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UFRJ sedia debate de candidatos à prefeitura do RJ

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O Forum de Ciência e Cultura da Universidade Federal do Rio de Janeiro promoveu nos dias 1 e 2 de setembro, no auditório Pedro Calmon, debates com os candidatos a prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. Para a primeira semana foram convidados os cinco candidatos mais bem posicionados pelo IBOPE, mas apenas confirmaram presença os deputados Bittar (PT) e Jandira Feghali (PC do B) e o vice-governador Luiz Paulo Conde (Frente Popular), que no dia marcado não compareceu ao evento declarando falta de quorum. A assessoria de imprensa do atual prefeito César Maia (PFL) alegou agenda cheia e o deputado Crivella (Partido Liberal) não respondeu ao convite. No dia 15 será a vez do candidato do PSTU, Otacílio Ramalho.
O primeiro candidato foi Bittar, que falou da atual conjuntura do governo Lula, que iniciou o mandato político coberto de expectativas, mas que acabou ‘herdando um grande abacaxi’, já que o Risco Brasil (percepção dos credores sobre a capacidade do Brasil honrar suas dívidas) estava em 2400 pontos e hoje está com 500 pontos. Segundo ele, a economia brasileira está traçando uma trajetória virtuosa de crescimento, e para isso continuar é necessário criar condições para dinamizá-la, o que não é dever apenas do Governo Federal, mas também das prefeituras. É preciso gerar as arrecadações necessárias para fazer os investimentos fundamentais que criem condições de um governo sustentável, e isso significa investir em outros setores que estão sem incentivos, como o setor de transporte hidroviário e ferroviário, de energia e da indústria química, que há anos não se investe.
Bittar fez críticas a atual economia do Estado do Rio de Janeiro, onde a realidade econômica é mascarada pela produção de petróleo na Bacia de Campos e da sede da Petrobras ser instalada aqui. “Nenhuma economia se forma apenas por um dos seus pilares, por mais importante que seja a economia do petróleo, ela nunca gerará empregos e benefícios que dêem conta de todas as necessidades. Nós temos muitos centros de excelência nas universidades que podem gerar produtos e serviços da nossa população”.
O candidato destacou a importância da indústria cultural e da moda e da construção naval, de serviços em geral e do setor financeiro no Rio de Janeiro, que podem gerar emprego se forem bem exploradas. Para ele, o que falta é política específica do Estado e do município para desenvolver esses setores. “A prefeitura está isolada, é incapaz de dialogar com o Governo Estadual e não tem projetos. O nosso prefeito é um síndico, que aplica o dinheiro no mercado financeiro para investir em construções no último ano de mandato. Quero criar uma agência municipal de investimentos da cidade do Rio de Janeiro, ligada ao Governo do município, com parcerias públicas e privadas, que possa criar estímulos e um ambiente econômico que seja estimulante para o desenvolvimento, o que ajudará na criação de pequenas e médias empresas”, afirma Bittar.
Entre as carências da cidade do Rio de Janeiro, destacou a fraca atividade portuária e a ausência de desenvolvimento urbano nessas áreas, que podem ser usadas para moradia e também para investimento cultural, com pólos de gastronomia e audiovisuais, o que enriqueceria o turismo local. Bittar culpou o atual prefeito, que ao invés de investir em um grande centro cultural que expressasse a cultura brasileira, queria construir um Guggenheim, que seria um prédio caro e sem acervo próprio.
Uma outra crítica muito comentada foi que durante esses doze anos (governou por dois mandatos e elegeu um sucessor), César Maia não conseguiu organizar os meios de transporte, que estão cada vez mais caros, o que aumentou o número de favelas. “Ninguém mora em favelas porque quer, mas esse tipo de moradia é a solução para muitos que trabalham longe de suas casas e não podem gastar tanto com transportes. A taxa de crescimento é de 2,4% ao ano, enquanto da população do asfalto é de 0,4%. O processo bairro-favela está sendo maior que o projeto Favela Bairro”, explicou o candidato do PT.
A proposta é uma nova política de transporte, com a implantação de um bilhete único, onde durante duas horas as pessoas possam usá-lo, pagando uma passagem. Isso permitiria que as pessoas pudessem morar em lugares mais longes, mas em melhores condições. A prefeitura ofereceria também casas populares de boa qualidade, aproveitando os vazios urbanos, construindo em quatro anos, 100 mil casas, em locais com infra-estrutura. Seriam usados recursos do Ministério da Cidade, da Caixa Econômica Social e da própria Prefeitura.
Quando perguntado sobre o passe-livre para estudantes, disse que a prefeitura deve controlar as empresas de ônibus e não apenas a SMTU. Esse mecanismo deverá controlar o número de ônibus e passageiros que circulam, para ver se o preço da passagem está ultrapassando a margem de lucro dessas empresas, provando a viabilidade da permanência dos passes-livres. Foi ressaltada também a expansão das linhas do metrô, que seriam feitas através de parcerias, o que atrairia recursos privados e federais.
Um outro programa previsto é o Saúde-família, que segundo ele tem uma visão humanística de levar a saúde para comunidades carentes, em um total de 300 equipes. No projeto, que será cuidado por especialistas da área de saúde, está prevista a recuperação dos postos de saúde, acabar com as cooperativas e a informatização dos hospitais para regular os leitos disponíveis.
Em relação à educação, o candidato falou da criação dos CEUs (Centros Unificados de Educação), projeto que deu certo na cidade de São Paulo, onde seriam reformados os cieps, criando um pólo de referência em cada região. As crianças estudariam em tempo integral, seriam bem alimentadas e estariam em contato com cultura e o esporte.
Bittar disse que pretende aplicar na cidade do Rio de Janeiro as experiências bem sucedidas do modo petista de governar.
No segundo dia de debate, a candidata Jandira Feghali, antes de falar especificamente de suas propostas, preferiu localizar algumas questões que ela considera importante no atual momento eleitoral. Ela começou a falar sobre a importância de eventos que atraiam os jovens para a política, já que tem reparado que entre os jovens universitários, normalmente os mais politizados, há uma grande parcela que não se interessa. Para Jandira, esse desinteresse é resultado de desapontamentos, da grande confusão do papel da esquerda, que parece estar desorientada, sem créditos e esperanças. Isso leva a desistência da participação política, sendo, portanto, um enorme retrocesso. Para se fazer política é preciso ter ideologia, uma base de valores que a faça ser mais justa, essa parcela da universidade precisa ter outras referências da política, e não apenas a visão errada.
A candidata alertou que a cidade do Rio de Janeiro está isolada politicamente há mais de uma década pelo mesmo grupo político. Afirmou que a prefeitura é distante das prefeituras municipais, esquecendo que os aspectos metropolitanos estão interligados. Não há a presença de um vetor democrático para interferir na gestão e nenhum conselho de controle social que funcione. Segundo ela, nem mesmo empresários que querem investir na cidade, o que acaba por gerar empregos, são ouvidos.
Jandira destacou a importância em atrair investimentos, favorecer pequenas e médias empresas e reavaliar a tributação, já que a cidade está perdendo empregos não só para São Paulo, mas também para o interior do Rio de Janeiro. Entre as áreas que poderiam ter maiores incentivos estão a cultura, a indústria naval e a marinha mercantil. As duas últimas não receberam nenhum investimento da prefeitura, e não há interesse em garantir uma parceria com o Governo Federal para revitalizar o porto do Rio de Janeiro. “O prefeito vai com orgulho para a televisão dizer que a prefeitura tem um bilhão em caixa. Era para ter vergonha, com tantos hospitais sem remédios, escolas sem merendas e uma economia fraca incapaz de gerar empregos. O dinheiro é do contribuinte, não é favor nenhum executar a política pública”, destaca a candidata do PC do B.
Ela fez críticas aos candidatos que buscam o voto pelo marketing e não através da consciência do eleitorado, gastam muito dinheiro com a campanha e com muito tempo na televisão. E ressaltou que mantêm a sua coerência política, como, por exemplo, não ter votado a favor da atual Reforma da Previdência.
No seu programa de governo, a saúde é prioridade, e entre os projetos está: a política de uma saúde preventiva; centros de referência para tratamento de dependentes químicos e idosos; amplo funcionamento dos postos hospitalares, com funcionamento em três turnos e ambulâncias 24 horas, especialmente em regiões populosas e distantes da emergência hospitalar.
Jandira fez críticas ao bilhete único de duas horas, que é pouco tempo para uma pessoa que mora longe de seu trabalho. Essa política é solução na cidade de São Paulo, por causa da extensão do transporte em massa. No Rio de Janeiro, não existe integração entre os meios de transportes, além do metrô não possuir muitas linhas e ser caro. Para ela, o que deve ser feito é dar prioridade à implantação, em parceria, do transporte de massa sobre trilhos, aumentando o seu conforto e rapidez; legalizar e ordenar os meios de transportes alternativos; incentivar o transporte aquaviário, o que desafogaria o trânsito; desenvolver um forte subsídio com o poder público, conter a corrupção da SMTU, para que possa valer os passes-livres de estudantes e idosos durante 24 horas, entre outros.
Em relação ao Pan, afirmou ser necessária uma reformulação da estratégia, já que as obras estão concentradas apenas na Barra da Tijuca, tornando o projeto uma visão fragmentada da cidade, já que trata-se de um evento de grande porte, aonde a cidade deveria estar ligada de norte a sul, para que ao acabar, possa deixar melhorias.
Um ponto questionado foi a falta de negociação com o Governo Federal, que detêm metade das terras públicas do Rio de Janeiro, que serviriam para abrigar moradores de rua e também construir pólos culturais, que gerariam empregos. Segundo Jandira, a educação, principalmente a fundamental é de responsabilidade da prefeitura, que atualmente reduziu o orçamento da merenda. Em seu projeto estão: a criação de centros integrados para a juventude, com atividades para a comunidade de idade fundamental (0-14 anos); a reintegração das crianças às suas famílias; a recuperação da educação integrada (arte e esporte); ensino profissional e técnico e projetos com parceria das universidades.
Na área da segurança, Jandira explicou que pobreza não é questão apenas da polícia, mas acima de tudo é um traço de violência. É necessária a presença de uma secretaria que avalie a política educacional, atuando de forma preventiva. E além dessa secretaria, a criação de um conselho de fiscalização da câmara municipal e parlamentar, para que haja transparência nos orçamentos públicos, voltados para a segurança e para todas as outras áreas. “A política no final das contas, só faz sentido, se as pessoas possam ser felizes. Nós temos que saber para quê serve o poder e para quem ele é utilizado. E eu digo isso em todos os lugares, que eu posso ser a prefeita de todos, mas não de todos os interesses. E é por isso que não temos muito dinheiro para campanha, mas isso permite que possamos fazer um governo correto”, finaliza Jandira.