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Memória

O engenheiro, o ladrão e o invisível

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agencia2319T.jpgOrganizada por Dante Gastaldoni, professor da Escola de Comunicação, aconteceu na quinta-feira, dia 24 de novembro de 2005, no Salão Pedro Calmon, campus da Praia Vermelha, a palestra Walter Firmo, 50 anos de fotografia. Durante duas horas e meia, uma jovem platéia viu e ouviu, atenta e encantada, histórias – “sou um contador de casos”, se definiu Firmo – e imagens de um dos mais importantes fotógrafos brasileiros da atualidade.

Logo no início, Firmo se emocionou ao lembrar do fotojornalista José Medeiros, que foi seu mestre e incentivador no início da carreira. Tendo atuado em publicações que fizeram a história recente do jornalismo brasileiro (Realidade, O Cruzeiro, Jornal do Brasil entre outros). Na revista Realidade, Firmo produziu trabalhos com imensa liberdade, reportagens com dez ou mais páginas somente com imagens, acompanhadas por textos aprofundados que buscavam explicar o Brasil, pautado por editores como Mino Carta e na O Cruzeiro, por David Zing. As grandes cidades começavam a conhecer a Amazônia, o Nordeste, o Brasil Central e suas populações e costumes.

No final dos anos de 1980 deixou o jornalismo para assumir o Instituto Nacional de Fotografia da Funarte (Fundação Nacional de Arte), a convite do ministro da Cultura do Governo Sarney, Celso Furtado. Com a extinção do INF, ainda durante o governo Collor de Mello, Walter não retornou ao fotojornalismo, passando a desenvolver seus projetos autorais e cursos de fotografia.

Após contar como a fotografia entrou na sua vida aos oito anos de idade, ao fotografar seus pais em uma praia, seguindo as orientações paternas sobre recorte e enquadramento (“não corte os pés e as cabeças, não se esqueça de colocar na cena aquela ilha lá no fundo”), Firmo explicou as diferenças entre a foto do “engenheiro”, construída pelo olhar, seguindo as regras de enquadramento aprendidas nas aulas e laboratórios da Abaf (Associação Brasileira de Arte Fotográfica), em Botafogo, a do “ladrão de imagens”, mais preocupado em captar e capturar a emoção da cena, mesmo que não resulte em imagem tecnicamente perfeita e o “invisível”, que percorre os locais, escolhe a sensibilidade do filme, a velocidade do obturador e a abertura do diafragma e com sua discreta câmera escondida espera identificar a possível cena, como, quando em Paris, viu passar uma menina da sua altura carregando um violoncelo e a seguiu durante algum tempo até passarem por um cão poodle, que apoiado nas patas traseiras arranhava uma porta tentando entrar. Não há demérito em nenhuma das posturas. Em sua carreira pode-se encontrar os três tipos.

Não é apenas a vivência profissional e a prática que fazem de Firmo o fotógrafo que é, mas todo o conhecimento teórico e referencial acumulado ao longo dos anos, como demonstra o fato de, em janeiro de 2005, ter feito um workshop, na França, sobre sete dos maiores fotógrafos franceses (Atget, Lartigue, Doisneau, Cartier-Bresson, Brassai, Kertéz e Nadar). Para alunos franceses, inclusive.