, quando assumi a unidade quase às escondidas. Poder saudá-los é uma satisfação indescritível”, disse o professor Franklin Trein, até então diretor do IFCS. A professora Suely de Almeida, decana do CFCH, partilhou da mesma satisfação. “Parabenizo o professor Franklin, a quem desejo sucesso na vida profissional, e as professoras que estão assumindo, pela elevada aprovação do eleitorado e pela coragem de estar à frente de uma unidade do porte do IFCS”, disse Suely. Ela também lembrou aos presentes os desafios que a nova Direção tem pela frente: “nossa unidade possui vários problemas estruturais de longa data, como a falta de infra-estrutura e de professores”.

Ao se pronunciar, emocionada, Jessie Jane agradeceu ao apoio dos presentes e do eleitorado: “O IFCS, fundando em 1989, ocupa hoje um lugar de destaque na produção intelectual do Brasil. Como instituição de pensadores, fomos inteiramente reprimidos pelo regime militar, através de atos de selvageria, violência e assassinatos. Após quase 20 anos, o IFCS se reergueu, e não deixarei que as dificuldades materiais que temos ofusquem a importância de nossa instituição. Muito obrigada pelo apoio”.

Sylvia Vargas, vice-reitora, encerrou o cerimonial com uma reflexão sobre os rumos da UFRJ e seu peso no cenário acadêmico nacional: “Oportunidades como essa nos fazem relembrar a todos e, particularmente, à recém-empossada diretora, a importância da renovação. Esperamos que a nova Direção participe do período de reflexão e mudanças vivido atualmente pela UFRJ. Devemos discutir e explicitar nossas diferenças pelo bem da Universidade, que não se constrói sem liberdade de pensamento e de expressão”.

Em entrevista ao Olhar Virtual, a professora Jessie Jane nos mostrou sua intenção de enfrentar os problemas de infra-estrutura e isolamento da unidade.

Olhar Virtual – Sua chapa foi eleita com 62% dos votos em sistema universal. Que fatores a senhora atribui a esse alto índice de aprovação?

Profª Jessie Jane – Creio que vários fatores contribuíram para este resultado. O primeiro, foi o fato de que a nossa chapa foi fruto de uma articulação de um grupo representativo de professores do IFCS. Estes professores conseguiram criar um fórum – Fórum IFCS – que aglutinou alunos e servidores para discutir o futuro do Instituto. O Fórum realizou várias reuniões, além das discussões on-line. A minha candidatura e a da professora Gláucia não foi articulada por nós. Não se tratou, portanto, de um projeto pessoal. Tanto isto é verdade, que eu só conheci a professora Gláucia no dia em que a chapa foi lançada. Creio que este procedimento fez toda a diferença. Segundo, a comunidade do IFCS entendeu que era o momento de tomar nas mãos o destino da instituição porque as nossas condições materiais se deterioraram muitíssimo nos últimos anos. Terceiro, ao meu nome e ao da professora Gláucia não havia grande rejeição e isto permitia a construção da unidade necessária para a construção de um projeto que atendesse ao conjunto dos interesses do IFCS.

Olhar Virtual – Na sua opinião, quais foram os altos e baixos da gestão anterior?

Profª Jessie Jane – Eu não gostaria de me pronunciar sobre a gestão do professor Franklin Trein. Ele fez um relatório da sua gestão e isto me parece o suficiente. Creio que ele fez o que estava ao seu alcance e deu o melhor de si . Gostaria de lembrar que a conjuntura, da Universidade, no momento em que se deu a sua eleição era totalmente diferente da atual.

Olhar Virtual – Quais são os maiores problemas do IFCS atualmente?

Profª Jessie Jane – Os maiores problemas estão relacionados com a sua infra-estrutura material e com o isolamento do instituto em relação ao conjunto da Universidade. Estes são os problemas que devemos enfrentar imediatamente.

Olhar Virtual – Em entrevista ao Jornal do SINTUFRJ, a senhora expressou sua vontade de recuperar áreas de vivência do IFCS e afirmou que, devido a alguns problemas de infra-estrutura – como a falta de salas de aula e a carga elétrica insuficiente – “não dá mais para ficar no IFCS nas condições em que a unidade se encontra”. Como resolver esse impasse?

Profª Jessie Jane – Este impasse deve ser resolvido juntamente com a reitoria da UFRJ. O IFCS é uma instituição com enorme capital simbólico que pretendemos acionar no sentido de buscar os recursos necessários para a solução dos problemas assinalados. Não podemos aceitar o papel de ‘patinho feio’ da UFRJ.

Olhar Virtual – A senhora sofreu retaliações por fazerem parte da oposição ao governo autoritário e unilateral da ditadura militar. Como sua gestão pretende estabelecer uma relação de transparência e diálogo com o corpo universitário do IFCS, reafirmando seus valores democráticos pessoais?

Profª Jessie Jane – A nossa eleição foi fruto desta proposta; Entendemos que qualquer política transformadora passa, principalmente, pela nossa capacidade de criar mecanismos de participação e transparência. Sem, contudo, cair no ‘assembleísmo’ e no discurso demagógico. Entendemos que fomos eleitas para dirigir o IFCS e assim o faremos, com democracia e autoridade.