Causa principal de morte entre brasileiros, as doenças cardiovasculares são responsáveis por cerca de 30% dos óbitos no país, sendo o acidente cardiovascular encefálico e o infarto agudo do miocárdio os mais freqüentes. A idéia de se criar um modelo matemático é de um grupo de pesquisadores da UFRJ que, através da combinação de fatores de risco — obesidade, stress, fumo etc — e fatores genéticos, pretendem determinar a predisposição do indivíduo a sofrer uma dessas doenças.
Os professores Edson Rondinelli (Instituto de Biofísica), Nelson Souza e Silva (Faculdade de Medicina) e Edmundo Albuquerque de Souza e Silva (Instituto de Matemática) fazem jus à proposta do papel da universidade: produção e difusão de conhecimento através da interdisciplinaridade. Os três docentes, juntamente a alunos de pós-graduação, estão trabalhando em um projeto pioneiro para a área cardiovascular, baseado no modelo preditivo de Markov, que seria capaz de diagnosticar aqueles pacientes susceptíveis a doenças cardiovasculares. Um outro modelo, o “multivariado”, já é bastante utilizado para este mesmo propósito desde a década de 60, no entanto, o novo modelo traz vantagens, dentre as quais, a utilização de variáveis genéticas, admitindo variáveis não normais, e o estudo de maneiras pelas quais os genes interagem com o meio ambiente. “O Setor de Pesquisa Clínica, do Programa de Pós-Graduação em Ciência Médica, serve para estudar e desenvolver novos modelos, além de investigar tais interações clínicas entre fatores ambientais e a genética”, diz o médico e professor Nelson Souza e Silva.
Segundo Nelson Souza e Silva, um dos fatores de risco de grande relevância nem sempre lembrado é o sócio-econômico. Desde 1990, um grupo de alunos do Programa de Pós-Graduação desenvolve estudos com a população da Ilha do Governador, financiados pelo CNPq, em que foram entrevistadas 1.272 pessoas, demonstrando que a prevalência dos fatores de risco na nossa população é bastante alta; mais ainda do que nas populações ocidentais em geral. Todos os estudos posteriores mostraram a mesma coisa, ou seja, uma prevalência acima de 30% no Brasil. Segundo o professor Edson Rondinelli, “a segunda parte do projeto já está em andamento e engendra o estudo em trabalhadores do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento da Petrobras (CENPES), a fim de se ampliar o estudo, levando em conta intervenções como dieta alimentar, prática de esportes e medidas anti-tabagistas”.
Dr. Nelson explica o modelo dizendo que ele “caracteriza o indivíduo como pertencente a um estado saúde´ ou a um estado doença´, ou ainda, a um estado morte´, de acordo com os símbolos que ele emite — colesterol, pressão, pertencimento a determinada classe social — e por sua composição genética. Ao longo do tempo, no entanto, o indivíduo pode evoluir de um estado para outro, podendo até, melhorar seu nível de saúde”. Já de posse dessas informações, os especialistas poderiam modificar seus enfoques terapêuticos a fim de se obter melhores resultados nos tratamentos.
Os pesquisadores escolheram um marcador genético — o gene angiotensinogênio — que se subdivide nos genótipos MM, MT e TT e o estudaram em pacientes do Hospital Universitário, associando-os aos fatores de risco e concluíram que é a união entre os fatores genéticos e os de risco que determinam a manifestação da hipertensão. Dr. Nelson exemplifica dizendo que “a combinação de uma mulher MM e com colesterol alto é diferente de um homem MM e também com colesterol alto. Isso mostra que o gene depende da combinação para determinar, ou não, um indivíduo hipertenso”.
O estudo está sendo utilizado pela Faculdade de Medicina e tem obtido resultados animadores. Uma conseqüência prática do modelo é saber como melhor intervir nos pacientes que apresentam riscos de desenvolver doenças cardiovasculares. “Se um indivíduo possui altas taxas de colesterol, mas as probabilidades dele desenvolver um evento são poucas, não vale a pena intervir, por exemplo”, explica Dr. Nelson.
ENTREVISTADOS
– Dr. Nelson Souza e Filho: professor titular de cardiologia da faculdade de medicina FOTO
– Prof. Edson Rondinelli: professor do departamento de Clínica Médica e do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho