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Hemofilia na mira dos pesquisadores

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agencia1816T.jpgHemofilia: na mira dos pesquisadores

A Hemofilia é uma doença caracterizada pela dificuldade na coagulação do sangue, devido à ausência hereditária de determinados fatores sangüíneos fundamentais ao processo de coagulação. Na UFRJ, pesquisas são realizadas com o objetivo de solucionar a insuficiência dos fatores de coagulação sangüínea. Um dos estudos é feito pelos professores Ricardo Medronho, da Escola de Química, e Leda Castilho, da COPPE, e pelas alunas Catarina Silveira, Fernanda Petrocínio e Joana Braga, e tem por objetivo estudar o processo de produção de Fator VIII recombinante.
O Fator VIII recombinante pode ser obtido a partir da cópia do gene que codifica o Fator VIII em uma célula humana e da sua introdução em uma célula da linhagem CHO. Essa célula produz proteínas com estrutura muito semelhante à de proteínas humanas e, de acordo com a professora e pesquisadora Leda Castilho, é uma linhagem celular muito estudada e considerada segura para a produção de proteínas recombinantes de uso terapêutico.
— Das proteínas recombinantes de uso terapêutico, normalmente conhecidas como biofármacos, a primeira a ser aprovada em 1987 para comercialização no mundo, foi aquela conhecida como t-PA (ativador de plasminogênio tecidual), usada no tratamento do infarto agudo do miocárdio. Desde então, já existem cerca de 40 biofármacos aprovados, e centenas de outros encontram-se em testes clínicos, podendo ser aprovados nos próximos tempos — disse a professora.
A pesquisa sobre Fator VIII recombinante no Brasil surgiu com o lançamento, pelo governo federal, no primeiro semestre de 2001, da Rede Brasileira de Clonagem e Expressão de Fator VIII, formada por laboratórios de Ribeirão Preto, São Paulo, Brasília e Porto Alegre, e destinada a obter a célula produtora do Fator VIII recombinante.
O trabalho da UFRJ, orientado pelos professores Leda Castilho e Ricardo Medronho, tem por finalidade estudar a viabilidade de, utilizando uma célula produtora, implantar uma planta industrial com capacidade para suprir a demanda brasileira por Fator VIII. Os resultados do estudo mostram que, economicamente, esta planta é altamente promissora, permitindo a produção de Fator VIII recombinante por valores inferiores aos pagos pelo governo federal em licitações internacionais para compra de Fator VIII hemoderivado (não recombinante).
Mesmo com a futura implantação de uma fábrica de hemoderivados no Brasil (Hemobras), o país ainda necessitaria importar Fator VIII. Hoje, o Brasil recebe cerca de 3,5 milhões de doações de sangue por ano, o que corresponde a 400 mil litros de plasma. Entretanto, apenas 150 mil litros podem ser aproveitados, pois para fracioná-lo em produtos hemoderivados é preciso ter um elevado padrão de qualidade, que ainda não é atingido em todo o País.
— A vantagem é que o Fator VIII recombinante tem disponibilidade infinita. No Brasil, quando a planejada Hemobras estiver em pleno funcionamento, vai conseguir produzir 40% do Fator VIII de que o país precisa. A fábrica de Fator VIII recombinante pode produzir 100% e ainda pode exportar — disse Luiz Amorim, do Hemorio e professor da UFF.
De acordo com a pesquisa da UFRJ, estima-se que o Brasil tenha hoje cerca de seis mil portadores de hemofilia A. O governo gasta por ano 60 milhões de dólares com a importação do Fator VIII e, segundo o professor Ricardo Medronho, uma planta para produção de Fator VIII recombinante que atenda toda a demanda nacional, requereria um investimento inicial de apenas 22% do valor gasto anualmente pelo Brasil com a importação.

Fator IX e G-CSF

O Laboratório de Engenharia de Cultivos Celulares (LECC), do Programa de Engenharia Química da COPPE, em associação com pesquisadores da Escola de Química, do Instituto de Química e do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ, está pesquisando duas outras proteínas recombinantes para uso terapêutico: o Fator de Coagulação Sangüínea IX, cuja deficiência causa a hemofilia B, e o Fator Estimulante de Colônias de Granulócitos (G-CSF), utilizado no tratamento de pessoas com deficiência de glóbulos brancos. Os pesquisadores estão trabalhando no desenvolvimento de células recombinantes produtoras dessas proteínas.
De acordo com os pesquisadores, o G-CSF é o segundo biofármaco mais vendido no mundo, por ser aplicado principalmente em pessoas com câncer, tratadas com quimioterapia. A utilização do G-CSF também está sendo testada em pacientes com AIDS, devido à sua imunodeficiência.
— No caso do Fator VIII, foi um estudo teórico voltado para uma análise da produção em escala industrial e de sua viabilidade econômica. Nós não estamos fazendo, em Fator VIII, trabalho experimental de pesquisa em laboratório. Outros laboratórios financiados pelo governo estão fazendo esse estudo. Embora o Fator VIII tenha um consumo mais elevado do que o Fator IX, optamos por trabalhar com este último, para não duplicar o trabalho. No laboratório, estamos desenvolvendo estudos sobre clonagem e expressão do Fator IX e do G-CSF, para que tenhamos as células e possamos desenvolver a tecnologia para a obtenção destes biofármacos em larga escala — disse a professora Leda.
No caso do G-CSF, estudo realizado também sob orientação dos Profs. Leda Castilho e Ricardo Medronho já havia demonstrado que a produção industrial deste biofármaco no Brasil é de elevada viabilidade técnica e econômica. A obtenção em laboratório da célula produtora é um pré-requisito para a produção industrial, e é nisto que os pesquisadores estão trabalhando.