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Congresso internacional debate rumos da Extensão

O VIII Congresso Ibero-americano de Extensão Universitária, realizado no Rio Othon Palace, em Copacabana, entre os dia 27 e 30 de novembro, mostrou que, hoje, a exploração de cinco décadas atrás deu lugar à cooperação, no âmbito das universidades, entre Portugal e Espanha e os países latino-americanos.

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“Navegar é preciso, Transformar é possível”

Há pouco mais de 500 anos atrás as grandes navegações ligaram para sempre os destinos da península ibérica e do “novo mundo” a oeste do oceano atlântico. Dos portos de Portugal e Espanha zarpavam embarcações com o objetivo de explorar as terras recém-descobertas. Se nessa época navegar foi preciso e transformar foi possível, hoje essa máxima parece funcionar como ponta de lança de uma mudança de rumos nas relações entre os países ibero-americanos, capitaneadas pelo ensino superior.
O VIII Congresso Ibero-americano de Extensão Universitária, realizado no Rio Othon Palace, em Copacabana, entre os dia 27 e 30 de novembro, mostrou que, hoje, a exploração de cinco décadas atrás deu lugar à cooperação entre Portugal e Espanha e os países latino-americanos. Em busca de alternativas para um crescimento conjunto das universidades brasileiras, latinas e ibéricas, através de uma extensão acadêmica cada vez mais forte e significativa, vários representantes da Academia brasileira e internacional estiveram reunidos em diversos debates, mesas e discussões sobre os novos rumos da extensão universitária.
“As universidades latino-americanos têm sido muito colonizadas, principalmente na última década e meia, pelo que eu chamo de saber do hemisfério norte. Fico muito contente que estejamos nós brasileiros, latino-americanos e ibero-americanos, pensando as nossas próprias soluções para os nossos países e nossas realidades tão duras. Acho que esse Congresso contribuirá muito para uma transformação não só possível, mas muito necessária para aumentar a justiça social aqui e lá fora”, ressaltou a Pró-Reitora de Extensão da UFRJ, professora Laura Tavares Ribeiro Soares, em seu discurso na abertura do evento, parabenizando muito a organização do Congresso, principalmente a equipe da UFRJ.
Além da pró-reitora, estiveram presentes na mesa de abertura do Congresso autoridades das diversas entidades e fóruns organizadoras do evento. A recém-empossada presidente do Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras (FORPROEX), Lúcia de Fátima Ferreira, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), disse que o momento é muito favorável para a extensão universitária e para o estreitamento de relações entre as universidades brasileiras e latinas.
“Estamos vivendo um ótimo período para a extensão universitária. Esse é o momento ideal de unirmos mais forças com nossos vizinhos latino-americanos e pensar, inclusive, em novos projetos pedagógicos para os cursos de nossas universidades”, afirmou. Antes de Lúcia, o presidente do Congresso e professor da UFRJ, Marco Antônio de França Faria, mediador da mesa, já tinha tocado no assunto, ressaltando a quantidade dos trabalhos inscritos.
“Pelo número de trabalhos desse Congresso, já vemos a sua importância. Além disso, queria ressaltar aqui a importância de todas as Universidades do Rio de Janeiro na sua realização, principalmente a UFRJ”, disse.
O presidente do Fórum Nacional de Extensão e Ação Comunitária das Universidades e Instituições de Ensino Superior Comunitárias (ForExt), Flaviano Agostinho de Lima, leu um discurso sobre o histórico das entidades de extensão universitárias. Em seguida, o presidente do Fórum de Extensão das Instituições de Ensino Superior Brasileiras (FUNADESP), Jorge Onoda Pessanha, da Universidade Cruzeiro do Sul (UNICSUL), falou do momento favorável da Extensão, dizendo que houve uma mudança muito grande no tratamento dispensado a ela do passado para os dias atuais. O cubano Clemente González, representante da Unión Latinoamericana de Extensión Universitária falou das semelhanças entre os problemas enfrentados no Brasil e em Cuba e disse que somente com cooperação e com iniciativas, como as do Congresso, esses desafios serão superados. A Reitora da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNI-RIO), Malvina Tuttman, que também é vice-presidente do Grupo de Tordesilhas, falou diretamente sobre a mercantilização do ensino superior.
“A mercantilização do ensino não está no fato de sermos públicas ou privadas, mas na maneira como vemos o ensino e a extensão”, afirmou, para depois se dizer emocionada com a maciça presença dos congressistas na abertura do evento.
O Secretário de Educação Superior do Ministério da Educação, Nélson Maculan Filho, representando o Ministro Fernando Haddad, fechou a mesa com um discurso em defesa da Universidade pública brasileira e também da extensão nas Academias.
“Nossas universidades necessitam demais da extensão para se tornarem cada dia mais fortes. Para isso, a cooperação internacional, a extensão e tudo o que foi falado aqui são fundamentais”, afirmou.

Cooperação Internacional: um tema em destaque no desenvolvimento da extensão universitária

Um dos assuntos mais discutidos nos três dias de encontro no Othon Palace foi o papel da cooperação internacional no desenvolvimento das universidades ibero-americanas. Na mesa-redonda sobre o tema, mediada pela professora Laura Tavares, a presidente do Fórum das Assessorias das Universidades para Assuntos Internacionais (FAUBAI), Luciane Stallivieri, falou da importância do desenvolvimento de uma maior cooperação entre as universidades nacionais e internacionais.
“A extensão passa por um momento de reformulação de seus fundamentos e atividades. A cooperação internacional exerce um papel fundamental nesse processo de reflexão e de busca de maiores impactos nas atividades de extensão cultural, de difusão de valores e de vínculos com a sociedade. É preciso uma maior projeção da universidade no exterior, ao mesmo tempo em que temos de trazer outras culturas para dentro do campus”, afirmou.
Apesar de todo o clima favorável sobre a integração com as universidades estrangeiras, algumas ressalvas foram levantadas pelos debatedores. Para a professora Malvina Tuttman, reitora da UNI-RIO, os alunos precisam participar mais desse processo de integração com as universidades internacionais.
“Os alunos da graduação precisam participar desse processo de internacionalização. Caso contrário, ela pode virar um privilégio para poucos, como acontece hoje com a pós-graduação e com a pesquisa”, afirma. Já para Laura Tavares, é preciso que haja uma distinção entre globalização e universalização a fim de que as universidades não se isolem mais do que já estão.
“Alguns convênios internacionais reproduzem uma ilha de isolamento e fragmentação entre nossas universidades. Cada um faz o seu convênio, tenta o seu contato internacional e no final, usa o laboratório como se fosse seu. Espero que a extensão, e esse debate, sejam elementos de ruptura dessa ilha. Se não tivermos essa distinção, continuaremos sendo mais colonizados do que autônomos e criativos”, afirmou.
Sobre a extensão na UFRJ, a pró-reitora fez uma análise bastante contundente, afirmando que o seu maior objetivo no um ano e meio de gestão que ainda tem pela frente é integrar, ainda mais, as universidades do Rio de Janeiro.
“Temos o maior parque de universidades públicas do Brasil, mas ainda somos muito isoladas umas das outras. A UFRJ ainda está na lanterninha em matéria de extensão; tem muito o que aprender com as outras co-irmãs nessa área. Meu maior objetivo na pró-reitoria de extensão é integrar ainda mais a UFRJ com as outras universidades”, afirmou a professora.
O VIII Congresso Ibero-americano de Extensão Universitária teve a participação de mais de 20 países, com um total de 1208 trabalhos inscritos, sendo 663 completos e 545 resumos, de autores de diversas instituições de ensino superior de todas as regiões brasileiras e de outro países ibero-americanos. Deste total foram selecionados 104 trabalhos para a modalidade de apresentação oral e 985 para apresentação em pôster.